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A não ser depois de uma bebedeira, pouco se ouve falar na importância do fígado para o bem-estar do seu organismo. Mas essa glândula tem papel fundamental para o sucesso do seu regime e para o metabolismo das gorduras do seu corpo, principalmente na regulação dos níveis de colesterol. Quando ela trabalha mal, pode apostar: a dificuldade de emagrecer vai tirar o seu sono e a chance de suas artérias entupirem é enorme. Na entrevista que você lê abaixo, a gastroenterologista. Lilian Curvelo, do Lavoisier Medicina Diagnóstica, fala com detalhes sobre a ação do fígado no processo de perda de peso e ensina você a reconhecer se é hora de buscar um especialista e investigar se anda tudo bem com sua saúde.
Qual a ação do fígado em relação à reserva de energia para o organismo?
O fígado é a maior glândula do nosso organismo. Ele produz, estoca e transforma substâncias vitais ao corpo, sendo responsável pelo metabolismo de carboidratos, aminoácidos, ácidos graxos (gorduras) e enzimas necessárias para digestão e função vital do organismo. Além disso, serve como sistema regulatório primário das energias provenientes do metabolismo do organismo, ou seja, ele recebe e processa os nutrientes provenientes da dieta e, após a metabolização, distribui para os outros tecidos extrahepáticos (fora do fígado).
O órgão tem algo a ver com a aparência inchada de algumas pessoas?
O fígado não nenhuma relação com a aparência inchadas pessoas. Só os pacientes portadores de cirrose hepática podem evoluir com ascite (água na barriga) e edema de membros inferiores.
A eliminação de toxinas está relacionada também ao fígado?
Cerca de 70% do sangue hepático e está repleto de substâncias cheias de toxinas. Estas toxinas são metabolizadas no fígado e, após serem depuradas em metabólitos menos tóxicos, caem na corrente sanguínea e são distribuídas para outros tecidos e órgãos sem toxinas.
A produção de bile é diretamente relacionada ao metabolismo de gordura?
A bile secretada pelo fígado é essencial para absorção normal de lipídios digeridos. A vesícula biliar concentra e armazena a bile, composta por ácidos sintetizados no fígado a partir do colesterol e secretados como sais biliares conjugados. O fígado secreta entre 600 e 1.200 mL de bile por dia.
Os sais biliares são formados pelas células hepáticas numa proporção de 0.6 g por dia. O precursor dos sais biliares é o colesterol, fornecido pela dieta ou sintetizado pelas células hepáticas durante o metabolismo das gorduras, e, a seguir, convertido em ácido cólico ou ácido quenodesoxicólico em quantidades aproximadamente iguais.
Mal metabolizada, a gordura acumula-se mais facilmente no organismo?
Os ácidos graxos (gorduras) provenientes da dieta, ao chegarem ao fígado, podem sofrer dois processos básicos de transformação: esterificação, originando triglicérides que, associados ao colesterol e fosfolípides, irão compor as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) que serão exportados do fígado e B-oxidação -oxidação dos ácidos graxos para fornecimento de energia. O aumento dos níveis circulantes de insulina inibe a formação de liberação de VLDL e a B-oxidação dos ácidos graxos, resultando em acúmulo de gordura na célula hepática. A gordura no fígado (esteatose) é mais freqüente entre pessoas com diabetes e pacientes com hipertrigliceridemia (50 a 55%) e obesidade (76%) e maior obesidade mórbida.
Que hábitos prejudicam a saúde do fígado?
Quem se abarrota de carnes vermelhas, manteiga, frituras e biscoitos industrializados leva para dentro do organismo um batalhão de gorduras saturada e trans. Daí, a silhueta (e o fígado) engordam.
Os vegetais são os principais reservatórios das substâncias que enfrentam os radicais livres, moléculas que podem prejudicar o corpo e o fígado. É necessário manter o rigor, aliando a dieta balanceada (rica em vegetais, carnes magras e carboidratos com baixo índice glicêmico) e a prática de exercícios físicos (aeróbicos e musculação) para emagrecer e ter uma vida saudável.
Como o fígado participa do controle do colesterol no organismo?
O fígado é o órgão central no metabolismo lipídico (colesterol, fosfolipídios e triglicérides). O colesterol é encontrado nas membranas celulares e é um precursor dos ácidos biliares e dos hormônios esteróides. É obtido por meio de síntese celular (colesterol endógeno -70%) e da dieta (colesterol exógeno- 30%). Exceto em pessoas com alterações genéticas do metabolismo do colesterol, o excesso dele no sangue resulta dos péssimos hábitos alimentares que possuímos (que são adquiridos desde a infância) e que nos levam a grande ingestão de colesterol e gorduras saturadas (geralmente de origem animal).
O colesterol endógeno é sintetizado pelo fígado, em um processo regulado por um sistema compensatório: quanto maior for a ingestão de colesterol vindo dos alimentos, menor é a quantidade sintetizada pelo fígado.
A maior parte do colesterol está ligada a lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e o restante, a proteínas de alta densidade (HDL). O colesterol ligado à LDL é o que se deposita nas paredes das artérias, quando em excesso. Por isso é denominado mau colesterol . Por outro lado, o HDL pode ser considerado o "bom colesterol", pois ele retira o LDL colesterol da parede das artérias e o transporta para ser metabolizado no fígado, como se limpasse as artérias por dentro, desempenhando assim papel de proteção contra a aterosclerose.
O fígado também tem a ver com o metabolismo das proteínas?
Após a absorção intestinal, os aminoácidos são transportados diretamente ao fígado através do sistema porta. Esse órgão exerce um papel importante como modulador da concentração de aminoácidos plasmáticos. Cerca de 20% dos aminoácidos que entram no fígado são liberados para a circulação sistêmica, cerca de 50% são transformados em uréia e 6% em proteínas plasmáticas.
Os aminoácidos liberados na circulação sistêmica, especialmente os de cadeia ramificada (isoleucina, leucina e valina), são depois metabolizados pelo músculo esquelético, pelos rins e por outros tecidos. O fígado é o órgão central do metabolismo protéico que recebe os aminoácidos provenientes da absorção intestinal através do sistema porta. Ele também regula o catabolismo de aminoácidos essenciais, com exceção daqueles de cadeia ramificada, que são degradados principalmente pelo músculo esquelético.
Que relação existe entre a resistência à insulina e o acúmulo de gordura no fíagodo?
A esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado) tem sido convencionalmente definida como acúmulo de lipídios em mais de 5% das células hepáticas, sobretudo de triglicérides. O excesso de insulina secretada no organismo por causa da resistência periférica à ação deste hormônio leva a maior entrada de ácidos graxos para as células hepáticas, assim como impede a sua oxidação ou sua liberação na forma de lipoproteínas. Com isso, esses compostos cam acumulados no fígado, resultando em esteatose. O acúmulo progressivo de ácidos graxos resulta na formação de espécies reativas de oxigênio (radicais livres) que, se não eliminados pelos sistemas antioxidantes do fígado, levariam à peroxidação lipídica. Este mecanismo pode levar à in amação: em 27% dos casos ocorre brose e, em 19% deles, cirrose hepática.