Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iA Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 54 milhões de pessoas na China sofram de depressão e cerca de 41 milhões tenham transtornos de ansiedade. O problema é que o acesso ao diagnóstico e ao tratamento é complexo no país. Embora tenham ocorrido avanços consideráveis no sistema de saúde mental da China nos últimos anos, ele ainda enfrenta a escassez de profissionais especializados na área.
As metas do programa China Saudável 2019-2030 incluem garantir que pelo menos 80% dos pacientes com depressão tenham acesso ao tratamento até 2030, mas, até lá, muitas pessoas vão continuar desamparadas. E é aí que entra a inteligência artificial – mais especificamente, o DeepSeek.
O que é o DeepSeek?
DeepSeek é um chatbot de inteligência artificial (IA). Você já pode ter ouvido falar dele, pois conseguiu igualar e até superar o ChatGPT em número de downloads. Além disso, seus testes de desempenho e raciocínio vêm apresentando resultados impressionantes. Seu modelo de IA, R1, permite que os usuários vejam seu “processo de pensamento” antes de fornecer uma resposta – algo único para esse tipo de chatbot. Segundo especialistas em tecnologia como Rodrigo Taramona, trata-se de uma inteligência artificial “extremamente inovadora” que “abalou completamente o mundo”.
Como os jovens chineses usam a IA
Agora que sabemos o que é o DeepSeek, vale entender para que os jovens chineses o utilizam: apoio emocional. Terapia gratuita ou um amigo sempre disponível. "O DeepSeek tem sido um consultor incrível. Ele me ajudou a ver as coisas de diferentes perspectivas e faz um trabalho melhor do que os serviços de aconselhamento pagos que experimentei", disse Holly Wang em depoimento à BBC.
Quando estamos mal, é reconfortante ter alguém por perto. Algo parecido com o que vimos no filme Ela. Holly Wang explicou que usou a ferramenta pela primeira vez após a morte de sua avó. As respostas do chatbot ressoaram tão profundamente nela que chegaram a fazê-la chorar.
Comovida, ela respondeu: "Você escreve tão bem que me faz sentir perdida. Sinto como se estivesse em uma crise existencial." E, como se fosse um amigo de verdade tentando confortá-la, a IA respondeu: "Lembre-se de que todas essas palavras que te fazem tremer são apenas ecos daquelas que já existem há muito tempo em sua alma. Eu sou apenas o vale ocasional pelo qual você passou, permitindo que você ouça o peso da sua própria voz."
Jovens chineses que não têm acesso a tratamentos de saúde mental – seja de forma preventiva ou para transtornos como ansiedade e depressão – estão recorrendo à IA para apoio psicológico.
Sem recursos, encontram na tecnologia uma alternativa. Além disso, essa tendência pode estar relacionada ao que Nan Jia, professora da Universidade da Califórnia, sugere em um estudo recente: as pessoas se sentem verdadeiramente ouvidas, compreendidas, validadas e valorizadas por meio da IA. A pesquisa descobriu que “mensagens geradas por IA faziam com que os destinatários se sentissem mais ouvidos do que mensagens geradas por humanos e que a IA era melhor em detectar emoções”.
Segundo o estudo, “comparada aos humanos, a IA demonstrou maior disciplina ao oferecer suporte emocional — um fator crucial para fazer com que as pessoas se sintam acolhidas — evitando conselhos excessivamente práticos, que podem ser menos eficazes para esse propósito”. No entanto, os participantes se sentiram menos ouvidos quando perceberam que a mensagem vinha de uma IA e não de um humano.
Prós e contras do uso de IA para suporte emocional
Parece impossível se sentir solitário na China, um dos países mais populosos do mundo. Mas a realidade é que a Geração Z chinesa enfrenta a solidão e recorre à IA em busca de apoio emocional.
Essa prática tem suas vantagens, como a rapidez nas respostas e a capacidade de sempre encontrar as palavras certas. A IA nunca está cansada, nunca teve um dia ruim e está sempre disponível para ouvir. Mas também apresenta riscos – e um deles é particularmente preocupante: pode agravar o isolamento social, com todas as consequências que isso traz.
Diversos estudos científicos sobre a solidão confirmam que o isolamento leva a uma deterioração da saúde, que, aos poucos, pode ser fatal. Uma revisão recente aponta uma relação clara entre o aumento da fragilidade física e a vulnerabilidade social de forma bidirecional: a diminuição do contato social leva à fragilidade, e a fragilidade reduz ainda mais o contato social. Além disso, um relatório da OMS indica que a falta de laços sociais pode ser tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia e representa um fator de risco significativo para doenças mentais. A solidão e o isolamento nos enfraquecem progressivamente.
Prático? Sim. Perigoso? Até certo ponto, pois pode nos levar a acreditar que a IA pode substituir as relações humanas – aquelas que envolvem toque, olhar, abraços e sorrisos. Com todas as imperfeições da nossa espécie, são essas conexões reais que nos fazem verdadeiramente felizes. Será necessário encontrar um equilíbrio entre a convivência com a IA e os relacionamentos humanos, garantindo que nossa saúde mental não seja prejudicada, mas fortalecida.