
Bacharel em Psicologia pela UFF (Universidade Federal Fluminense) e pós-graduanda em Prática Baseada em Evidências Cient...
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Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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Guardar mágoas da infância é mais comum do que parece — especialmente quando essas mágoas envolvem nossos pais. Às vezes, são palavras que marcaram, atitudes que machucaram ou simplesmente a sensação de não ter recebido o cuidado emocional de que precisávamos.
O problema é que, quando essas feridas não são resolvidas, elas continuam influenciando nossos relacionamentos, decisões e até a forma como enxergamos a nós mesmos. Mas é possível virar essa chave. A psicóloga Rebeca Carletto compartilhou cinco dicas práticas para ajudar você a lidar com esse rancor e, aos poucos, se libertar dele — sem precisar fingir que nada aconteceu.
Por que sentimos mágoa dos nossos pais?
É comum que, ao longo da vida adulta, certas mágoas relacionadas aos nossos pais comecem a aparecer com mais clareza — às vezes como um incômodo, outras como verdadeiros ressentimentos que insistem em permanecer. Mas por que isso acontece, mesmo com o passar do tempo e o amadurecimento? Segundo a psicóloga Rebeca Carletto, tudo começa na infância.
“Quando somos crianças, dificilmente conseguimos entender ou nomear nossos sentimentos, especialmente diante de experiências negativas com figuras parentais”, explica a especialista. “A gente sente, mas não sabe o que está acontecendo — e, muitas vezes, também não tem com quem conversar sobre isso.”
Na fase adulta, essas feridas não resolvidas podem continuar reverberando por diversos motivos, como a falta de comunicação, a dificuldade em resolver conflitos antigos ou o peso de expectativas que nunca foram atendidas. E o impacto não é pequeno. “Essas vivências afetam diretamente a nossa forma de ser e estar no mundo”, diz Rebeca.
Segundo ela, a forma como fomos cuidados (ou não) interfere na maneira como aprendemos a nos enxergar, a enxergar o outro e a construir relacionamentos. “Isso pode se manifestar em dificuldades para expressar emoções, resolver conflitos de forma construtiva ou até em uma busca constante por validação e reconhecimento”, afirma.
Muitas vezes, esses sentimentos mal resolvidos acabam sendo levados para outras relações — com parceiros, filhos ou colegas de trabalho. “Sem perceber, a gente projeta dores antigas em pessoas que não têm relação direta com elas, e isso cria padrões difíceis de quebrar”, conclui a psicóloga.
5 dicas para aliviar o sentimento de rancor dos pais
1. Reconheça o que você sente — sem culpa
O primeiro passo é parar de tentar engolir o que machuca. “Reconhecer e aceitar os sentimentos de mágoa e rancor, sem julgamento, é essencial”, explica Rebeca. “Você não precisa justificar ou racionalizar a dor — apenas aceitar que ela existe já é um grande avanço.”
2. Rompa com os padrões que te prendem
Uma vez que você começa a entender seus sentimentos, o próximo passo é não repetir os ciclos que causaram dor. “Buscar experiências relacionais mais saudáveis e evitar repetir padrões disfuncionais é um movimento fundamental para a mudança”, diz a psicóloga. Isso pode envolver repensar como você lida com conflitos, como expressa suas emoções e até o tipo de vínculo que constrói com outras pessoas.
3. Considere a psicoterapia como aliada
Mexer em feridas profundas não é fácil — e tentar fazer isso sozinho pode ser ainda mais difícil. “A psicoterapia pode ser fundamental para identificar as raízes dessa dor, aprender estratégias de enfrentamento e construir uma compreensão mais madura das relações familiares”, afirma Rebeca. O processo terapêutico é um espaço seguro para elaborar o passado e desenvolver um novo olhar sobre ele.
4. Avalie se uma conversa vale a pena
Nem sempre é possível — ou indicado — retomar esse diálogo com os pais. Mas, em alguns casos, conversar pode ser útil. “Refletir se uma conversa honesta com os pais é possível e benéfica pode ajudar no processo”, orienta a psicóloga. A ideia aqui não é buscar um pedido de desculpas perfeito, e sim criar espaço para expressar o que ficou engasgado.
5. Entenda que perdoar não é esquecer — e tudo bem
“A reconciliação nem sempre é possível — ou necessária”, lembra Rebeca. “Relacionamentos dependem de ambas as partes. Às vezes, a outra pessoa não está disposta ou não tem condições de se envolver nesse processo.” Por isso, o mais importante é trabalhar pela reconciliação interna: entender sua dor, ressignificar o passado e encontrar formas mais saudáveis de seguir em frente.