Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iFicamos impressionados com o sucesso de pessoas como Bill Gates e Oprah Winfrey — ou melhor, com suas fortunas e até mesmo com o que decidem fazer com elas. Mas será que o sucesso é realmente a chave para a felicidade?
Aristóteles e Marco Aurélio não almejavam riquezas extraordinárias. O que desejavam era alcançar a valiosa mediocridade — e esse pensamento talvez nunca tenha sido tão atraente quanto agora.
O que queremos dizer com sucesso em 2025
Embora o sucesso devesse ser um conceito pessoal, a RAE o define como o “resultado feliz de uma ação ou algo empreendido”, ou seja, o desfecho satisfatório de uma iniciativa. Hoje em dia, sucesso é sinônimo de fama, dinheiro e produtividade. É isso que chamamos de cultura da correria: uma resposta direta ao medo do fracasso, alimentada por uma lógica de trabalho tóxica.
Durante muito tempo, esse modelo de sucesso, impulsionado pelo capitalismo, foi visto como caminho para a felicidade. Mas há esperança: os indicadores tradicionais de sucesso já não bastam para nos sentirmos realizados. Os mais jovens afirmam que a cultura da correria, com a qual nós — da geração Y — crescemos, "confunde ocupação com produtividade, exaustão com realização e, mais perigosamente, autoestima com sucesso profissional", gerando ansiedade, esgotamento e um vazio existencial que compromete nosso bem-estar.
O que significava sucesso em 300 a.C.
A palavra "mediocridade" vem do latim mediocris, que significa "médio" ou "moderado" — e, naquela época, não tinha conotação negativa. Em “Ética a Nicômaco”, Aristóteles apresenta a ideia do mesotes (μέσος), ou "justo meio", como uma posição intermediária entre dois extremos: o excesso e a deficiência.
Por exemplo, entre a covardia e a imprudência, está a coragem. O termo aristotélico eudaimonia, geralmente traduzido como felicidade, dizia respeito a viver uma vida boa — e não dependia do nosso humor, mas sim de uma existência guiada pela virtude. Para o filósofo, a virtude (o que hoje poderíamos chamar de sucesso) estava justamente nesse ponto de equilíbrio: na mediocridade. Ou seja, o verdadeiro sucesso consistia em ser moderado.
Aristóteles não foi o único a valorizar a mediocridade. Em “Meditações”, Marco Aurélio compartilha a mesma visão: para ele, a virtude (novamente, o sucesso) não se resumia à conquista de feitos grandiosos, mas ao cultivo da paz interior e da coerência moral. Era, mais uma vez, a ideia da mediocridade virtuosa.
O equívoco de pensar que mais sempre nos fará felizes
De acordo com a teoria psicológica da esteira hedônica, temos o hábito de nos adaptar rapidamente ao que é bom e ao que é ruim — o que está diretamente ligado à busca por prazer. Queremos algo porque acreditamos que tê-lo nos fará felizes. Mas, ao conquistá-lo, logo perdemos o interesse e voltamos ao mesmo estado anterior de insatisfação, perseguindo uma nova meta, certos de que desta vez seremos felizes. É uma espécie de roda de hamster da qual parece impossível escapar — em parte, graças ao capitalismo.
Essa sede por mais — mais reconhecimento, mais conquistas, mais posses — é receita certa para frustração e insatisfação. E pode nos levar a um estado constante de ansiedade por não termos o que achamos que merecemos.
A verdadeira felicidade não está nesse sucesso
Jamie Ducharme disse à revista Time: "Desde pequenos, somos ensinados que podemos ser tudo o que quisermos, que com esforço suficiente podemos alcançar grandes feitos. A mensagem implícita é que devemos alcançar grandes feitos — custe o que custar". É aí que entra o conceito de felicidade hedônica, que define bem-estar como a obtenção de prazer e a evitação da dor. Essa é a felicidade associada ao sucesso dentro da lógica capitalista, movida por fatores externos.
Já a felicidade eudaimônica, defendida por Aristóteles, busca uma satisfação interna e estável, baseada em uma vida virtuosa. Essa mediocridade virtuosa, bem compreendida, pode nos conduzir a uma vida plena. Isso não significa desistir do sucesso (entendido como atingir metas), mas sim evitar colocá-lo como o centro da vida. Essa visão clássica de uma boa vida — modesta, equilibrada e voltada para o interior — se aproxima muito mais da felicidade autêntica do que o ideal contemporâneo de sucesso.
Podemos aplicar isso em nossas vidas ou estamos condenados?
A solução está ao nosso alcance. Envolve caminhar rumo a uma mediocridade consciente e tranquila, que nos proporcione bem-estar. Para isso, talvez seja necessário repensar nosso próprio conceito de sucesso, fracasso e até mesmo felicidade — ainda que a Universidade de Harvard já tenha deixado claro que ela reside, em grande parte, na qualidade dos nossos relacionamentos.
Marina van Zuylen, professora de Francês e Literatura Comparada no Bard College, argumenta em seu livro “In Praise of Minor Virtues” que termos como “sucesso” e “fracasso” tornaram-se perigosamente polarizados, distorcendo nossa percepção de realização pessoal. Ela propõe buscar “a excelência em tom menor”, prestando atenção às pequenas ações cotidianas e às virtudes discretas que passam despercebidas em uma sociedade obcecada por produtividade e reconhecimento.
Em entrevista à Ethic, a autora afirmou: “Encontrar sua excelência é como empreender uma preciosa escavação arqueológica: leva tempo, mas as recompensas são maravilhosas”. Essa recompensa nada mais é do que a felicidade — e já vimos de onde ela pode vir: da mediocridade que Aristóteles e Marco Aurélio tanto valorizavam.
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