
Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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“Educar sem recompensas ou punições soa bem e vende livros, mas, como psicólogo, não posso dizer que seja possível educar dessa forma.” A afirmação é de Alberto Soler, psicólogo com mais de dez anos de experiência no atendimento a crianças e suas famílias. Ele atua na prática clínica e ainda é autor de livros como “Crianças e Pais Felizes” e “Crianças sem Rótulos”.
Especialista em parentalidade, Soler afirmou, em uma palestra no projeto Aprendemos Juntos 2030, que educar sem recompensas ou punições seria o mesmo que dizer que podemos criar filhos sem nunca sermos sérios ou sorrirmos. Segundo ele, “uma expressão séria, quando nossa filha ou filho se comporta de forma inadequada, na prática funciona como um castigo. Um sorriso, quando fazem algo que gostamos, funciona como uma recompensa.” Em outras palavras, ser pai ou mãe sem recorrer a castigos ou recompensas é impossível.
A primeira coisa a entender é que, do ponto de vista psicológico, tudo o que fazemos após um comportamento atua como um reforço: aumenta a probabilidade de que ele se repita no futuro, se for algo positivo, ou a diminui, se for negativo. “O que comumente chamamos de recompensas e punições são, na verdade, reforços e punições mal aplicados”, explica ele. A chave está em usar a inteligência emocional nos dois casos.
Como recompensar uma criança da maneira certa
Há um ponto importante sobre recompensas: elas interferem na motivação. As pessoas se motivam de duas formas — extrínseca e intrínseca. A motivação extrínseca vem de fontes externas, como dinheiro ou reconhecimento. Já a motivação intrínseca vem de dentro e é a mais desejável de se estimular, tanto em crianças quanto em adultos. Quando estamos motivados de forma intrínseca, conseguimos agir com autonomia, sentimos que nossos esforços fazem diferença e encontramos prazer em desenvolver novas habilidades, como explicam especialistas do site VeryWellMind.
Se quisermos recompensar uma criança com inteligência emocional, devemos seguir duas regras:
- Evitar exageros nas recompensas, pois elas representam uma motivação externa e podem levar à criação de uma criança mimada;
- Não recompensar comportamentos que já são naturalmente motivados de forma interna, pois isso pode “matar” a motivação intrínseca e condicionar a criança a depender de estímulos externos.
Na palestra, Soler dá um exemplo: imagine que você precisa levar sua filha ao dentista no dia seguinte, e ela entra em pânico porque não gosta de ir. Para tranquilizá-la, você diz: “Olha, querida, quando sairmos do dentista, vamos à livraria do outro lado da rua e eu compro qualquer livro que você quiser.” A menina adora ler e aceita enfrentar o momento difícil em troca do livro. Nesse caso, a recompensa é válida, porque não está prejudicando a motivação intrínseca — afinal, ela nunca gostou de ir ao dentista.
Por outro lado, se você souber que sua filha gosta de ler e oferecer dois euros por cada livro que ela ler, estará transformando a motivação intrínseca em extrínseca.
Consequência lógica é melhor do que punição
As punições são ainda mais problemáticas do que as recompensas — especialmente quando vêm em forma de ameaças ou chantagens. Soler afirma que elas são “indesejáveis do ponto de vista ético e moral, mas também do ponto de vista educacional”.
A punição não melhora o comportamento a médio ou longo prazo e pode enfraquecer o vínculo emocional entre pais e filhos. No entanto, é possível estabelecer consequências lógicas, que funcionam de forma mais construtiva. Segundo o especialista, essas consequências devem cumprir quatro critérios:
- Estar relacionadas diretamente ao que a criança fez de errado;
- Ser razoáveis e proporcionais;
- Ter sido previamente comunicadas à criança;
- Serem aplicadas de forma respeitosa.
Isso não tem nada a ver com o conceito tradicional de punição que a maioria de nós conhece.