Matias Chiarastelli Salomão é microbiologista e infectologista do Fleury Medicina e Saúde. Formado pela Universidad...
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O Japão está enfrentando um surto de casos da síndrome do choque tóxico estreptocócico, uma forma mais grave e potencialmente mortal da doença estreptocócica do grupo A. A atual taxa de mortalidade da doença é de aproximadamente 30%, o que deixou as autoridades em alerta.
No ano anterior, foram relatados 941 casos da infecção, de acordo com relatórios do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas (NIID). Já nos primeiros três meses de 2024, o país registrou cerca de 517 casos — e a expectativa é que o número aumente no decorrer deste ano.
Mas afinal, o que provoca a infecção? Na maioria dos casos, a doença é causada pela bactéria Streptococcus pyogenes, que recebeu erroneamente o apelido de "vírus comedor de ânus". De acordo com o infectologista do Fleury Medicina e Saúde, Matias Chiarastelli Salomão, infecções causadas por esse microrganismo são comuns, sendo a principal causa de amigdalite bacteriana, especialmente em crianças.
"Porém, muito raramente, algumas cepas podem ser hipervirulentas, causando surtos de infecções mais graves, como o que estamos vendo no Japão. Nos casos mais sérios, pode levar à falência de órgãos e necrose. A bactéria é chamada de 'comedora de carne' porque causa necrose de uma faixa de tecido que cerca os músculos dos pacientes", explica o especialista.
O MinhaVida reuniu as principais informações sobre como a doença é transmitida, os principais sintomas e como é feito o tratamento.
Como ocorre a transmissão da Streptococcus pyogenes?
A transmissão da bactéria ocorre através de gotículas respiratórias expelidas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra, similar à gripe ou à COVID-19. A bactéria também pode infectar pacientes através do contato direto com feridas e úlceras dos pacientes.
A causa do aumento de casos no Japão ainda está sendo investigada, mas uma das hipóteses é que se trata de uma variante chamada M1UK, que é considerada altamente transmissível entre as bactérias estreptococos do grupo A.
"Alguns especialistas acreditam que o aumento na transmissão possa estar relacionado à suspensão das restrições impostas durante a pandemia de coronavírus, havendo maior transmissão de patógenos devido ao não uso de máscaras", acrescenta Matias.
Como a doença se manifesta?
Os sintomas da síndrome do choque tóxico podem se manifestar subitamente, semelhantes a um resfriado, e piorar ao longo de poucos dias. Entre os sinais alarmantes, estão:
- Febre alta
- Dor de garganta
- Náuseas
- Dores musculares
- Dor de cabeça
- Diarreia
- Confusão mental
- Queda na pressão arterial
- Problemas respiratórios, como dificuldade de respirar
Em casos mais graves, a bactéria pode colonizar orifícios corporais, como ânus, garganta, narinas e genitais, onde provoca a necrose do tecido. O maior risco está entre os idosos acima de 60 anos.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da síndrome de choque tóxico é baseado nos sintomas e nos resultados de um exame físico e de exames de sangue. As amostras de sangue também são enviadas a um laboratório, onde as bactérias podem ser cultivadas. Podem ser pedidos exames de imagem, como ressonância magnética ou tomografia computadorizada, para verificar os locais de infecção.
Como é feito o tratamento da síndrome de choque tóxico?
As infecções por estreptococos do grupo A são tratadas com a administração de antibióticos e, em alguns casos, os pacientes são hospitalizados na unidade de tratamento intensivo (UTI). São administrados líquidos por via intravenosa que contêm sais e, frequentemente, medicamentos para aumentar a pressão arterial a níveis normais.
"Pacientes com a doença estreptocócica invasiva mais grave provavelmente precisarão de uma combinação de antibióticos e outros medicamentos, juntamente com atenção médica intensiva e até mesmo cirurgia", explica Matias. A cirurgia pode ser indicada para remover o tecido infectado pela bactéria.
Como se proteger da síndrome do choque tóxico?
Matias indica que "a melhor maneira para evitar o contágio, é higienizar as mãos frequentemente com água e sabão ou álcool em gel, evitar colocar as mão no rosto, olhos ou boca — além de manter cuidados adequados com feridas abertas, com curativos e cobertura adequada".