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O que é Botulismo?
O botulismo é uma doença bacteriana grave e não contagiosa causada pela ação de uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. A bactéria pode entrar no organismo por meio de machucados ou pela ingestão de alimentos contaminados, principalmente enlatados e os que são preservados inadequadamente. É considerada uma patologia rara.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as toxinas de botulismo são algumas das substâncias mais letais conhecidas pela medicina.
Causas
O botulismo é causado pela bactéria Clostridium botulinum, que pode ser encontrada no solo e em água não tratada. Essa bactéria produz esporos que sobrevivem até em ambientes com pouco oxigênio, como alimentos em conserva ou enlatados. Nesses ambientes, ela produz uma toxina que, mesmo sendo ingerida em pouquíssima quantidade, pode causar envenenamento grave.
As causas de botulismo dependem do tipo específico da doença.
Botulismo infantil
Também conhecido como botulismo do lactante, este é o tipo mais comum da doença e costuma acometer crianças de aproximadamente 2 a 6 meses de idade. Aqui, a bactéria causadora do botulismo multiplica-se e libera toxinas dentro do trato gastrointestinal do bebê e pode causar graves complicações à sua saúde.
Botulismo alimentar
Esse tipo de botulismo se pega por meio da ingestão de alimentos contaminados com a bactéria – que geralmente se prolifera em ambientes com pouco oxigênio, como no caso de alimentos enlatados. Os alimentos mais comumente contaminados pela bactéria são vegetais em conservas caseiras, carne de porco e presunto, peixe defumado ou cru, mel e vísceras de crustáceos.
Botulismo das feridas
As bactérias podem entrar no organismo por meio de lesões na pele, machucados e outras feridas, onde liberam as toxinas e levam a uma grave infecção. Essa é a forma mais rara de botulismo.
Saiba mais: Veja os cuidados ao ingerir enlatados
Tipos
O botulismo apresenta três formas, sendo todas fatais e consideradas emergências médicas. São elas:
- Botulismo infantil ou botulismo de lactante
- Botulismo alimentar
- Botulismo das feridas
Sintomas
O período de incubação da bactéria causadora do botulismo, geralmente, varia de algumas horas até oito dias. O tempo de incubação depende muito da quantidade de toxina liberada dentro do organismo e do tipo da doença. Segundo Raquel Muarrek, infectologista do São Luiz e da Medicina Interna Personalizada (MIP), os sintomas são classificados entre leve, moderado e grave.
Botulismo infantil
Se o botulismo infantil está relacionado à ingestão de alimentos contaminados, como o mel, os problemas geralmente começam dentro de 18 a 36 horas após a toxina entrar no corpo do bebê. Os sinais e sintomas incluem:
- Constipação (muitas vezes o primeiro sinal)
- Movimentos flexíveis, devido à fraqueza muscular e dificuldade para controlar a cabeça
- Choro fraco
- Irritabilidade
- Baba excessiva
- Pálpebras caídas
- Cansaço
- Dificuldade de sucção ou alimentação
- Paralisia
- Confusão.
Botulismo alimentar
Como no caso do botulismo infantil, os sintomas de botulismo alimentar começam tipicamente algumas horas após a toxina entrar no corpo, mas pode variar durar até vários dias, dependendo da quantidade de toxina ingerida. Os sintomas de botulismo alimentar incluem:
- Dificuldade para engolir ou falar
- Boca seca
- Fraqueza faciais em ambos os lados da face
- Visão turva ou dupla
- Pálpebras caídas
- Dificuldade para respirar
- Náuseas, vômitos e cólicas abdominais
- Paralisia
- Sensibilidade a luz
- Confusão.
Botulismo das feridas
A maioria das pessoas usuárias de drogas injetáveis desenvolvem botulismo por feridas. Em geral, é difícil estimar quanto tempo leva para os sintomas se manifestarem depois que a toxina entra no corpo nesses casos. No entanto, ao penetrar a corrente sanguínea por meio de um machucado na pele, por exemplo, as toxinas se espalham muito mais rapidamente pelo corpo.
