Formada em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Patrícia Consorte fez especialização em Terapia Intens...
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O que é Obesidade infantil?
A obesidade infantil é uma doença crônica, caracterizada pelo excesso de gordura corporal, em quantidade que prejudica a saúde da criança.
As faixas de Índice de Massa Corporal (IMC) determinadas para crianças são diferentes das de adultos e variam de acordo com gênero e idade. Hoje, a obesidade se configura como um grande problema de saúde pública.
A obesidade infantil pode trazer consequências também para a vida adulta, mesmo que seja revertida. Diabetes, hipertensão e colesterol alto são algumas das comorbidades que podem ser ocasionadas pela doença. Além disso, a condição também pode influenciar na autoestima e na saúde mental da criança.
Obesidade infantil no Brasil
Segundo dados do Ministério da Saúde, 3,1 milhões de crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) apresentam algum grau de obesidade. Isso representa 13,2% das crianças entre 5 e 10 anos e 7% das crianças menores de 5 anos.
Além disso, cerca de 28% das crianças entre 5 e 10 anos apresentam sobrepeso, o que pode levar à obesidade no futuro.
Só até setembro de 2022, 340 mil crianças foram diagnosticadas com obesidade infantil pelo SUS. Em 2021, outras 356 mil também foram diagnosticadas. As regiões sul e sudeste são as mais afetadas pela doença.
Causas
Diversos fatores podem influenciar nas causas da obesidade infantil. Entre os mais comuns estão fatores genéticos, má alimentação, sedentarismo ou uma combinação desses fatores. Além disso, a obesidade em crianças também pode ser decorrente de alguma condição médica, como doenças hormonais ou uso de medicamentos à base de corticoides.
Além disso, bebês com crescimento intrauterino restrito também podem ter maior risco de obesidade no futuro. Logo, a prevenção da doença pode começar durante o período gestacional.
Porém, apesar de ser uma condição com influência genética, nem todos os pais e mães com obesidade também terão filhos com o problema, assim como aqueles pais e mães com peso recomendado podem gerar filhos com obesidade. Isso porque a obesidade infantil também possui ligação com os hábitos alimentares da criança e da família, bem como com a realização de atividades físicas.
Dessa forma, a alimentação da criança e a quantidade de exercícios físicos que ela pratica são fatores determinantes para o aparecimento da obesidade infantil. Ter atenção a esses hábitos pode ajudar a prevenir a condição pela vida toda.
Diagnóstico
Para saber se uma criança está acima do peso recomendado ou com obesidade, é necessário fazer a conta do IMC.
Diferente dos índices para adultos, as faixas de IMC para as crianças mudam de acordo com a idade e com o sexo e existem tabelas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para fazer esse cálculo.
No entanto, o IMC não considera fatores como a quantidade de massa muscular (magra) e a estrutura física da criança, uma vez que o crescimento pode variar muito de uma para outra. Assim, um médico pode avaliar outros tópicos para determinar se o peso da criança está afetando a saúde, tais como:
- História familiar de obesidade e problemas de saúde relacionados com o peso, como diabetes
- Hábitos alimentares da criança
- Nível de atividade física que a criança faz
- Outras condições de saúde que a criança pode ter
Leia mais: Aprenda a verificar se seu filho está acima do peso usando o IMC
Fatores de risco
Os maus hábitos alimentares estão entre os principais fatores de risco para a obesidade infantil. O aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, devido à sua praticidade, tem sido cada vez maior.
Esses alimentos são ricos em açúcares e gorduras trans, além de pobres em vitaminas e fibras, importante na regulação da insulina. Alimentos muito palatáveis (muito doces ou muito salgados) geram compulsão alimentar e também devem ser evitados na infância.
O hábito de comer em frente à televisão, ao computador ou ao videogame também influencia diretamente nos riscos e impacta em vários problemas, dentre eles a perda da saciedade e a diminuição de atividades e exercícios ao ar livre praticados pelas crianças. Como consequência, a falta de atividade física leva ao sedentarismo, outro fator de risco para a obesidade infantil.
Outros fatores de risco também incluem:
- Fatores emocionais, como estresse, ansiedade e depressão, pois podem levar as crianças a se alimentarem mais do que o normal
- Histórico familiar de obesidade, uma vez que a doença possui influência genética e os maus hábitos alimentares são aprendidos com a família
Tratamento
O tratamento da obesidade infantil é complexo e envolve várias especialidades da saúde. Não existe nenhum tratamento farmacológico em longo prazo que não envolva mudança de estilo de vida.
Há várias opções de tratamento para a obesidade infantil e o sobrepeso. Quanto maior o grau de excesso de peso, maior a gravidade da doença. As crianças devem ser abordadas individualmente e conforme a idade, uma vez que cada uma pode apresentar diferentes fatores que aumentam seu risco para obesidade.
