

Você já se viu com a mente completamente em branco, incapaz de retomar o fio da meada? Embora possa parecer que seu cérebro está simplesmente parando, na verdade, ele está vivenciando um fenômeno fascinante semelhante ao sono.
Pesquisas recentes revelam que esses lapsos mentais podem refletir momentos em que certas áreas do cérebro “adormecem”, alterando temporariamente a maneira como processamos as informações.
Uma melhor compreensão desse estado poderia não apenas explicar o que acontece quando nossa mente fica sem conteúdo, mas também nos ajudar a entender outros fenômenos relacionados ao sono, à meditação e até mesmo a certos distúrbios cognitivos.
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O que exatamente acontece no nosso cérebro quando ficamos em branco?
Dormir parece simples, mas é um dos processos mais complexos e necessários que nosso cérebro realiza diariamente. Quando adormecemos, nosso cérebro não "desliga", mas entra em uma série de ciclos e fases com funções específicas.
Nessas fases, ocorrem fenômenos surpreendentes, como a consolidação da memória, a restauração energética, a regulação emocional e a limpeza de toxinas acumuladas ao longo do dia. Nesse sentido, ficar em branco enquanto estamos acordados pode estar conectado a mecanismos semelhantes aos que vivenciamos durante certos estágios do sono.
O que a ciência diz?
Usando técnicas avançadas de ressonância magnética funcional (fMRI) e eletroencefalograma (EEG), pesquisadores observaram que, quando as pessoas ficavam em branco, havia uma redução repentina na atividade cerebral, semelhante à observada durante o sono profundo, caracterizada pela presença de ondas lentas.
Essas ondas lentas podem indicar que certas áreas do cérebro estão diminuindo temporariamente sua eficiência, o que explicaria aqueles breves, mas desconcertantes momentos em que a mente parece parar completamente.
Athena Demertzi, diretora do Laboratório de Fisiologia da Cognição da Universidade de Liège (Bélgica), afirma que essas experiências de ficar em branco podem compartilhar mecanismos com outros estados mentais, como os sonhos brancos (sonhos sem conteúdo aparente) ou certos estados meditativos.
Thomas Andrillon, pesquisador do Instituto do Cérebro de Paris e coautor do estudo, acrescenta que essas situações tendem a aumentar em condições estressantes ou quando há privação de sono.
De fato, em pessoas com transtornos como o TDAH, esses episódios podem ser mais frequentes devido a problemas associados à qualidade do sono, que resultam em sonolência diurna e redução na eficiência do cérebro no processamento de informações.
Uma melhor compreensão desses mecanismos é crucial, pois nos permite não apenas investigar mais precisamente como nosso cérebro funciona quando não está ativamente focado, mas também destacar a importância de nos permitir momentos de desconexão mental.
Em um mundo saturado de estímulos constantes, entender os benefícios potenciais desses breves episódios de desconexão pode nos ajudar a melhorar nossa saúde mental e cognitiva.
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