Claudia Liboni é médica formada pela Unifesp - Escola Paulista de MedicinaResidência de Clínica Médica, e Endocrinologia...
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O diabetes é uma condição que ocorre quando o organismo não consegue produzir insulina — hormônio responsável por regular o açúcar no sangue — suficiente. Quando o diagnóstico é feito, esse hormônio precisa ser reposto regularmente para que tudo funcione bem. Claudia Liboni, endocrinologista do Hospital Santa Paula, explica que, nesses casos, saber como aplicar a insulina da forma correta é primordial para a sua eficácia.
“É preciso rodiziar os locais de aplicação, porque se aplicarmos sempre no mesmo local, pode ocorrer uma alteração de pele chamada lipodistrofia. Com essa alteração, que pode causar nódulos no subcutâneo, a absorção da insulina fica diferente. Ela pode ser mais rápida ou mais lenta. Então, isso altera a ação e, consequentemente, a eficácia da insulina”.
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Qual a diferença do diabetes tipo 1 para o diabetes tipo 2?
Há dois tipos principais da doença: o diabetes tipo 1, em que o pâncreas perde a capacidade de produzir insulina e, consequentemente, ela será utilizada no tratamento, uma vez que é um hormônio essencial para o organismo. E o diabetes tipo 2, no qual existe uma combinação de dois fatores — tanto a diminuição da secreção de insulina, quanto um defeito na sua ação, conhecido como resistência à insulina.
Geralmente, o diabetes tipo 2 pode ser tratado com medicamentos orais ou injetáveis, contudo, com o passar do tempo, pode ocorrer o agravamento da doença. Neste caso, será necessário, também, o emprego deste hormônio, isolado ou associado com medicamentos.
Quando é necessário usar insulina na diabetes gestacional?
A diabetes que ocorre durante a gravidez (diabetes gestacional) pode necessitar de tratamento com insulina, mas isso irá depender de cada gestante. Esse tipo de diabetes tende a desaparecer após a gestação. Quando o médico julgar necessário a insulinoterapia, é importante que os pacientes sejam orientados quanto ao tipo de insulina a ser utilizada, bem como quanto aos cuidados na sua aplicação.
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Orientações básicas para aplicação da insulina
A insulina deve ser aplicada diretamente no tecido subcutâneo (camada de células de gordura), logo abaixo da pele. A espessura da pele gira em torno de 1,9 a 2,4 milímetros (mm) nos locais de aplicação da insulina. Como a ideia é ultrapassá-la, sem, contudo, atingir os músculos, as agulhas utilizadas podem ter 4, 5, 6 ou, no máximo, 8 mm.
O ângulo de aplicação varia em função da quantidade de gordura da área de aplicação. Por exemplo, no caso de uma pessoa magra e com pouca gordura na região de aplicação, corre-se maior risco de atingir os músculos quando se utiliza agulha mais longa e ângulo de aplicação de 90° em relação à superfície da pele. Nesses casos, pode-se optar por uma agulha mais curta, fazer uma prega cutânea (de pele) e aplicar em ângulo de 45°.
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Qual a melhor agulha para aplicar insulina?
É preferível, quando disponível, usar as agulhas mais curtas e mais finas. A escolha das agulhas pode seguir as seguintes recomendações:
Para os adultos
- Agulhas com 4, 5 ou 6 mm podem ser usadas por adultos obesos e não obesos. No caso das agulhas de 4 e 5 mm não é necessário fazer a prega cutânea e o ângulo de aplicação é de 90º
- Quando são usadas agulhas e seringas com comprimento de agulha de 6 mm, as aplicações devem ser feitas em ângulo 90º. Contudo, quando a aplicação for realizada em uma região com escassez de gordura (tecido subcutâneo), deve-se fazer a prega cutânea e o ângulo de 45º, para evitar uma injeção intramuscular
- Não há razão médica para usar agulhas mais longas do que 8 mm.
Para as criança e crianças e os adolescentes
- Agulhas com 4, 5 ou 6 mm podem ser utilizadas. Não há razão médica para usar agulhas mais longas
- Para crianças menores de 6 anos, recomenda-se fazer a prega cutânea com todos os comprimentos de agulha (4,5,6,8 mm) e ângulos de 90º
- Crianças e adolescentes precisam fazer a prega cutânea e ângulo de 45º com as agulhas de 6 mm ou mais.
Para as gestantes
- O abdômen é uma região segura para a aplicação de insulina durante a gravidez
- Devido a espessura da pele por causa da expansão uterina, as gestantes devem utilizar as agulhas de 4 ou 5 mm
- Quando as agulhas de 6 mm de comprimento ou mais estiver disponível, a aplicação deve realizada com a prega cutânea e em ângulo de 45º
- É prudente realizar a prega cutânea em todos os locais de aplicação
- A partir do segundo trimestre de gravidez, recomenda-se utilizar as laterais do abdômen, coxa, parte posterior dos braços e nádegas.
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Quais os melhores locais para a aplicação de insulina?
