O doutor Marcelo Cavalcante Costa é Oftalmologista e oferece consulta a pacientes em São Paulo (SP). O especialista é eg...
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iO que é Ceratocone?
O ceratocone é uma doença caracterizada pela deformação progressiva da curvatura da córnea, estrutura transparente que reveste a parte da frente do olho, provocando um afinamento em forma de cone. Os principais sintomas são astigmatismo elevado e deficiência da visão.
O início da doença, que tem como causa provável a herança genética do indivíduo, ocorre geralmente na adolescência, com uma progressão gradual até os 30 anos de idade. Segundo o Ministério da Saúde, a doença atinge cerca de 150 mil pessoas por ano no Brasil, podendo afetar ambos os olhos de maneira assimétrica, ou seja, de formas diferentes entre um e outro.
Causas
As causas do ceratocone ainda são desconhecidas, mas acredita-se que estão relacionadas a uma combinação de múltiplos fatores, incluindo ambientais e genéticos. Por exemplo, o ato de esfregar os olhos com frequência pode ser uma das causas da doença, já que pode levar a alterações na superfície da córnea.
Outro possível fator é a queda da produção de colágeno, que também pode afetar a estrutura da córnea. Além disso, o ceratocone está presente em pacientes com alterações oculares congênitas, como catarata e esclerótica azul.
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Sintomas
Sintomas de ceratocone
Os sintomas do ceratocone geralmente afetam ambos os olhos e progridem diferente em cada olho. De modo geral, os principais sinais são:
- Perda progressiva da visão
- Visão borrada e distorcida (tanto para longe quanto para perto)
- Aumento frequente do grau das lentes de óculos
- Sensibilidade à luz (fotofobia)
- Dificuldade de visão noturna
- Visão dupla
- Formação de múltiplas imagens de um mesmo objeto
Além disso, a doença tende a evoluir ao longo de quatro fases:
- Ceratocone inicial: sintomas leves e que podem ser corrigidos com o uso de óculos
- Ceratocone segundo grau: os óculos não corrigem mais o problema, o grau de astigmatismo está mais elevado e é preciso utilizar lente de contato rígida
- Ceratocone terceiro grau: a córnea já está bem proeminente, saliente, irregular e bastante comprometida. Em alguns casos, há a necessidade de combinar uma lente gelatinosa com uma lente rígida
- Ceratocone quarto grau: a lente já não para mais no olho ou a córnea torna-se opaca, dificultando a visão
Diagnóstico
Para diagnosticar a ceratocone, o oftalmologista revisará o histórico médico e familiar, e em seguida realizará o exame refratométrico (medida do grau dos óculos) e a ceratometria (medida da curvatura da córnea).
Após o diagnóstico inicial, o médico irá realizar uma paquimetria corneana (medida da espessura da córnea na área central) e a ceratoscopia corneana (topografia), que é um mapa colorido indicando as curvas da córnea. Em seguida, é feito o exame de tomografia corneana, chamado de Pentacam. Nele, é realizado um mapeamento paquimétrico detalhado e são traçados alguns índices com análises estatísticas, objetivando o estudo da biomecânica da córnea.
Como a ceratocone é uma doença que ocorre por deformidade da córnea, o oftalmologista estuda sua superfície e espessura em cada ponto para verificar se há a necessidade de tratamento, evitando a evolução do problema.
“Informações valiosas foram fornecidas para o diagnóstico e monitoramento do ceratocone por meio de estudos que apresentam sistemas de classificação baseados em parâmetros topográficos, tomográficos e biomecânicos combinados. Vários softwares recém-desenvolvidos, como o Enhanced Reference Surface e o display Belin-Ambrosio Enhanced Ectasia, podem ser empregados para detectar mudanças anteriores”, indica Keila Carvalho, médica oftalmologista e professora titular de oftalmologia da UNICAMP.
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Fatores de risco
Os fatores que podem aumentar as chances de desenvolver ceratocone são:
- Histórico familiar de ceratocone
- Coçar os olhos vigorosamente e com muita frequência
- Ter algumas condições, como retinite pigmentosa, síndrome de Down, síndrome de Ehlers-Danlos, rinite alérgica e asma.
Tratamento
Tratamento para ceratocone
O tratamento para ceratocone leve a moderada pode ser feito com o uso de óculos ou lentes de contato. Para a maioria das pessoas, a córnea ficará estável após alguns anos, não necessitando de tratamento adicional.
“Os óculos podem ser usados em estágios iniciais do ceratocone. Muitas vezes, é difícil obter uma visão satisfatória por causa de vários fatores da doença, como alto astigmatismo irregular e anisometropia significativa. As lentes de contato, por outro lado, podem oferecer melhor visão, abordando erros de refração e irregularidades da córnea em pacientes com ceratocone”, diz o oftalmologista Wilson Obeid.
