
Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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Embora mais pesquisas sejam necessárias para entender completamente essa relação, alguns especialistas afirmam que há diferenças entre o sono de crianças superdotadas (GAC) e o de outras crianças. Para os pais, isso pode ser motivo de preocupação, considerando a importância do sono no desenvolvimento saudável dos filhos.
Mas como isso afeta as crianças superdotadas? Vamos começar com o ponto mais curioso: elas desenvolvem um hábito ao acordar que pode interferir no descanso.
Crianças superdotadas acordam mais cedo e leem
Como explicou Arielle Adda, psicóloga especialista em AACC, ao jornal Le Figaro, há um hábito que tende a surgir em crianças com altas habilidades: elas acordam muito cedo e começam a ler. Não significa que isso aconteça com todas, nem que toda criança que desperta às 5 da manhã seja superdotada. Mas, segundo a especialista, é comum que crianças com AACC "comecem a ficar inquietas, a se mexer na cama ou se levantem" bem antes das demais.
Ela também afirma que, ao acordarem e buscarem algo para se ocupar, é normal que recorram à leitura se tiverem um livro por perto, já que “pessoas com altas habilidades têm uma atração natural pela leitura”. Adda relata, inclusive, que alguns pais acabam retirando os livros do quarto dos filhos porque, ao começarem a ler, eles não voltam a dormir.
Ler é ótimo, tanto para crianças quanto para adultos, mas não quando isso compromete o tempo de descanso — especialmente na infância. Um sono de qualidade não só ajuda o cérebro a funcionar bem, como também é essencial para o crescimento físico e o desenvolvimento cognitivo. Nos primeiros anos de vida, ele favorece o aprendizado, a atenção e a concentração.
Ainda que existam poucos estudos sobre a relação direta entre AACC e o sono, alguns já oferecem indícios interessantes sobre esse campo pouco explorado. Um estudo de 2003, por exemplo, realizado com 196 crianças com alto potencial intelectual e 226 crianças do grupo de controle, mostrou que havia diferenças na estrutura do sono.
Crianças com QI mais alto completavam mais ciclos de sono, e esses ciclos eram mais curtos — duravam cerca de 70 minutos, em comparação com os 90 minutos das demais. O sono REM, fase em que a atividade cerebral é mais intensa, também aparecia mais cedo nas crianças com QI elevado do que nas do grupo de controle.
Outro estudo, de 2020, com 33 crianças, indicou que aquelas com QI mais alto tinham mais sono REM e menos sono de Estágio 1 do que os controles. No entanto, também apresentavam mais insônia e outros problemas relacionados ao sono.
Por que o sono pode ser diferente em indivíduos superdotados
O pediatra Gonzalo Pin Arboledas, coordenador do grupo de sono e cronobiologia da Associação Espanhola de Pediatria, explicou nas redes sociais que há quatro fatores principais que ajudam a entender por que o sono pode ser diferente em crianças com AACC: alta energia mental, sensibilidade emocional, devaneios e insatisfação.
Se considerarmos que crianças com TDAH “são mentalmente hiperativas o dia todo, com muitos interesses”, como afirma o médico, não é surpreendente que essa energia ou intensidade mental elevada torne mais difícil relaxar antes de dormir. Embora cada indivíduo tenha suas particularidades, uma característica comum é a sensibilidade emocional acentuada. Pin Arboledas destaca que, em muitos casos, essa “maior preocupação com coisas que às vezes parecem pouco importantes para os outros” contribui para a dificuldade em desacelerar antes de dormir.
Além disso, crianças com AACC costumam ter sonhos mais intensos e vívidos, o que afeta a qualidade do sono. Segundo o especialista, isso pode levar a mais despertares noturnos causados por sonhos ou pesadelos, o que compromete o descanso. O último fator que influencia o sono dessas crianças é a própria insatisfação com o ato de dormir. “Para algumas crianças superdotadas, dormir parece uma perda de tempo. Elas não atribuem muito valor ao sono e preferem se concentrar em outras atividades”, conclui o pediatra.
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