
Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.

Consumir multivitamínicos em forma de suplementos alimentares como complemento à dieta não tem efeito sobre a longevidade de pessoas saudáveis. Essa é a conclusão categórica de um amplo estudo conduzido por cientistas dos Estados Unidos, segundo o qual tomar vitaminas e minerais fora da alimentação não reduz o risco de mortalidade.
O interesse por complexos multivitamínicos não é recente, mas, na Europa, sua relevância tradicionalmente não foi tão grande quanto no mercado norte-americano. No entanto, a oferta e a demanda por esses suplementos cresceram consideravelmente nos países europeus nos últimos anos, num movimento paralelo à crescente preocupação da população com bem-estar e saúde. Trata-se ainda de um mercado bastante lucrativo, que movimentou 2 bilhões de euros em 2023.
No entanto, apesar de estarem à venda em farmácias, esses complexos não são considerados medicamentos nem são regulados como tais, podendo ser comercializados sem a necessidade de passar por ensaios clínicos que comprovem sua eficácia. Na Europa, eles são regulamentados como alimentos e precisam apenas da autorização da EFSA no que diz respeito à segurança alimentar.
A venda e distribuição desses produtos é cercada de polêmicas e gera muita controvérsia na comunidade científica, envolvendo médicos, nutricionistas e especialistas em dietética. Isso porque, até o momento, não havia estudos científicos robustos capazes de confirmar ou refutar os supostos efeitos benéficos do consumo habitual desses suplementos.
Pelo contrário: a opinião predominante entre os especialistas é considerá-los “inúteis” diante de uma alimentação equilibrada e saudável, baseada em comida de verdade — e não em comprimidos.
Agora, um grupo de cientistas norte-americanos, liderado pela pesquisadora Erikka Loftfield, acaba de publicar um estudo abrangente que investiga se o uso de multivitamínicos está associado a uma menor mortalidade.
O trabalho, intitulado Multivitamin use and mortality risk in 3 prospective US cohorts (“Uso de multivitamínicas e risco de mortalidade em três coortes prospectivas dos Estados Unidos”), é um dos mais completos já realizados até hoje, ao analisar dados de mais de 390 mil pessoas ao longo de 20 anos, em três diferentes coortes norte-americanas.
Os resultados, publicados na revista JAMA Network Open, concluem que a ingestão diária de multivitamínicos não reduz o risco de mortalidade e, portanto, também não está associada a efeitos positivos na longevidade de pessoas saudáveis. Em outras palavras, tomar suplementos de vitaminas e minerais fora da alimentação, em indivíduos saudáveis, não serve para nada — a não ser para gastar dinheiro.
Na avaliação de Maira Bes-Rastrollo, co-coordenadora do grupo de trabalho de Nutrição da Sociedade Espanhola de Epidemiologia (SEE) e professora catedrática de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade de Navarra — cuja reação ao estudo foi divulgada pelo SMC Espanha —, “os resultados são claros quanto à falta de eficácia do consumo diário de multivitamínicos para prevenir a mortalidade”, e ela destaca ainda a solidez da metodologia utilizada na pesquisa.
A opinião é compartilhada por Miguel Ruiz-Canela, também catedrático e diretor do Departamento de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade de Navarra, que, por meio do SMC, afirmou: “os resultados são suficientemente robustos para recomendar à população que não consuma esses complexos, a menos que haja uma deficiência nutricional específica e sob supervisão de um profissional de saúde”.
Diante desses resultados, ambos os especialistas reforçam a importância de seguir as recomendações gerais de alimentação e estilo de vida saudável para quem deseja manter a saúde e o bem-estar a longo prazo — já que esse é o único caminho respaldado por evidência científica.
Ou seja: alimentação equilibrada, prática de atividade física, controle do estresse e sono de qualidade. Como destaca Ruiz-Canela, “dá mais trabalho do que tomar uma pílula, mas é a única medida realmente eficaz”.
“Se a intenção é ganhar saúde, faz mais sentido gastar o dinheiro dos suplementos vitamínicos em uma boa cesta de compras, com produtos frescos, locais e da estação, que ajudem a manter uma dieta mediterrânea saudável e contribuam com a sustentabilidade necessária do meio rural”, conclui Bes-Rastrollo.
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