Graduada em Medicina pela Unifesp, especialista em Endocrinologia com mestrado em Endocrinologia e Metabologia, doutorad...
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O diabetes gestacional acomete 7,6% das mulheres com mais de 20 anos atendidas pelo Sistema Único de Saúde no Brasil segundo o Ministério da Saúde. A condição, caracterizada pelo aumento da glicemia durante a gestação, é causada pela resistência à insulina devido às alterações hormonais.
“Alguns hormônios produzidos pela placenta diminuem a efetividade da insulina em reduzir a glicose no sangue visando aumentar a oferta de nutrientes para o feto. Por isso, as gestantes precisam produzir mais insulina do que o habitual para controlar seus níveis de açúcar no sangue”, explica Cristina Khawali, endocrinologista e Gerente Médica de Análises Clínicas do Delboni Medicina Diagnóstica.
No entanto, algumas mulheres não conseguem atingir o equilíbrio entre a necessidade de insulina e os níveis de glicemia, desenvolvendo o quadro de diabetes durante a gestação.
“Entre os fatores de risco para essa condição estão: idade materna avançada, sobrepeso e obesidade, histórico familiar de diabetes, hipertensão arterial prévia ou pré-eclâmpsia diagnosticada na gestação atual, entre outros”, completa Cristina.
Mas, afinal, como diagnosticar o diabetes gestacional? Os mesmos exames que são feitos para identificar diabetes tipo 1 e tipo 2 são seguros para as gestantes? Quais são os valores de referência? Entenda a seguir!
Exame de curva glicêmica (ou teste de tolerância oral à glicose)
Um dos melhores exames para diagnosticar o diabetes gestacional é o teste de tolerância oral à glicose, também conhecido como curva glicêmica. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, ele pode ser feito entre a 24ª e a 28ª semana de gestação.
Para isso, são coletadas três amostras em gestantes: uma em jejum de oito horas, outra após 60 minutos e a última após 120 minutos da ingestão de 75 gramas de glicose. Os valores de referência para cada uma das amostras são:
- Em jejum: menor ou igual a 92 mg/dL (miligramas por decilitro)
- Glicemia após 1 hora: menor ou igual a 180 mg/dL
- Glicemia após 2 horas: menor ou igual a 153 mg/dL
Para valores acima dessas referências, o diagnóstico para diabetes gestacional é confirmado.
Glicemia de jejum
O exame de glicemia em jejum também deve fazer parte da rotina pré-natal da gestante. O teste é feito da mesma forma em pessoas não gestantes, mas os valores de referência são entre 92 mg/dL e 126 mg/dL. Com isso:
- Valores entre 92 mg/dL e 126 mg/dL: a gestante deve ser submetida a um segundo exame, dessa vez o de curva glicêmica, para confirmar o diagnóstico de acordo com os critérios citados anteriormente
- Valor maior ou igual a 126 mg/dL: sugere diagnóstico prévio de diabetes, ou seja, antes da gestação
- Valor menor que 92 mg/dL: não caracteriza diabetes, mas um exame de curva glicêmica deve ser repetido entre a 24ª e 28ª gestação para confirmar se o resultado se mantém ou não.
Importância do diagnóstico: por que o diabetes gestacional é perigoso?
Incluir esses exames de glicemia na rotina pré-natal é fundamental para que o diabetes gestacional seja identificado rapidamente e seja tratado da maneira adequada. Isso porque a condição pode trazer riscos para a gestante e para o bebê.
“Mulheres com hiperglicemia durante a gravidez correm risco maior de resultados adversos, como pressão alta (pré-eclâmpsia) durante a gestação, maior risco de desenvolver candidíase vaginal e infecções urinárias, maior risco de parto cesárea e de desenvolvimento de doenças cardiovasculares”, explica Cristina.
Além disso, o diabetes gestacional pode virar um diabetes tipo 2 futuramente. Por isso, mulheres que tiveram diabetes durante a gravidez devem ser acompanhadas e realizar o rastreio para a doença de quatro a 12 semanas após o parto e a cada três anos.
Já para o bebê, os riscos do diabetes gestacional incluem prematuridade, peso excessivo ao nascer (macrossomia), traumas osteomusculares e de nervos no parto normal, malformações, desconforto respiratório dentro de 24 horas após o nascimento, abortamento espontâneo e morte neonatal.
“Para o futuro, o bebê tem maior risco de desenvolver síndrome metabólica, obesidade, diabetes mellitus e hipertensão, além de carregar as malformações na infância e na idade adulta”, completa.
Tratamento do diabetes gestacional
O tratamento do diabetes gestacional inclui a adoção de uma dieta equilibrada, a redução da ingestão de açúcares e a prática de atividades físicas. Além disso, é importante monitorar os níveis de glicose capilar após as refeições.
A glicemia capilar é medida através do sangue coletado na ponta do dedo e pode ser feita em casa. As metas do controle glicêmico na gestação são:
- Em jejum: menor que 95 mg/dL
- 1 hora pós-prandial (após refeição): menor que 140 mg/dL
- 2 horas pós-prandial: menor que 120 mg/dL
Em alguns casos específicos, pode ser necessária a aplicação de insulina junto com a dieta e a atividade física. Além disso, medicamentos para controlar a glicemia também podem ser indicados. Vale lembrar que o tratamento é definido de forma individualizada.