Entretanto, algumas pessoas com ceratocone ficam com a córnea marcada e o uso de lentes de contato torna-se difícil. Nestes casos, a cirurgia pode ser necessária. As principais opções são:
- Anel de Ferrara: um pequeno dispositivo curvo é implantado na córnea, ajudando a achatar a curva da mesma para melhorar a visão. Esse procedimento possibilita a restauração de seu formato, retarda o progresso do ceratocone e reduz a necessidade de um transplante de córnea. Esta cirurgia também pode facilitar o ajuste e a tolerância das lentes de contato
- Cross-linking: seu objetivo é fortalecer o tecido corneano e deter a progressão do ceratocone pelo uso de riboflavina (vitamina B2) combinado com a irradiação ultravioleta A (UV-A). A riboflavina desempenha o papel de fotossensibilizante no processo de fotopolimerização e, quando combinada com a irradiação UV-A, aumenta a formação de ligações covalentes colágenas interfibrilares à base de carbonila por meio de um processo molecular
- Transplante de córnea: quando os sintomas são graves, o oftalmologista pode sugeri-lo. Até recentemente, a técnica mais utilizada era o Transplante de Córnea Penetrante (PK), que consiste em retirar todas as camadas da córnea. No entanto, avanços nas técnicas cirúrgicas hoje possibilitam a preservação da camada da córnea do paciente com o Transplante Lamelar Anterior Profundo (DALK). Ambos os procedimentos usam como recurso adicional o Laser de Femtosegundo, que aumenta a precisão das cirurgias.
“As vantagens do DALK em relação à PK clássica consistem em menores taxas de rejeição de enxerto, preservação de células endoteliais, prevenção de um procedimento a céu aberto e menor período de instilação pós-operatória de agentes esteroides, levando à menor incidência de catarata e glaucoma após a cirurgia. Por outro lado, as limitações da técnica DALK incluem as exigentes habilidades cirúrgicas necessárias para sua realização, além do fato de que é contraindicada em casos de córneas com cicatrizes, neovascularização ou hidropisia prévia”, aponta Wilson Obeid, oftalmologista do hospital CEMA.
Tem cura?
Ceratocone tem cura?
O ceratocone não tem cura, de modo que a doença ocular pode progredir ao longo da vida. Felizmente, no entanto, a maioria dos casos de ceratocone pode ser gerenciado com sucesso quando a doença é tratada da forma correta e precocemente.
Prevenção
Não há como prever se a condição irá progredir. Todavia, a partir do histórico familiar, é possível orientar e alertar a família quanto à possibilidade da doença, mesmo com a ausência de sintomas.
Segundo Marcelo Cavalcante, filhos de pais com ceratocone devem fazer uma topografia da córnea anualmente a partir dos 10 anos para monitorar a córnea. Mesmo que a topografia da córnea do seu filho seja normal, ainda é importante realizar o teste com essa periodicidade, uma vez que pode haver mudanças sutis ao longo do tempo que indicam que a doença começou. Com testes anuais, o médico pode comparar os resultados para identificar essas alterações, caso estejam presentes.
Para prevenir o ceratocone, os pacientes devem evitar a fricção dos olhos, já que isso pode danificar o tecido da córneas. Se você tem olhos irritados que fazem com que você esfregue-os constantemente, fale com o seu oftalmologista sobre medicamentos para controlar suas alergias.
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Convivendo (Prognóstico)
Para o oftalmologista Marcelo Cavalcante, é essencial discutir suas preocupações com o médico especialista. “A falta de conhecimento geralmente cria medo, então aprenda tudo o que puder sobre essa condição. Isso será esclarecedor e reconfortante. É importante entender a natureza do ceratocone”, comenta.
Embora seja importante que você aceite o ceratocone como um fato em sua vida e perceba que precisa se adaptar a ele, o ceratocone não é uma doença fatal.
Complicações possíveis
Ceratocone é grave?
Alguns casos de ceratocone avançado podem evoluir para hidropsia da córnea, o chamado ceratocone agudo, em que ocorrem rupturas na camada de Descemet, às vezes associada com fissuras estromais, que causam a entrada de humor aquoso no estroma, levando ao edema estromal e cicatrizes corneanas potencialmente severas.
Pacientes com esse avanço da condição geralmente relatam uma perda súbita de visão e algum desconforto no olho afetado, acompanhados de dor e injeção conjuntival (infecções agudas, alergias e trauma ocular), além de problema na clareza da visão.
Ceratocone pode causar cegueira?
O ceratocone geralmente não leva à cegueira completa, porém pode degradar a visão a um nível em que se terá dificuldade para levar uma vida normal.
Referências
American Optometric Association
National Organization for Rare Disorders (NORD)