
Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
i
Embora possamos pensar o contrário, as crianças observam tudo o que fazemos. Elas não apenas prestam atenção quando as repreendemos, mas também quando interagimos com outras pessoas. E essas interações podem ser mais prejudiciais do que imaginamos — e nossos filhos acabam absorvendo isso.
O neuropsicólogo Álvaro Bilbao explica que “como uma substância tóxica, essas atitudes podem se fixar gradualmente na maneira de pensar e sentir das crianças, levando-as a desenvolver crenças que podem ser muito prejudiciais ao seu crescimento emocional”. Cometemos erros nos relacionamentos, especialmente com nossos parceiros, e as crianças absorvem isso como verdadeiras esponjas.
A psicóloga Claire Nicogossian, professora assistente de psiquiatria e comportamento humano na Universidade Brown, explicou ao Huffington Post que é essencial que os pais reconheçam seus erros. “Eles são inevitáveis e oferecem uma oportunidade de crescer e aprender — é assim que desenvolvemos sabedoria como pais”, disse ela. Mas, embora seja importante assumir os próprios erros, existem atitudes tóxicas que devem ser evitadas, tanto para o bem do relacionamento quanto para o bem-estar emocional dos filhos e dos relacionamentos que eles terão no futuro.
Falar mal do seu parceiro
Os renomados psicólogos John e Julia Gottman, após anos de pesquisa, concluíram que o maior indicador de separação em um casal é o desprezo — um dos chamados “quatro cavaleiros do apocalipse” dos relacionamentos.
Isso inclui desrespeitar o parceiro, seja insultando-o (“você é burro”), diminuindo-o (“você realmente está chateado com isso? Que bobagem”), fazendo comparações ofensivas (“qualquer outra pessoa faria isso melhor que você”), usando sarcasmo (“surpresa! Você se atrasou de novo”), zombando com gestos ou imitações ou utilizando linguagem corporal negativa, como revirar os olhos ou fazer caretas.
Seus filhos veem tudo isso — e tendem a reproduzir esses comportamentos, inclusive nos próprios relacionamentos no futuro, dificultando a construção de vínculos saudáveis.
Esconder as reconciliações após uma discussão
Se discutimos na frente dos nossos filhos, por que não mostrar também que fizemos as pazes? É normal — mesmo que tentemos evitar — discutir diante deles em alguns momentos. E demonstrar uma reconciliação afetuosa é algo que as crianças também precisam ver. Se for logo após a briga, melhor ainda. Mas, se acontecer no dia seguinte, procure contar aos filhos que a situação foi resolvida. Assim, eles aprendem que desentendimentos fazem parte de qualquer relacionamento, mas que é possível lidar com isso com respeito e diálogo.
Gritar durante a comunicação
Está comprovado que quando os pais gritam um com o outro, isso pode gerar ansiedade nas crianças. E certamente não queremos ensinar que gritar é a forma correta de resolver conflitos ou expressar necessidades. É muito melhor que a criança veja o adulto se acalmando e resolvendo a situação com serenidade do que presenciar discussões descontroladas, sem diálogo efetivo.
Claro, todos nós podemos perder a paciência em algum momento e levantar a voz. Mas, como disse Nicogossian, “as crianças observam como reagimos ao estresse, aos conflitos, à pressão e ao cansaço — e como gritamos com nossos familiares e cônjuges”. Por isso, aprender a reagir de forma mais equilibrada nesses momentos é bom não só para os filhos, mas para o próprio bem-estar dos adultos. Assim, os filhos aprendem, na prática, a forma mais saudável de agir.
Culpar o parceiro e não assumir a responsabilidade
Se a criança observa que você transfere a culpa para os outros, se esquiva da responsabilidade e nunca admite seus próprios erros, ela pode considerar esse comportamento aceitável — e repeti-lo.
“Em um conflito, geralmente há três verdades: a sua, a minha e a verdade do que realmente está acontecendo”, afirma Nicogossian. É verdade que reconhecer nossos erros pode ser difícil, mas o diálogo é fundamental. “Encontrar a verdade pode ser complicado, por isso é importante ouvir o ponto de vista do outro e trabalhar juntos para resolver o conflito. Manter limites saudáveis, segurança e confiança no relacionamento deve ser prioridade — mais do que a necessidade de ter razão ou vencer uma discussão”, conclui a especialista.
Usar linguagem do tipo "tudo ou nada"
É simples: usar palavras como “sempre” ou “nunca” generaliza a situação e dificulta o entendimento. Frases como “eu sempre tenho que limpar”, “você nunca me apoia”, “eu faço tudo sozinho” ou “nada do que eu digo é ouvido” colocam o outro na defensiva e travam o diálogo. Se quisermos uma conversa mais construtiva, o ideal é ser mais específico e olhar para o futuro. Por exemplo: “Gostaria que você me apoiasse mais quando conversamos sobre x”. Modelar uma comunicação clara e objetiva ajuda a criança a desenvolver essa habilidade também.
Leia também: Pessoas que passaram por traumas de infância e não querem que isso afete seus filhos sempre fazem isso