
Assessor médico em Microbiologia do Fleury Medicina e Saúde

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O que é Hanseníase?
A hanseníase (CID 10 - A30) é uma doença infecciosa e contagiosa caracterizada com sintomas como manchas na pele, sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades, além de sérias incapacidades físicas.
Também conhecida como bacilo de Hancen, no passado a hanseníase era conhecida como lepra.
Trata-se de uma doença causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que costuma evoluir lentamente no corpo e pode levar até 20 anos que os primeiros sintomas apareçam.
A hanseníase não é hereditária e sua evolução depende de características do sistema imunológico da pessoa que foi infectada.
Causas
A hanseníase é uma doença causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Trata-se de uma doença conhecida há mais de 4000 anos e que no passado tinha o nome de lepra.
Sua primeira identificação na comunidade científica, porém, aconteceu em 1873 pelo cientista Armauer Hansen (que deu origem ao nome hanseníase).
Hanseníase é contagiosa ?
A hanseníase é uma doença contagiosa e tem o ser humano como o principal reservatório natural da bactéria causadora da patologia. Porém, a M. leprae também pode ser encontrada em esquilos, macacos e principalmente tatus.
Transmissão da hanseníase
A transmissão da hanseníase acontece por via respiratória, quando existe uma convivência muito próxima e prolongada com indivíduos que apresentem o tipo multibacilar da doença.
Isso porque indivíduos com a forma multibacilar de hanseníase apresentam grande quantidade de bacilos na secreção nasal - facilitando a transmissão por gotículas de saliva ou secreções do nariz.
Tipos
A hanseníase pode ser classificada em hanseníase paucibacilar (com poucos ou nenhum bacilo nos exames) ou hanseníase multibacilar (com muitos bacilos). A forma multibacilar não tratada possui alto potencial de transmissão.
Classificação da hanseníase
Hanseníase paucibacilar

- Hanseníase indeterminada: estágio inicial da doença, com um número de até cinco manchas de contornos mal-definidos e sem comprometimento neural
- Hanseníase tuberculoide: manchas ou placas de até cinco lesões, bem definidas, com um nervo comprometido e podendo ocorrer neurite (inflamação do nervo)
Hanseníase multibacilar
- Hanseníase borderline ou dimorfa: manchas e placas, acima de cinco lesões, com bordos às vezes bem ou pouco definidos, com comprometimento de dois ou mais nervos e ocorrência de quadros reacionais com maior frequência
- Hanseníase virchowiana: forma mais disseminada da doença, em que há dificuldade para separar a pele normal da danificada, podendo comprometer nariz, rins e órgãos reprodutivos masculinos e haver a ocorrência de neurite e eritema nodoso (nódulos dolorosos) na pele
Sintomas
A hanseníase tem como sintomas manchas mais claras, vermelhas ou mais escuras, que são pouco visíveis e com limites imprecisos. A doença ainda provoca alteração da sensibilidade no local associado à perda de pelos e ausência de transpiração.
Quando o nervo de uma área é afetado, surgem dormência, perda de tônus muscular e retrações dos dedos, com desenvolvimento de incapacidades físicas.
Nas fases agudas, podem aparecer caroços (nódulos) e/ou inchaços (edema) nas partes mais frias do corpo, como orelhas, mãos, cotovelos e pés.
Os sintomas da hanseníase incluem:
- Sensação de formigamento
- Fisgadas ou dormência nas extremidades
- Manchas brancas ou avermelhadas na pele
- Perda da sensibilidade ao calor, frio, dor e tato
- Áreas da pele aparentemente normais que têm alteração da sensibilidade e da secreção de suor
- Nódulos e placas em qualquer local do corpo
Sintomas de hanseníase avançada
Quando a hanseníase está na fase avançada, os sintomas são:
- Diminuição da força muscular (dificuldade para segurar objetos)
- Paralisia das mãos e pés
- Encurtamento dos dedos devido à lesão dos nervos que controlam osmúsculos
- Úlceras crônicas na sola dos pés
- Cegueira
- Perda de sobrancelhas
- Edema do nariz e orelhas (inchaço)
Porém, vale destacar que cerca de 90% da população têm defesa contra a hanseníase. O período de incubação (tempo entre a aquisição da doença e dos sintomas) varia de seis meses a cinco anos.
Normalmente a hanseníase é adquirida ainda na infância. Porém, como a doença demora para se manifestar, apenas adultos manifestam sintomas da doença.
A maneira como os sintomas de manifestam variam de acordo com a genética de cada pessoa.
Diagnóstico
O diagnóstico de caso de hanseníase é inicialmente clínico e epidemiológico.
São feitos exames dermatológicos e neurológicos para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos, com alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas.