Para crianças e adolescentes que estão acima do peso recomendado ou com obesidade leve, sem risco de desenvolver outras doenças, pode ser recomendada apenas a manutenção. Isso porque o crescimento da criança pode fazer com que ela entre numa faixa de IMC saudável, sem necessariamente precisar emagrecer.
Já para crianças com obesidade instalada e risco de desenvolver outras doenças, a perda de peso é recomendada. O emagrecimento deve ser lento e constante e os métodos são os mesmos adotados para adultos – ou seja, desenvolver uma dieta saudável e praticar exercícios. O sucesso depende em grande parte de seu compromisso de ajudar a criança a fazer essas mudanças.
Alimentação saudável
A alimentação e a saúde andam lado a lado desde o nascimento. Antes de qualquer coisa, uma rotina alimentar equilibrada ajuda a prevenir enfermidades e tem um papel fundamental no tratamento de obesidade infantil.
Embora possa ser difícil no início, pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença na saúde da criança, tais como:
- Invista nas frutas, legumes e vegetais
- Prefira alimentos integrais aos refinados
- Evite alimentos como biscoitos, bolachas e refeições prontas. Eles são ricos em açúcar, sódio e gorduras – tudo o que a criança não pode comer em exagero
- Limite o consumo de bebidas adoçadas, incluindo os sucos industrializados. Essas bebidas são muito calóricas e oferecem poucos ou nenhum nutriente
- Reduza o número de vezes em que a família vai comer fora, especialmente em restaurantes de fast-food. Muitas das opções do menu são ricas em gordura e calorias
- Sirva porções adequadas, uma vez que as crianças comem bem menos do que os adultos. Se a criança não conseguir comer todo o prato, é importante não forçá-la a tal
Leia mais: Brincadeiras de infância te ajudam a entrar em forma
Prática de atividade física
Além de queimar calorias, os exercícios físicos também ajudam a fortalecer os ossos e os músculos das crianças, melhoram seu humor e ajudam no sono. Outro fator importante é que o incentivo à atividade física na infância pode fazer com que a criança mantenha esses hábitos no futuro, evitando a obesidade ao longo da vida.
Crianças devem fazer pelo menos um tipo de atividade física todos os dias, seja ela programada (academia, esportes ou aulas de dança, por exemplo) ou não programada (brincadeiras, como pega-pega, esconde-esconde e usar os brinquedos de um parque).
Medicamentos
Para casos graves de obesidade infantil, já associados com outras condições, podem ser prescritos medicamentos. No entanto, o tratamento farmacológico não é frequentemente recomendado para adolescentes e crianças – a não ser que tenham alguma doença que necessite de tratamento com remédios, como distúrbios da tireoide ou colesterol alto.
Mesmo assim, os medicamentos não substituem a adoção de hábitos saudáveis, como dieta e prática de exercícios.
Cirurgias
A cirurgia bariátrica só é recomendada em casos extremamente graves de obesidade infantil, que não tiveram resultados com outros tratamentos, uma vez que é uma cirurgia bastante invasiva e não se sabe ao certo os efeitos do procedimento no desenvolvimento da criança.
Mesmo assim, a cirurgia não é a resposta fácil para perda de peso. Ela não garante que a criança vai perder o excesso de peso, nem mesmo que o peso será mantido depois. Também não substitui a necessidade de seguir uma dieta saudável e um programa de atividade física regular.
Prevenção
A prevenção é a melhor forma de evitar as complicações da obesidade infantil e garantir que a criança não desenvolva outros problemas na vida adulta. Alguns hábitos podem ajudar a prevenir, como:
- Manter visitas anuais de acompanhamento com um especialista
- É importante que os pais deem um bom exemplo, mantendo uma rotina alimentar saudável e realizando exercícios físicos regularmente
- Enfatizar o positivo, destacando o lado benéfico da boa alimentação e do exercício
- Ser paciente. Muitas crianças com excesso de peso podem chegar a um peso saudável com o crescimento. Perceber, também, que exagerar nas recomendações de dieta e atividade física pode sair pela culatra, fazendo a criança comer mais e aumentando o risco de um distúrbio alimentar ou outro problema grave
Convivendo (Prognóstico)
Existem algumas estratégias que os pais podem adotar para incentivar os filhos a se alimentarem melhor e a investirem na prática de exercícios físicos.
Se a criança se recusa a comer, seja firme
É muito importante que os pais fiquem firmes com a criança e sempre exponham os motivos pelos quais ela deve comer o que eles estão indicando. Os pais sob nenhuma hipótese devem ameaçar as crianças ou forçá-las a comer e sim explicar a importância daquele alimento para a sua saúde.
