Carolina dos Santos Lázari atualmente é médica assessora para análises clínicas em Infectologia do Grupo Fleury e médica...
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O beijo é um gesto carinhoso que pode trazer uma série de benefícios para a saúde mental e física, como bem-estar e diminuição do estresse. Mas micro-organismos presentes na boca podem ser compartilhados pela saliva, incluindo bactérias e vírus.
Normalmente são problemas de curta duração e que se curam sozinhos. Mas, em algumas situações, a infecção pode se disseminar e causar complicações sérias à saúde.
O MinhaVida conversou com Carolina Lázari, infectologista do Fleury Medicina e Saúde, e listou as principais doenças transmitidas pelo beijo e como identificá-las.
1. Mononucleose
A mononucleose, também conhecida como doença do beijo, é uma infecção aguda provocada pelo vírus Epstein-Barr e transmitida especialmente pelo beijo ou contato com secreções orais, de acordo com Carolina.
Normalmente, após a infecção, o vírus tem um período de incubação que varia entre 30 a 46 dias, para então apresentar os sintomas. A maioria dos casos de mononucleose são assintomáticos, mas algumas pessoas podem apresentar os seguintes sinais:
- Fadiga intensa
- Dor de garganta
- Febre alta
- Garganta inflamada
- Gânglios linfáticos inchados, especialmente no pescoço e axilas
- Dor de cabeça
- Baço inchado
Não existe tratamento específico disponível para mononucleose. A abordagem envolve especialmente repouso e o consumo de muitos líquidos — e o médico pode prescrever alguns medicamentos para amenizar os sintomas, como inchaço na garganta e amígdalas.
Importante destacar que pessoas que já tiveram mononucleose desenvolvem anticorpos para a doença e não são capazes de contraí-la novamente.
2. Doenças respiratórias
Doenças respiratórias, como gripe, resfriado e COVID-19 podem ser transmitidas pelo compartilhamento de saliva, de acordo com Carolina — uma vez que a boca faz parte das vias aéreas, região afetada pelo vírus e por onde o corpo tenta expelir o patógeno. Por isso, é recomendado o uso de máscaras durante a infecção.
Os sintomas das doenças respiratórias são semelhantes e envolvem especialmente:
- Cansaço
- Febre
- Dor de cabeça
- Coriza
- Dor de garganta
- Falta de ar, em casos graves
O tratamento das doenças respiratórias podem variar de acordo com o micro-organismo responsável, mas podem envolver o uso de analgésicos e antitérmicos para aliviar os sintomas, além de repouso e bastante ingestão de líquidos.
3. Caxumba
A caxumba, também conhecida como parotidite infecciosa, é uma infecção viral que afeta especialmente as glândulas que produzem saliva, além de outras glândulas próximas aos ouvidos ou submaxilares e sublinguais.
É transmitida através do contato com a saliva de pessoas infectadas, mas, devido à imunização com a vacina tríplice viral (que também protege contra sarampo e rubéola), é uma doença menos comum de contrair.
Uma vez que a pessoa é infectada pelo vírus da caxumba, ela pode contaminar outros indivíduos entre seis dias antes e nove dias após o início dos sintomas. O principal é o inchaço das glândulas salivares, localizadas no interior e ao redor da cavidade bucal, em torno dos ouvidos.
O tratamento da caxumba em crianças e adultos envolve o alívio dos sintomas com o uso de medicamentos analgésicos e antitérmicos, pois, assim como a maioria das infecções virais, ela é tratada naturalmente pelo organismo. Recomenda-se bastante repouso, consumo de líquidos, alimentação líquida ou pastosa e boa higiene bucal.
4. Candidíase oral
Conhecida como sapinho, a candidíase oral é uma infecção provocada pela proliferação descontrolada do vírus Candida albicans na boca. Normalmente, ela acomete pessoas com o sistema imunológico fragilizado ou com baixa imunidade. Os sintomas mais comuns incluem manchas brancas na boca, dores ao engolir e mau hálito.
Importante apontar que o beijo com uma pessoa infectada é uma forma de contágio, mas a condição não precisa ser transmitida de uma pessoa para outra para se manifestar, uma vez que o fungo já existe naturalmente no organismo humano. Em caso de comprometimento do sistema imunológico, o fungo pode se proliferar excessivamente e resultar na candidíase oral.
Para tratar o sapinho, são recomendados uma boa higiene oral e o uso de remédios antifúngicos, como a nistatina, que deve ser indicada pelo médico. Também é necessária a suspensão do cigarro, bebidas alcoólicas e alimentos ricos em açúcar.
