
Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.

É claro que não existem regras absolutas quando se trata de relacionamentos. Cada casal vive sua própria dinâmica, e o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Ainda assim, há hábitos recomendados que, embora não façam milagres, são indicativos de uma relação saudável — como o padrão 5:1 de interações positivas proposto por John Gottman.
Com a comunicação, acontece algo parecido. Enquanto alguns relacionamentos se fortalecem com demonstrações de carinho, outros se baseiam na gratidão. O que importa, em qualquer tipo de vínculo — romântico ou não —, é que a comunicação seja eficaz e, acima de tudo, respeitosa.
O problema é que, muitas vezes, não percebemos o quanto certas frases podem ser prejudiciais. Mesmo sem ofender diretamente, o uso frequente de algumas expressões pode minar a relação aos poucos. Segundo especialistas em comportamento e relacionamentos, há coisas que jamais deveriam ser ditas a quem você ama — e elas são mais tóxicas do que parecem.
1. “Se quiser que eu faça (insira aqui uma tarefa doméstica), é só pedir”
À primeira vista, essa frase pode parecer inofensiva ou até prestativa, mas carrega uma lógica problemática. Em uma convivência, especialmente em relacionamentos afetivos, as responsabilidades da casa devem ser divididas de forma equilibrada.
Não é função de uma das partes delegar tarefas enquanto a outra apenas “ajuda”. Trata-se de corresponsabilidade, ou seja, ambos devem se envolver ativamente na manutenção do lar, sem depender de instruções ou pedidos constantes.
De acordo com o Guia de Corresponsabilidade do Instituto da Mulher, publicado pela Administração Geral do Estado da Espanha, “a corresponsabilidade é a divisão equilibrada das tarefas domésticas e das responsabilidades familiares — como organização da rotina, cuidados, educação e afeto de pessoas dependentes no ambiente familiar —, com o objetivo de distribuir de forma justa o tempo de vida entre mulheres e homens”.
Apesar disso, os dados mostram que essa divisão ainda está longe de acontecer. Segundo um estudo sobre corresponsabilidade da União Sindical Obrera (USO), a prática é inexistente em muitos lares — com ou sem filhos. Em casais sem filhos e com ambos os parceiros trabalhando, as mulheres dedicam, em média, 16,4 horas semanais às tarefas domésticas. Os homens, apenas 8,7.
Outro levantamento, intitulado Desigualdades de gênero no trabalho remunerado e não remunerado após a pandemia, publicado em fevereiro de 2023, reforça o cenário: mulheres chegam a dedicar 43 horas semanais aos cuidados com os filhos e à manutenção da casa. Os homens, 28.
Quando uma das partes diz à outra “é só pedir o que precisa que eu faço”, transfere também a carga mental da organização e do planejamento da casa. Por isso, especialistas recomendam uma divisão real das tarefas — se necessário, até com cronogramas definidos — para que a responsabilidade seja compartilhada de forma justa.
2. “Você faz tempestade em copo d’água” ou “se irrita com tudo”
Expressões como “você está exagerando”, “não é nada demais” ou “isso não tem importância” têm um efeito direto: diminuem os sentimentos da outra pessoa e passam a mensagem de que suas emoções não são levadas a sério. Quem ouve esse tipo de frase pode se sentir desvalorizado, ignorado e não acolhido emocionalmente — o que afeta tanto a autoestima quanto a saúde mental.
Segundo a psicóloga María Esclapez, autora do livro “Me quiero, te quiero”, esse tipo de comportamento pode, em certos casos, ser considerado uma forma de gaslighting — quando sentimentos e percepções são invalidados durante um conflito. No livro, ela explica: “A luz de gás é uma forma de abuso emocional, mas também pode ocorrer na forma de invalidação emocional”.
3. Frases que começam com “você sempre” ou “você nunca”
John e Julie Gottman, dois dos psicólogos e pesquisadores de relacionamento mais reconhecidos do mundo, alertam em seu livro A receita do amor sobre os riscos de frases como “você nunca” ou “você sempre” no contexto de um relacionamento.
De acordo com os autores, essas expressões são sinais de alerta: indicam que a relação pode estar entrando em um terreno instável, marcado por uma visão negativa do outro. Em vez de adotar uma abordagem acusatória — como “você nunca tem gestos de carinho comigo” ou “sou sempre eu quem tem que pensar em tudo” —, a recomendação é reformular o pedido de forma mais empática e direta.
Por exemplo: “eu adoraria que você tivesse mais gestos de carinho comigo, isso me faria sentir especial” ou “na nossa próxima saída, queria que fosse você a pensar no programa. Sempre me divirto quando isso acontece”.
4. “Isso é típico de você”
Lisa Marie Bobby, psicóloga de relacionamentos e fundadora do Growing Self Counseling & Coaching, afirmou à CNBC que qualquer frase que faça uma atribuição generalizada sobre o caráter de alguém “é altamente tóxica e negativa, e não termina bem”.
Segundo ela, esse tipo de comentário desgasta o vínculo entre o casal e impede o crescimento pessoal e da relação, pois transmite a ideia de que não há possibilidade de mudança, nem espaço para explicações da outra pessoa.
5. “Não foi assim que aconteceu”
Acreditar que a nossa versão da história é a única verdade pode ser mais prejudicial do que parece. Lisa Marie Bobby explica que, em qualquer conflito, existem sempre “dois lados completamente válidos”, que muitas vezes são totalmente diferentes.
Ao usar a frase “isso não foi o que aconteceu”, invalidamos a experiência da outra pessoa, sugerindo que apenas a nossa perspectiva está correta, sem dar espaço para a visão do parceiro.
6. “Desde quando você gosta de fazer isso?”
É importante lembrar que todos nós mudamos — e essa mudança é inevitável e necessária. Em um relacionamento, as pessoas também evoluem, e o fato de seu parceiro desenvolver novos interesses não representa uma ameaça. Já a recusa em permitir essa mudança pode sim prejudicar a relação. Se você está com alguém que nunca tenta coisas novas, a relação tende a se tornar monótona e sem graça.
Em vez de fazer essa pergunta, que pode soar desconfiada, que tal demonstrar interesse? Pergunte, por exemplo, como ele ou ela descobriu essa nova paixão. Relacionamentos saudáveis e duradouros dependem da capacidade de crescimento conjunto.
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