As crianças precisam provar várias vezes um alimento antes de dizer que não gostam dele. O ideal é fazer isso desde cedo, evitando comidas e bebidas mais palatáveis, como itens refinados ou açucarados artificialmente. Isso não chega a prejudicar o paladar, mas se os pais só comem e só oferecem para os filhos os sabores salgado e doce, o azedo e o amargo ficam discriminados e a criança se condiciona a não gostar deles.
Colocar um legume picado com o macarrão ou arroz, por exemplo, é uma ótima pedida. Se a criança não foi acostumada desde cedo, é preciso ter paciência, pois ela realmente demorará um tempo para se adaptar aos outros sabores.
Deixe os alimentos atraentes
Não adianta nada ofertar alimentos saudáveis sem que eles pareçam apetitosos. É claro que se a criança tem como lanches favoritos salgadinhos e frituras, você deve substituí-los por outros itens. Porém, é possível colocar os itens mais saudáveis com uma apresentação mais agradável para a criança.
O ideal é introduzir os novos alimentos com mais calma, sem fazer muito alarde para a novidade do cardápio. Se os pais falam muito que hoje o filho vai provar algo novo, isso pode atrapalhar a aceitação.
Caso o item não faça tanto sucesso inicialmente, vale apresentá-lo para a criança de uma outra forma, misturado a outros itens, por exemplo. Mexer com o lúdico no prato da criança também é muito importante, brincando com as cores e montando pratos mais agradáveis ao olhar.
Evite barganhar
Barganhar muitas vezes é uma atitude eficaz, mas nem sempre é a melhor forma de educar uma criança. Ao negociar o consumo de vegetais no almoço por uma bela sobremesa, por exemplo, você não ensina o principal, ou seja, a necessidade de saúde na refeição, só faz uma troca sem dar a maturidade para a criança entender o motivo disso. Ou seja, a criança só fará a ação em busca de um ganho e não porque é o certo.
Incentive novas modalidades de atividade
É comum os adolescentes não gostarem de praticar atividades físicas por terem como única referência as aulas na escola ou a academia de musculação, que podem ser consideradas entediantes pelo jovem.
Uma forma interessante de descobrir novas atividades é levá-lo a clubes ou a academias que ofereçam aulas variadas, como lutas e dança. Desse modo, o jovem pode assistir um pouco de cada aula, observar as características dos alunos e associar essa dinâmica às habilidades e preferências que ele possui.
No caso das crianças, encontre atividades que também estão ligadas com seu gosto pessoal. Se ela gosta da natureza, experimente uma caminhada no parque para colher folhas ou observar animais.
Se ela gosta de subir em objetos ou móveis, encontre parques com brinquedos que possibilitem essa interação, como barras. Se a criança gosta de ler, pode fazer uma caminhada a pé ou de bicicleta para uma biblioteca.
Passeios em família
Atividades em grupo e ao ar livre são altamente motivacionais. Uma ida ao parque no final de semana pode ser um empurrão para o começo da prática de atividades físicas. Alugar patins e bicicletas ou mesmo praticar algum esporte em grupo pode servir de estímulo para o adolescente ou criança perceber que os exercícios não são desagradáveis como ele pensava.
Dê o exemplo
Não basta insistir para que seu filho ou filha saia do computador enquanto você mesmo não pratica nenhuma atividade. Os filhos têm os pais como referência e podem usar o sedentarismo deles como desculpa para também não praticarem exercícios. Ter atenção aos próprios costumes é importante para dar um bom exemplo aos seus filhos de forma que eles encarem a atividade física como algo benéfico.
Dê suporte
Os pais desempenham um papel crucial para ajudar as crianças com obesidade a controlarem o peso. Aproveite todas as oportunidades para construir a autoestima da criança. Converse com seus filhos diretamente, abertamente e sem crítica ou julgamento. Outras atitudes podem ajudar, como:
- Seja sensível às necessidades e sentimentos da criança
- Encontre razões para louvar os esforços dela
- Converse sobre seus sentimentos
- Ajude-a a focar em objetivos positivos
Complicações possíveis
A síndrome metabólica é o problema mais observado em crianças com obesidade, na faixa etária de 7 a 8 anos de idade. Diabetes, hipertensão, doenças cardíacas e cerebrovasculares, distúrbios respiratórios e de fertilidade também podem ocorrer em decorrência da doença.
Em adolescentes, é possível observar diversos outros problemas, como baixa autoestima, isolamento social, ansiedade e depressão. Outras complicações podem incluir:
- Colesterol alto
- Hipertensão
- Doença cardíaca precoce
- Compulsão alimentar
- Distúrbios de imagem
- Absenteísmo alimentar
- Diabetes tipo 2
- Problemas ósseos
- Distúrbios do sono
- Esteatose hepática não alcoólica
- Puberdade precoce
- Asma e outras doenças respiratórias
- Condições de pele, como brotoeja, infecções fúngicas e acne
- Problemas de comportamento