Fatores de risco
A hanseníase pode atingir pessoas de todas as idades, contudo a incidência é maior em homens.
Além de atingir homens, os principais fatores de risco da hanseníase são:
- Hábitos de higiene precários (particularmente quanto à lavagem dasmãos)
- Contato com indivíduos sem tratamento e que apresentem a forma multibacilar da doença
Exames
Os principais exames para confirmação da hanseníase são:
- Exame baciloscópico de esfregaço cutâneo biópsia cutânea
- Pesquisa do DNA da bactéria em fragmentos de tecido (PCR)
- Pesquisa de anticorpos anti-PGL-1 no sangue (exame só disponível em laboratórios de pesquisa)
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar a hanseníase são:
- Dermatologista
- Infectologista
- Clínico geral
Tratamento
O tratamento da hanseníase é gratuito e fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), variando de seis meses nas formas paucibacilares a um ano nos multibacilares -podendo ser prorrogado ou feita a substituição da medicação em casos especiais.
Após a primeira dose da medicação não há mais risco de transmissão durante o tratamento e o paciente pode conviver em meio à sociedade.
O tratamento da hanseníase é administrado por via oral, consiste na associação de dois ou três medicamentos e é denominado poliquimioterapia.
Medicamentos para hanseníase
Os medicamentos usualmente utilizados no tratamento são a rifampicina, dapsona eclofazimina.
E embora o tratamento possa curar a doença e evitar a sua progressão (piora), não reverte os danos nos nervos ou a desfiguração física que podem ter ocorrido antes do diagnóstico.
Assim, é muito importante que a doença seja diagnosticada o mais cedo possível, antes que ocorra qualquer lesão permanente do sistema nervoso.
Tem cura?
A hanseníase tem cura. Para isso, quanto mais mais precoce for o diagnóstico, mais rápido e fácil será o tratamento e solução da doença.
Atualmente, em todo o mundo, o tratamento para hanseníase é oferecido gratuitamente. Os países com maior detecção de casos são os menos desenvolvidos ou com superpopulação.
Hanseníase no Brasil
O Brasil é o segundo país no mundo em casos de hanseníase. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2019 foram contabilizados 23.612 casos da doença no Brasil. Os dados foram revelados no último Boletim Epidemiológico de Hanseníase 2020.
Atualmente, o enfrentamento da hanseníase é uma das prioridade para o Ministério da Saúde, ao lado de outras doenças.
Para isso, o SUS oferece tratamento para a doença e o sistema de saúde também atua com ações de a detecção precoce de casos e o exame de contatos, com o intuito de prevenir as incapacidades físicas e favorecer a quebra da cadeia de transmissão.
Prevenção
A prevenção da hanseníase baseia-se em em medidas básicas de higiene (lavagem de mãos) e aplicação da vacina BCG em todas as pessoas que compartilham o mesmo domicílio com o portador da doença.
O que é a vacina BCG
A vacina é composta pelo bacilo de Calmette & Guérin, obtido pela atenuação do Mycobacterium bovis, umas das bactérias que causam a tuberculose. No Brasil, a vacina faz parte do calendário obrigatório.
O Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde no Brasil recomenda atualmente a vacinação universal das crianças contra tuberculose.
É importante que seja dada logo ao recém-nascido. Se isso não for possível, deve ser ministrada após o primeiro mês de vida.
Ela pode ser tomada por crianças com sorologia positiva de HIV que não apresentam sintomas, ou filhos de mulheres soropositivas assintomáticas.
Tuberculose e hanseníase
Embora sejam doenças distintas, a tuberculose e a hanseníase são causadas por bactérias do gênero mycobacterium. No caso da tuberculose, o Mycobcterium tuberculosis, e na hanseníase, o Mycobacterium leprae.Portanto, a vacina BCG, usada para prevenir a tuberculose, pode oferecer proteção contra a lepra.
Convivendo (Prognóstico)
Embora seja contagiosa, o risco de contágio da hanseníase não é alto e muitas pessoas são expostas à hanseníase em todo o mundo sem perigo.
Portanto, após o início do tratamento o paciente não precisa mais estar em isolamento, pois os riscos de transmissão são reduzidos.
Contudo, é essencial que ao entrar em contato com alguém com hanseníase ou em uma região de risco, as pessoas façam exames para ver se a doença foi adquirida e evitar suas complicações.
Referências
Sociedade Brasileira de Dermatologia
Mayo Clinic
Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIH)
Ana Célia Xavier, médica dermatologista da Rede de Hospitais São Camilo, CRM 83431
Jorge Sampaio, médico assessor para Microbiologia do Fleury Medicina eSaúde, CRM 103822