
Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.

O floodlighting — tendência que tem ganhado força entre a Geração Z nos primeiro encontros — vai muito além de um simples desabafo.
O termo, cunhado pela psicóloga Brené Brown em seu livro The Power of Vulnerability, descreve o hábito de compartilhar, logo de cara, detalhes profundos e muitas vezes traumáticos da vida pessoal como uma forma de acelerar a intimidade com alguém. Segundo Brown, esse comportamento é, na verdade, uma tentativa de se proteger da vulnerabilidade real — aquela que se constrói aos poucos, com tempo e confiança.
Para Jessica Alderson, cofundadora do app de namoro So Syncd, esse despejo de informações na primeira conversa serve para “testar o terreno, acelerar a conexão ou descobrir se a outra pessoa é capaz de lidar com esses lados seus”.
Em artigo para a Psychology Today, o psicólogo Mark Travers conta que o floodlighting tem três características principais: a pessoa compartilha histórias profundamente pessoais logo no primeiro encontro (como términos traumáticos, problemas na infância ou questões de saúde mental), espera uma resposta emocional imediata e usa essa vulnerabilidade como forma de validação.
Também costuma haver um desequilíbrio na troca: ela fala sem parar, enquanto você só escuta. Depois, analisa cada detalhe da sua reação e tenta justificar esse excesso com frases como “é que eu confio muito em você”, criando uma falsa sensação de conexão.
Vulnerabilidade saudável vs. floodlighting
Mostrar vulnerabilidade não é o mesmo que despejar todos os seus traumas de uma vez. A vulnerabilidade genuína nos ajuda a criar conexões reais — e deve acontecer de forma gradual. Já o floodlighting é o oposto: segundo Jessica Alderson, trata-se de usar a vulnerabilidade como um “holofote de alta intensidade” para chamar atenção logo de cara.
Em um encontro, isso acaba soando mais como um teste do que como uma tentativa de conexão. Lembra bastante o “trauma dumping”, que, como explica a psicóloga Kia-Rai Prewitt, é o ato de compartilhar emoções e pensamentos difíceis em momentos inadequados. A diferença aqui é que o objetivo do floodlighting não é apenas desabafar, mas tentar criar vínculo rápido — ou desistir logo se não rolar.
O que o floodlighting provoca em um primeiro encontro?
No melhor dos cenários, esse despejo de traumas pode até gerar uma conexão genuína — mas isso é raro. O mais comum é que a outra pessoa se sinta pressionada a responder ou a se expor no mesmo nível de vulnerabilidade emocional, algo para o qual talvez não esteja preparada.
Segundo o psicólogo Mark Travers, em vez de aproximar, esse excesso de informação pode afastar: “compartilhar demais pode fazer com que o outro se retraia, criando distância emocional em vez de proximidade”. O resultado costuma ser um clima desconfortável e um cansaço emocional precoce.
Além disso, o floodlighting pode funcionar como uma forma sutil de manipulação emocional — uma maneira de testar a reação do outro. E quando essa reação não é a esperada, quem pratica também sai ferido. Como diz Travers, “você se convence de que já acabou antes mesmo de começar”. Em vez da aceitação desejada, recebe hesitação, desconforto e afastamento.
Por que a Geração Z popularizou o floodlighting?
Um estudo de 2022 mostrou que ansiedade, busca por atenção e uso excessivo das redes sociais estão fortemente ligados ao oversharing entre adolescentes. No caso do floodlighting, a dinâmica é presencial — como em um primeiro encontro — mas os motivos podem ser parecidos: ansiedade e necessidade de validação.
Sim, essa vontade de se abrir rapidamente pode estar ligada à valorização da saúde mental, algo marcante na Geração Z. Mas também reflete a cultura da pressa em que vivemos — onde até as relações são forçadas a acontecer no modo acelerado.
Do ponto de vista psicológico, os motivos para o floodlighting são complexos. Podem envolver desde um estilo de apego ansioso, desregulação emocional e dificuldade de impor limites até uma necessidade intensa de validação externa. Às vezes, é também uma forma de teste: a pessoa quer ver como você reage. Se não consegue sustentar o peso do passado dela, ela parte para outra.
Buscar conversas profundas não é um problema — e sabemos que a corregulação emocional em um casal é essencial para uma relação saudável. Mas intimidade verdadeira não se força: ela se constrói com o tempo, aos poucos, com perguntas que despertam curiosidade e conexão. Tentar acelerar o amor para não “perder tempo” é, na prática, um jeito de se perder no caminho.
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