Psicólogo clínico formado pela Universidade Paulista (UNIP). Tem como abordagem principal a Fenomenologia Existenc...
iNesta terça-feira (17), o Brasil conquistou o maior prêmio da categoria Industry Craft no Festival de Cannes Lions 2025 com um projeto que expõe um problema antigo no sistema de saúde do país: o racismo médico.
O livro “Nigrum Corpus” (“Corpo Preto”), criado pela agência Artplan, mostra como pessoas negras ainda são tratadas de forma desigual quando procuram atendimento médico. Com base na obra, pessoas negras são atendidas por menos tempo, esperam mais por procedimentos importantes e recebem menos medicamentos para dor do que pessoas brancas.
Um dos dados mais alarmantes revela que o intervalo entre o diagnóstico e a cirurgia chega a ser, em média, 6,7 dias maior para pacientes pretos.
Essas desigualdades foram reunidas no projeto Mediversidade, iniciativa do Instituto de Educação Médica (Idomed) com o Instituto Yduqs para combater o racismo estrutural na saúde.
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Como o racismo cometido por um médico pode afetar o paciente?
Para além dos possíveis danos físicos devido à negligência no atendimento, o racismo cometido por médicos pode afetar significativamente a saúde emocional e mental do paciente.
Em entrevista anterior ao MinhaVida, o psicólogo Gustavo Ribeiro frisou que casos como esse podem desencadear traumas antigos e criar novos.
“O impacto psicológico varia conforme a experiência individual do paciente e a gravidade da discriminação sofrida. Em muitos casos, o paciente pode se sentir desvalorizado e inseguro, o que pode afetar a confiança em futuros atendimentos médicos e até a disposição para buscar ajuda profissional”.
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O que fazer em caso de racismo médico?
O especialista orienta que o paciente vítima de racismo, primeiramente, busque suporte emocional com familiares e amigos. Segundo ele, procurar ajuda de um psicólogo também é crucial para a recuperação do trauma sofrido.
“A terapia oferece um espaço seguro para curar as feridas emocionais, e encontrar um profissional com quem o paciente se identifique, talvez com a mesma etnia, pode ser um passo importante”.
Em situações como essa, medidas legais também devem ser tomadas. O paciente que sofrer racismo médico pode recorrer às seguintes medidas:
- Delegacia ou Ministério Público: o racismo é crime no Brasil desde 1989 (Lei nº 7.716/89). A denúncia pode ser feita formalmente em uma delegacia ou no Ministério Público
- CRM (Conselho Regional de Medicina): é possível fazer uma denúncia ao CRM do estado onde o médico atua
- Ouvidorias: em caso de atendimento em unidades de saúde públicas ou conveniadas, o paciente pode denunciar por meio da ouvidoria da instituição ou ao SUS através do site do Ministério da Saúde, ou do número 136.
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