
Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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Parentificação é um termo criado pelo psiquiatra Böszörményi-Nagy, um dos fundadores da terapia familiar. Ele descreve a situação em que os pais recorrem aos filhos em busca de apoio emocional ou prático, em vez de oferecer esse apoio.
O resultado é que essas crianças são forçadas a assumir responsabilidades e comportamentos de adultos antes de estarem prontas para isso. Por exemplo, cuidar de irmãos mais novos vai além do que seria considerado natural. Essa inversão de papéis interrompe o processo saudável de desenvolvimento infantil.
Embora não seja um termo muito conhecido fora da psicologia, a parentificação pode ser emocional (a forma mais intensa) ou instrumental, quando a criança assume tarefas práticas que caberiam aos pais. Não estamos falando de ajuda ocasional em casa, mas sim de uma carga constante e desproporcional — como cuidar diariamente dos irmãos mais novos. Quando esse papel se estabelece, ele passa a fazer parte da identidade da criança e traz consequências que se refletem no comportamento ao longo da vida.
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1. Em seus relacionamentos, você sempre assume o papel de cuidador
Cuidar dos seus irmãos pode ter feito com que, na vida adulta, você continue a desempenhar o papel de cuidador ou "resolvedor de problemas" em todos os seus relacionamentos, mesmo quando isso não é necessário ou esperado. Ou seja, você não ajuda apenas quando é solicitado — você age mesmo quando ninguém pediu.
Isso acontece porque, durante a parentificação, o cuidado com os outros mantinha o equilíbrio da família. Com o tempo, essa função se torna parte da sua identidade, a ponto de continuar agindo assim, mesmo que isso afete seu bem-estar.
2. Você tem dificuldade em se reconhecer fora do papel de “útil”
Como mencionamos, sua identidade pode ter se tornado tão ligada ao cuidado com os outros que, fora desse papel, você talvez nem saiba quem é. Ter assumido tantas responsabilidades tão cedo pode ter impedido você de explorar sua individualidade. O psicólogo Nick Wignall explica que a autoconsciência se desenvolve com a prática — e talvez você não tenha tido tempo ou espaço para isso. Por isso, pode ter chegado à vida adulta com uma identidade indefinida e uma tendência a buscar aprovação, mesmo que isso signifique negligenciar sua própria felicidade.
3. Você tem dificuldades nos relacionamentos
Como explica o portal MundoPsicólogos, “a parentificação pode levar as crianças a desenvolverem um apego inseguro, o que significa que podem ter problemas de confiança nos outros”. Já se sabe que esse tipo de vivência afeta a formação dos vínculos e pode levar a padrões de apego prejudiciais, que se repetem nos relacionamentos ao longo da vida. Crianças parentificadas muitas vezes crescem com medo de abandono e acabam se envolvendo em relações desequilibradas ou dependentes.
4. Você apresenta uma desconexão emocional
Muitos adultos que foram crianças parentificadas aprendem a ignorar os próprios sentimentos. Por não terem tido espaço para sentir, não desenvolveram habilidades para lidar com suas emoções — e podem ter dificuldade para expressá-las na vida adulta. Além disso, estabelecer limites pode ser um grande desafio. De acordo com a psicoterapeuta Merle Yost, essa dificuldade está diretamente ligada às experiências vividas na infância.
5. Você desenvolveu empatia em excesso e se adapta demais
Uma criança que precisou cuidar de outras pessoas cedo demais costuma desenvolver uma empatia acima da média e uma enorme capacidade de se adaptar ao ambiente. O problema é que essa flexibilidade pode se transformar em autoabandono. Quando o foco está sempre nas necessidades dos outros, é fácil esquecer das suas próprias — e o excesso de empatia pode levar a um sofrimento emocional intenso.
6. Você sente culpa ao se priorizar
Sua infância pode ter ensinado que seu valor está no quanto você é capaz de doar — e que, se você não fizer, ninguém fará. Isso pode fazer com que, hoje, você sinta culpa ao dizer “não” ou ao colocar suas necessidades em primeiro lugar. Essa culpa pode atrapalhar decisões importantes, como terminar um relacionamento tóxico ou sair de uma situação injusta.
7. Você sente exaustão crônica e esgotamento emocional
Manter responsabilidades adultas desde cedo deixa marcas físicas e emocionais. Muitos adultos que foram cuidadores na infância se sentem excessivamente responsáveis, constantemente insatisfeitos ou muito cansados. Isso pode aumentar o risco de desenvolver doenças crônicas, ansiedade, depressão, transtornos alimentares e até dependência de substâncias.
Como explicou o psicólogo John Bowlby: “A qualidade do cuidado que uma criança recebe dos pais nos primeiros anos é de vital importância para sua saúde mental futura”. Perceber tudo isso não é fácil — e não se trata de culpar ninguém, mas de entender o que aconteceu e como isso ainda afeta você. Se não identificarmos a origem de certos comportamentos, seguimos repetindo padrões sem compreender o motivo. Para corrigir o que não está funcionando, o melhor caminho é buscar apoio de um profissional de saúde mental. Afinal, você também tem o direito de ser cuidado.