5. Catapora
A catapora, ou varicela, é uma doença causada pelo vírus varicela-zóster e transmitida por meio da saliva ou lesões de pele de uma pessoa infectada. Mesmo pessoas que estão infectadas e não apresentam sintomas podem transmiti-la para quem não nunca teve catapora. Após a infecção, a catapora pode levar entre 10 a 21 dias para se manifestar.
Os principais sintomas de catapora incluem bolhas avermelhadas por todo o corpo e coceira intensa — e elas podem surgir inicialmente no rosto, tronco ou no couro cabeludo e se proliferar a partir daí. Também é possível apresentar os seguintes sinais:
- Febre
- Mal-estar
- Perda de apetite
- Dor de cabeça
- Dor de barriga
O tratamento da doença é feito com o uso de analgésicos para amenizar os sintomas, como febre e dor de cabeça, e medicamentos antivirais. Se possível, eles devem ser administrados em até 24 horas após o surgimento das erupções.
6. Sífilis
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. Ela provoca pequenas feridas na boca que liberam o micro-organismo, infectando a saliva e possibilitando a transmissão através do beijo.
Como a doença se desenvolve em diferentes estágios, os sintomas podem variar conforme ela evolui. Normalmente, a sífilis se manifesta com feridas na boca, febre, mal-estar e ínguas pelo corpo. Se não tratada adequadamente, ela pode atacar outras regiões do corpo, como o cérebro e o coração, podendo causar meningite e AVC.
O tratamento de sífilis mais indicado é feito à base de penicilina, um antibiótico eficaz contra a bactéria responsável pela infecção. Uma única injeção já é suficiente para impedir a progressão da doença, especialmente se ela for aplicada no primeiro ano após a infecção. Durante o tratamento, também é importante beber bastante água e evitar relações sexuais até que a doença seja curada.
7. Gonorreia
Assim como a sífilis, a gonorreia também é uma IST que pode ser transmitida pelo compartilhamento de saliva com uma pessoa infectada. Causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, a gonorreia oral se manifesta a partir de sensação de queimação, glândulas inchadas na região, manchas brancas na boca e dor na garganta.
O tratamento é feito a partir da administração de antibióticos e pode durar de três a quatro dias, em média, até a interrupção da cadeia de transmissão. Também é necessário localizar e examinar os parceiros sexuais dos pacientes para tratá-los, se necessário.
8. Herpes labial
Causada pelo vírus do herpes simples tipo 1 (HSV-1), o herpes labial é transmitido através do contato com a saliva ou mucosa de uma pessoa infectada, o que torna comum o contágio através do beijo, sexo oral e uso compartilhado de utensílios.
A doença é caracterizada pelo surgimento de bolhas pequenas e doloridas nos lábios, gengivas, língua, céu da boca, interior das bochechas, nariz — às vezes, no rosto, queixo e pescoço. Também pode surgir dor ao movimentar a boca, vermelhidão nos lábios, ardência e desconforto ao mastigar ou ingerir líquidos.
Os sintomas de herpes labial normalmente desaparecem entre uma e duas semanas, e o uso de medicamentos tópicos e via oral ajuda a aliviar os sintomas. É importante ter cuidado para não mexer ou cutucar as lesões, pois pode haver sangramento e retardar a cicatrização.
O vírus HIV é transmitido pela saliva?
Não. Segundo Carolina, a quantidade de partículas virais na saliva não é suficiente para causar uma infecção pelo vírus HIV. "Esse tipo de contrato social, como abraço ou beijo, não é considerado uma via de transmissão".
O vírus da imunodeficiência humana é transmitido principalmente por relações sexuais desprotegidas e o compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas com sangue. Outra via de transmissão é a vertical, quando o vírus é passado de mãe para filho na gravidez, amamentação e principalmente no momento do parto.
É importante ressaltar que a transmissão do HIV foi bastante impactada pela disponibilização de tratamentos eficientes, que mantêm a carga viral no sangue da pessoa indetectável — ou seja, o vírus não se multiplica e não chega a se expressar no sangue na forma de carga viral.
"Hoje nós sabemos que se a pessoa estiver em tratamento adequado e estiver com a carga viral indetectável, ela não transmite o HIV, mesmo pela via sexual, que é a via de transmissão mais importante do vírus. Isso deve ser ressaltado porque, se ela não transmite pela via mais importante se estiver em tratamento, ela não vai transmitir através do beijo. Isso ajuda a desmistificar a questão de se relacionar com uma pessoa com HIV", finaliza Carolina.