
Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.

As frutas cítricas, como laranja, limão e tangerina, são alimentos ricos em propriedades benéficas, com diversos efeitos positivos para a saúde — e agora, um novo benefício pode ser acrescentado à lista.
De acordo com um estudo recente, consumir uma fruta cítrica por dia pode reduzir em até 20% o risco de depressão. O responsável por esse efeito seria uma bactéria, que também teria impactos positivos na microbiota intestinal.
A pesquisa, publicada na revista Microbiome, concluiu que o consumo regular dessas frutas estimula o crescimento da bactéria Faecalibacterium prausnitzii (F. prausnitzii), presente no intestino humano e envolvida na produção dos neurotransmissores serotonina e dopamina — substâncias conhecidas por sua capacidade de melhorar o humor.
O estudo foi conduzido por Raaj Mehta, professor de Medicina da Faculdade de Medicina de Harvard e médico do Hospital Geral de Massachusetts, e teve início quase por acaso. Segundo contou ao The Harvard Gazette, Mehta trabalhava, há alguns anos, em parceria com o pós-doutorando Chatpol Samuthpongtorn, que buscava um novo projeto de pesquisa relacionado à depressão.
Foi então que se depararam com um artigo de 2016 que sugeria a possibilidade de que frutas cítricas poderiam reduzir o risco de depressão — o que despertou o interesse da dupla em investigar o tema mais a fundo.
Para isso, os pesquisadores recorreram ao extenso banco de dados do estudo Nurses' Health Study II (NHS2), um projeto iniciado em 1988 que reúne informações detalhadas sobre estilo de vida, alimentação, uso de medicamentos e saúde de aproximadamente 100 mil mulheres. O objetivo do estudo é identificar fatores de risco para doenças crônicas em mulheres.
Com base nesses dados, Mehta e sua equipe conseguiram encontrar evidências de que as enfermeiras que consumiam grandes quantidades de frutas cítricas apresentavam taxas mais baixas de depressão em comparação àquelas que não as consumiam com frequência.
O que os pesquisadores descobriram foi que comer uma laranja média por dia — ou uma porção equivalente de outra fruta cítrica — pode reduzir em até 20% o risco de desenvolver depressão. Essa relação não foi observada com nenhum outro tipo de fruta ou alimento de origem vegetal, apenas com os cítricos.
A partir das amostras de fezes coletadas pelas participantes, a equipe identificou uma bactéria que se destacava no conjunto: a F. prausnitzii, mais presente entre as mulheres que não apresentavam sintomas de depressão — uma associação também verificada entre aquelas com maior consumo de frutas cítricas.
“Acreditamos que essa bactéria pode estar relacionada ao elo entre o consumo de cítricos e uma boa saúde mental”, afirmou Mehta.
Em seguida, os pesquisadores buscaram confirmar os resultados também entre os homens, utilizando outra base de dados: o estudo Men's Lifestyle Validation Study, com características semelhantes ao anterior. Mais uma vez, observaram que níveis elevados da bactéria F. prausnitzii estavam inversamente relacionados ao risco de depressão.
Os pesquisadores acreditam que essas bactérias intestinais utilizam uma via metabólica para influenciar os níveis de serotonina e dopamina, aumentando sua produção. Esses dois neurotransmissores regulam o trânsito dos alimentos pelo trato digestivo, mas também podem alcançar o cérebro, ajudando a melhorar o humor e, consequentemente, a reduzir o risco de desenvolver depressão.
Embora a conexão entre intestino e cérebro venha sendo cada vez mais estudada, os autores se disseram surpresos com os resultados, já que os cítricos raramente são mencionados nas discussões sobre alimentos benéficos para a saúde cerebral. A descoberta, portanto, abre um novo caminho para a pesquisa.
Apesar de os efeitos positivos da bactéria F. prausnitzii já serem conhecidos na saúde digestiva e na prevenção de doenças inflamatórias, sua relação com a saúde mental ainda é pouco explorada.
Por se tratar de um estudo observacional, os autores reconhecem que há muitas limitações, e destacam a necessidade de novas pesquisas e ensaios clínicos que possam comprovar e aprofundar as possibilidades do uso das frutas cítricas como forma preventiva contra a depressão e outras doenças mentais — talvez até como complemento às terapias e aos medicamentos já utilizados no tratamento desses transtornos.
“Espero que nossos resultados inspirem outros pesquisadores a estudar a relação entre dieta e saúde mental”, conclui Mehta.
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