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Eles fazem um sucesso tremendo e provocam muita discussão: de um lado, os que mantêm na cabeceira pilhas de livros de auto-ajuda, incluindo vários lançamentos. Do outro, há quem nem passe perto deles, com medo não se bem de quê. Entre os dois, no entanto, uma coincidência: o poder que as idéias contidas nesse tipo de literatura representam nos dias de hoje.
"A linguagem simples e a abordagem de problemas comuns na rotina de muita gente explicam parte do sucesso dos livros e auto-ajuda , afirma o coach e psicoterapeuta Plínio Souza, da consultoria Ápice Desenvolvimento Humano. Quem não tem condições de fazer um curso ou contratar um profissional para resolver certas questões encontra apoio nesses livros. É uma forma barata e acessível de conseguir melhorar ."
Há profissionais que ficam incomodados com o sucesso do gênero. Outros, em contrapartida, reagem aderindo ao modelo. É o caso do psicoterapeuta Flávio Gikovate, autor de 25 livros sobre conflitos íntimos e, ao mesmo tempo, com uma trajetória reconhecida pelos pesquisadores. "Se precisa escrever um artigo no jornal, ajudando as pessoas a lidarem com dificuldades afetivas, ele escreve. Mas se é convidado para dar uma palestra numa universidade, o Flávio também faz isso com muita propriedade" , exemplifica Plínio.
As fórmulas simples e as dicas que chamam à prática são ingredientes que fazem das fórmulas de auto-ajuda uma alternativa acessível a todo tipo de paciente. Depois de entrar em contato com as lições apresentadas nos capítulos, basta colocá-las em prática no seu ritmo e segundo sua interpretação. O mecanismo vale para as obras de organização financeira, administração do tempo ou dificuldades de relacionamento.
O perigo, por sua vez, está em imaginar que dá para resolver questões profundas apenas com base na leitura. "Isso é ilusão. Não dá para se tratar sozinho, há necessidade de um acompanhamento que direcione o processo e saiba conduzi-lo de forma segura, sem provocar ainda mais sofrimento" , afirma o psicoterapeuta da Ápice Desenvolvimento Humano.
Como os livros não falam com uma pessoa, especificamente, mas com um grupo que enfrenta um problema comum, as soluções acabam sendo generalistas. E cabe a cada um aproveitar a parte que lhe convém. "Só que, muitas vezes, o paciente não sabe como escolher. E pode ficar ainda mais confuso em vez de encontrar conforto" , diz Plínio.
Por isso, é preciso tomar cuidado com as categorizações. Os livros que tentam, a todo custo, enquadrar você num perfil merecem uma leitura duplamente atenta. "Você pode se encaixar num perfil que não é o seu: ansioso, autoritário, submisso são alguns exemplos de papéis que geram uma identificação quase imediata entre a maioria das pessoas. Todos têm traços de submissão, por exemplo. Mas isso não quer dizer que eu seja uma pessoa submissa" , diz o psicoterapeuta. Ou seja, em vez de fomentar a mudança, o livro justifica as atitudes que levam a esse tipo de comportamento.
Só não pense nisso como regra. Muitas vezes, as identificações que os livros de auto-ajuda provocam, realmente, trazem mudanças que refletem um processo de autoconhecimento. "São pitadinhas de sabedoria que até servem de gatilho para muitos pacientes buscarem ajuda de um terapeuta ou de um consultor. É provável que, sem as idéias extraídas da leitura, essa pessoa nem desconfiasse que o problema dela dispõe de solução, não é permanente" , afirma Plínio. "O livro faz você questionar suas crenças, suas verdades. E também serve de gatilho para você perceber que é possível mudar. O apoio de um profissional age diminuindo o medo que muita gente tem de enfrentar o desafio" .
As indicações do especialista
Fora do grupo que olha os livros de auto-ajuda com cara feia, o psicoterapeuta Plínio Souza até indica a leitura para seus pacientes, em algumas situações. A seguir, ele lista três dos Best-sellers que fazem parte da listinha de leituras de apoio ao tratamento terapêutico.
1.Co-dependência nunca mais
Melody Beattie; Editora Record
O livro é voltado para pessoas que convivem com viciados em álcool e em drogas, ensinando como lidar com o stress e a ansiedade que esse tipo de situação provoca.
2.Organize-se num minuto
Donna Smallin; Editora Gente
Em forma de dicas simples e práticas, o livro oferece soluções para pessoas ocupadas que precisam de organização para ganhar tempo na correria diária.
3.Conversando com Deus
Neale Donald Walsch;
Na série livros, o autor propõe um diálogo com Deus, discutindo temas como saúde, amor e fé sob um ponto de vista que foge aos determinismos religiosos e aproxima o debate dos conflitos típicos dos dias de hoje.
Aposte nos livros de auto-ajuda para...
Autoconhecimento: os livros podem render o primeiro passo, desde que você esteja disposto. Pegue um título de um assunto que interessa e leia sem preconceitos. Sem dúvida, você vai fazer reflexões que motivam mudanças de atitude e de pensamento.
Alívio: numa situação de sofrimento, as palavras de conforto que os livros trazem podem ser de grande ajuda. É uma alternativa que se adapta à sua agenda (dá para ler o livro em qualquer minuto de folga) e ao seu bolso.
Atualização: principalmente as obras internacionais trazem muitas idéias que ainda não fazem parte do dia-a-dia dos brasileiros. É o caso dos livros sobre planejamento financeiro, por exemplo. Os temas tornaram-se populares graças aos livros de auto-ajuda e, hoje em dia, fazem parte até da grade escolar em alguns colégios.
Ao folhear as páginas, evite...
Se enquadrar num perfil que não é o seu, procurando problemas inexistentes. Os livros foram escritos para descrever uma situação, e não solucionar o seu caso em específico. Vá com calma e não pense duas vezes em procurar ajuda de um profissional caso sinta que há necessidade.
Empurrar os problemas para a frente. Na leitura, o enredo se encaminha para que tudo dê certo, mas no dia-a-dia as variáveis são outras. Sem dúvida, ocorrem pequenas melhoras com o conhecimento que você obtém dos livros. Mas nada de se contentar com pinceladas de tranqüilidade. A transformação profunda demanda tempo e disposição.
Tornar-se dependente dos conselhos que esse tipo de livro traz. Há quem precise consultar guias até para escolher que tipo de roupa vai usar. Menos! Os livros devem ser encarados como ferramenta para transformação, e não muleta na hora de tomar decisões. Se sentir que sua autonomia está em risco, respire fundo e evite recorrer aos livros de auto-ajuda por uns dias.