

No início do mês, um homem teve a vida salva depois de receber um transplante de fezes da própria esposa em Santa Catarina. O procedimento, considerado inédito na região, foi a alternativa encontrada pelos médicos após o paciente apresentar um quadro de colite pseudomembranosa, uma infecção intestinal grave e resistente a antibióticos, causada pela bactéria Clostridioides difficile.
A técnica, que ainda é pouco comum no Brasil, foi decisiva na recuperação da flora intestinal do paciente, e foi realizada pelo gastroenterologista Everson Veiga, no Hospital Félix da Costa Gomes, em Três Barras.
André Carvalho, clínico geral que acompanha o caso, falou sobre o perfil do paciente que foi submetido ao transplante.
“É um idoso, acamado, que tinha algumas comorbidades e teve de tomar muitos antibióticos em pouco espaço de tempo devido a algumas infecções, que acabaram afetando algumas bactérias naturais do intestino”.
Segundo o médico, após a internação, o homem passou por tratamento padrão para combater a doença, que não surtiu o efeito esperado.
“Quando não há reação ao tratamento padrão via oral nestes casos, há uma possibilidade muito grande de morte do paciente, e então nos sobrou a opção de realizar o transplante fecal. A técnica leva microbiota saudável, a que o paciente deveria ter e perdeu por conta dos antibióticos. Salva a vida, porque a chance do transplante ter êxito é de 80% e, com duas aplicações, supera 95%”.
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O que é Colite pseudomembranosa?
Colite pseudomembranosa é uma inflamação grave do intestino grosso, geralmente causada pela bactéria Clostridioides difficile, que costuma se proliferar após o uso prolongado de antibióticos.
Quando o equilíbrio das bactérias intestinais é alterado (normalmente por antibióticos), a bactéria responsável pela Colite pseudomembranosa pode crescer descontroladamente e liberar toxinas que danificam a mucosa do intestino.
Os principais sintomas:
- Diarreia intensa e persistente;
- Dor e cólicas abdominais;
- Febre;
- Náuseas;
- Desidratação;
- Fezes com muco ou sangue.
Inicialmente, a tentativa de tratamento é feita com o uso de antibióticos específicos contra Clostridioides difficile. Quando isso falha, uma alternativa eficaz pode ser o transplante de microbiota fecal, como no caso de Santa Catarina, para restaurar o equilíbrio das bactérias saudáveis no intestino.
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Como funciona o transplante de fezes?
O transplante de fezes, ou transplante de microbiota fecal, é um procedimento que consiste em transferir bactérias intestinais saudáveis das fezes de um doador para o intestino de um paciente.
Após exames de sangue e fezes, o material é coletado, processado em laboratório e diluído em uma solução. Em seguida, ele pode ser introduzido no corpo do paciente por meio de colonoscopia, sonda ou cápsulas orais com revestimento especial. A ideia é repovoar o intestino com bactérias boas, restaurando o equilíbrio da microbiota intestinal.
No caso do paciente de Santa Catarina, a esposa do paciente foi a doadora. Ela foi submetida a exames de sangue e fez uso de vermífugo antes da coleta do material. “Usamos 50g das fezes misturadas com soro fisiológico estéril. A mistura foi filtrada e aplicada por colonoscopia até o ceco, onde começa o intestino grosso”, explicou Everson Veiga”.
O transplante ajuda a combater a bactéria causadora da infecção e a reduzir os sintomas, como diarreia, dor abdominal e inflamação. O procedimento é considerado seguro e tem altos índices de sucesso.