Os sintomas do botulismo por feridas inclui:
- Dificuldade em engolir ou falar
- Fraqueza facial em ambos os lados da face
- Visão turva ou dupla
- Pálpebras caídas
- Dificuldade em respirar
- Paralisia
Diagnóstico
O processo de diagnóstico, geralmente, começa com um exame físico feito pelo próprio médico no consultório. Nele, o especialista poderá detectar sinais de:
- Ausência ou diminuição dos reflexos do tendão profundo
- Ausência ou diminuição do reflexo faríngeo
- Pálpebra caída
- Perda da função/sensibilidade muscular
- Intestino paralisado
- Comprometimento da fala
- Retenção urinária com possível incapacidade de urinar
Podem ser realizados, também, exames de sangue para identificar a toxina no organismo e exame de fezes, além de exames laboratoriais no alimento suspeito de conter a bactéria transmissora de botulismo.
Fatores de risco
Há fatores de risco específicos para cada tipo de botulismo, sendo eles:
- Para o botulismo infantil, o maior e único fator de risco é a idade. Ter entre dois e seis meses e ser exposto aos esporos bacterianos de botulismo podem levar à contaminação
- Para o botulismo alimentar, ingerir alimentos mal conservados ou enlatados vencidos é o principal fator de risco para contrair a doença. Beber água contaminada com a bactéria do botulismo também pode levar à doença. Por isso, viver em regiões que não dispõem de saneamento básico adequado ou de tratamento de água também pode elevar os riscos de uma pessoa apresentar a condição
- Para o botulismo das feridas, um dos fatores de risco é ter uma lesão na pele e ser exposto aos esporos da bactéria. Outro fator é ser usuário de drogas injetáveis.
Tratamento
O principal objetivo do tratamento de botulismo é controlar os sintomas e evitar eventuais complicações. Se imediato, ele reduz significativamente o risco de morte do paciente.
A hospitalização é exigida em quase todos os casos, pois a doença pode levar a problemas respiratórios e eles costumam ser fatais. Para esses casos, uma sonda poderá ser inserida por meio do nariz ou da boca para o interior da traqueia, proporcionando uma passagem para o oxigênio se for necessário.
O paciente pode necessitar de um aparelho de respiração artificial também. Além disso, os pacientes com dificuldade para deglutir podem receber líquidos intravenosos.
Em geral, o tratamento para botulismo é feito por meio de medicamentos específicos, chamados antibotulínicos, que agem diretamente contra a toxina liberada pela Clostridium botulinum. Segundo Muarrek, a injeção da antitoxina ajuda na diminuição das sequelas e na gravidade do quadro.
Tem cura?
O tratamento imediato reduz significativamente o risco de morte do paciente, mas é preciso acompanhamento médico. Além disso, o processo de recuperação é lento e depende de como o sistema imunológico reage para eliminar a toxina do corpo.
Prevenção
Existem alguns hábitos e cuidados que podem ajudar a prevenir o botulismo, especialmente no que se diz respeito à preparação e ao consumo de alimentos. São eles:
- Não consuma alimentos caso haja alguma irregularidade na embalagem, como lata enferrujada, por exemplo
- O preparo de conservas caseiras deve obedecer rigorosamente aos cuidados de higiene
- Ferva os alimentos enlatados ou as conservas antes de consumi-los. Altas temperaturas podem eliminar as toxinas do botulismo
- O mel é um dos alimentos mais perigosos se for mal conservado. Nunca dê mel para uma criança com menos de um ano de idade.
Complicações possíveis
A toxina botulínica afeta o controle motor e, por essa razão, pode levar a diversas complicações. Ela pode levar à insuficiência respiratória, que, no geral, é a forma mais comum de morte causada por botulismo. Outras complicações podem incluir:
- Dificuldade para falar
- Dificuldade para engolir
- Fraqueza de longa duração
- Fadiga
- Pneumonia por aspiração e infecção
- Problemas no sistema nervoso em geral
Referências
Sociedade Brasileira de Infectologia
Raquel Muarrek (CRM 83161), infectologista do São Luiz e da Medicina Interna Personalizada (MIP)