- Barriga, há pelo menos 4 dedos de distância do umbigo
- Coxa (frente e lateral externa)
- Braço (parte posterior do terço superior)
- Glúteo (parte superior e lateral das nádegas)
A insulina regular deve ser aplicada preferencialmente no abdômen para aumentar a taxa de absorção, enquanto a NPH deve ser aplicada, preferencialmente, nas coxas ou nas nádegas, para retardar a absorção e reduzir o risco de hipoglicemia.
Como armazenar a insulina?
De acordo com Claudia Liboni, o ideal é seguir as orientações dos fabricantes que, geralmente, indicam armazenar a insulina na geladeira.
“É essencial ler a bula, porque existe uma pequena variação de uma insulina para outra, mas normalmente, o recomendado é que a insulina fique refrigerada, ela não pode ficar exposta a temperaturas acima de 30 graus. Então, naqueles dias mais quentes, é essencial que elas fiquem na geladeira”, esclarece.
Passo-a-passo no momento de aplicação da insulina:
- Em primeiro lugar, separe todo do material: insulinas prescritas, seringa, agulha, algodão e álcool.
- Lave bem as mãos com água e sabão. Em seguida, limpe os locais de aplicação com algodão embebido em álcool. O ideal é utilizar uma nova seringa e agulha em cada aplicação. Todos esses cuidados contribuem para evitar contaminação e infecção do local de aplicação.
- As insulinas NPH e as pré-misturas devem ser suavemente misturadas, rolando o frasco entre as mãos aproximadamente 20 vezes, sem agitar o frasco, até o líquido ficar leitoso e homogêneo. Esse procedimento não é necessário para as insulinas transparentes.
- Limpe a tampa de borracha da parte superior dos frascos com algodão embebido em álcool em um único sentido.
- Aspire uma quantidade de ar para dentro da seringa igual aquela prescrita mantendo a agulha tampada com a sua capa de plástico.
- Retire a capa da agulha e apoie o frasco em uma superfície plana. Introduza a agulha através da tampa de borracha do frasco de insulina e injete o ar que está dentro da seringa para dentro do frasco.
- Vire o frasco de cabeça para baixo e aspire a quantidade de insulina prescrita. Se houver bolhas na seringa, injetar a insulina de volta no frasco e repetir o procedimento.
- Retire a agulha do frasco.
- Limpe o local escolhido passando o algodão embebido em álcool sobre a pele sempre em um único sentido. Após passar o álcool, não aplicar a insulina até que a pele esteja completamente seca.
- Com a seringa entre os dedos, como se fosse uma caneta, deve-se fazer um movimento rápido em direção à pele (movimento de arremesso de um dardo) em ângulo de 90º ou 45º conforme orientado. Fazer a prega cutânea quando necessário. Já a injeção da insulina deve ser feita de maneira lenta. Aplicar a insulina na temperatura ambiente ajuda a reduzir a dor durante a aplicação. O ideal é retirar o frasco de insulina da geladeira 15 minutos antes da aplicação.
- Retire a agulha da pele e pressione o local suavemente com um algodão seco. Não se deve fazer massagem na região de aplicação, pois isso pode aumentar o fluxo sanguíneo e alterar a absorção da insulina. Tampe imediatamente a agulha com a capa para evitar contaminação a acidentes.
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Cuidados pós-aplicação de insulina
Após a aplicação da insulina, conte até 10 segundo para retirar da agulha. Quando forem aplicadas doses maiores, pode ser necessário contar até 20 segundos, a fim de evitar que parte da insulina volte para a superfície da pele quando a agulha for retirada. Essa contagem não é necessária para aplicação com seringas. As agulhas devem ser imediatamente desconectadas da caneta e descartadas após a aplicação e usadas apenas uma vez para evitar contaminação e infecção.
O aparecimento de equimoses (manchas roxas) é comum no local de aplicação de insulina. Elas são decorrentes do extravasamento de sangue quando vasos sanguíneos são perfurados pela agulha.
Saiba mais: Sintomas de diabetes: veja os principais sinais de cada tipo
Referências
1. Dr. Danilo Höfling, Endocrinologia e Metabologia - CRM 55221/SP
2. Sociedade Brasileira de Diabetes. Posicionamento Oficial SBD nº 01/2017. Recomendações sobre o tratamento injetável do diabetes: insulinas e incretinas. Disponível em: http://www.diabetes.org.br/profissionais/images/2017/posicionamento-oficial-sbd-01-2017.pdf
3. Frid A, Hirsch L, Gaspar R, Hicks D, Kreugel G, Liersch J, Letondeur C, Sauvanet JP, Tubiana-Rufi N, Strauss K; Scientific Advisory Board for the Third Injection Technique Workshop, 2011.
4. Uso de insulina - Orientações para Pacientes e Familiares, Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revisores: Reichelt AJ, Silveiro SP, Suzana SF, Schmidt MLS, Kern ILC, 2011.
5. Sociedade Brasileira de Diabetes - (http://www.diabetes.org.br).