Diretora médica e de operações do Femme Laboratório da Mulher.Graduada em Medicina pela Universidade de Brasília. Residê...
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O que é Diabetes gestacional?
O diabetes gestacional é um tipo de diabetes que ocorre durante a gravidez, sendo caracterizado pelo aumento dos níveis de glicose no sangue. A condição é causada devido à resistência à insulina provocada pelos hormônios da gestação e ocorre, geralmente, no terceiro trimestre. Sem o devido tratamento, pode trazer uma série de riscos à gestante e ao bebê, como morte súbita fetal, aumento de peso do feto e o desenvolvimento de diabetes tipo 2 após a gestação.
A estimativa é que a prevalência de diabetes gestacional no Sistema Único de Saúde (SUS) seja de 18%. Geralmente, esse tipo de diabetes se cura logo após o parto. Porém, por ser um fator de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2, é importante manter os cuidados e o acompanhamento médico mesmo após ter o bebê.
Agora que você já sabe o que é diabetes gestacional, entenda suas causas, sintomas, valores de referência e como tratar a doença.
Causas
O diabetes é um conjunto de doenças caracterizadas pela hiperglicemia, ou seja, aumento do nível de açúcar no sangue. Ele está relacionado a diferentes causas, a depender do seu tipo.
No caso do diabetes gestacional, a causa está associada aos hormônios produzidos pela placenta, que, para atender às necessidades nutricionais do bebê, reduzem a efetividade da insulina em reduzir a glicose do sangue. Com isso, as gestantes precisam produzir mais insulina do que o habitual para controlar os níveis de açúcar na corrente sanguínea.
Saiba mais: Tipos de diabetes: veja as características dos 4 principais
Porém, quando essa produção de insulina permanece insuficiente e a glicemia continua alta, ocorre o desenvolvimento do diabetes gestacional. A situação é mais frequente em mulheres acima dos 35 anos, que possuem sobrepeso ou obesidade. Agora que você já sabe o que causa diabetes gestacional, veja quais são os principais sintomas a seguir.
Sintomas
O diabetes gestacional raramente causa sintomas. Dessa forma, é preciso fazer exames periódicos durante toda a gravidez, principalmente entre as semanas 24 e 28. Porém, em alguns casos, a doença pode causar alguns sinais. Entre os principais sintomas de diabetes gestacional, estão:
- Aumento da sede
- O aumento da micção
- O aumento da fome
- Ganho de peso
- Infecções urinárias frequentes
- Visão turva.
No entanto, a própria gravidez pode causar essas sensações na maioria das mulheres, portanto, nem sempre elas podem indicar diabetes gestacional. Por isso, o médico deve solicitar exames para avaliar a glicose no sangue pelo menos três vezes durante a gestação.
Saiba mais: Sintomas de diabetes: veja os principais sinais de cada tipo
Diagnóstico
O diagnóstico de diabetes gestacional é, geralmente, feito entre a 24ª e a 28ª semanas de gravidez, período em que é mais comum ocorrer a resistência à insulina. Gestantes que já passaram pela doença em outra gravidez ou possuem alto risco podem fazer os exames antes da 13ª semana.
As opções de exame de diabetes gestacional são:
- Curva glicêmica: o exame mede a velocidade com que seu corpo absorve a glicose após a ingestão. Nele, o paciente ingere 75 g de glicose e é feita a medida da quantidade da substância no sangue em jejum, uma hora e duas horas após a ingestão. É o principal exame para diagnosticar a diabetes na gravidez;
- Glicemia de jejum: o exame mede o nível de açúcar no sangue no momento em que é feito. Ele é utilizado para confirmar os resultados da curva glicêmica e para acompanhar os níveis de glicose no sangue durante o dia ou após as refeições.
Diabetes gestacional: valores de referência
Cada um dos tipos de exame possuem valores de referência para diabetes gestacional diferentes. Para a curva glicêmica, os valores são:
- Em jejum: abaixo de 92mg/dl
- Após 1h: abaixo de 180mg/dl
- Após 2 horas: abaixo de 153 mg/dl.
Para o diagnóstico de diabetes gestacional, valores acima de 200 mg/dL já confirmam a doença. Já para glicemia de jejum, as referências são:
- Valores entre 92 mg/dL e 100 mg/dL: considerados anormais próximos ao limite e devem ser repetidos em uma outra ocasião
- Valores acima de 100 mg/dL: bastante suspeitos de diabetes, mas também devem ser repetidos em uma outra ocasião.
Fatores de risco
Qualquer mulher pode desenvolver diabetes gestacional, mas algumas gestantes podem ter maiores chances. Fatores de risco para o diabetes gestacional são:
- Obesidade ou sobrepeso
- Colesterol alto
- Síndrome dos ovários policísticos
- Histórico familiar de diabetes
- Diabetes gestacional anterior
- Bebês de gestações anteriores que nasceram com mais de 4 kg
- Gestações anteriores com bebê natimorto inexplicável
- Tolerância à glicose diminuída ou glicemia de jejum alterada (níveis de açúcar no sangue altos, mas não o suficiente para ser diabetes)
- Aumento do líquido amniótico (uma condição chamada de polidrâmnio)
- Excesso de peso antes da gravidez
- Ganho excessivo de peso na gravidez.
Exames
Ao diagnosticar diabetes gestacional, o médico passará a avaliar a sua saúde e a do bebê constantemente. Entre os exames que são importantes de serem realizados durante o período, estão:
- Ultrassom fetal
- Monitoramento dos batimentos cardíacos do bebê
- Hemoglobina glicada
- Monitorização da gestante e do bebê durante o parto
- Monitorização cardíaca fetal
- Testes de açúcar no sangue feitos regularmente.
Depois do nascimento do bebê, o nível de açúcar no sangue deve ser verificado várias vezes no dia e nas semanas após o nascimento.
Buscando ajuda médica
Os especialistas que podem diagnosticar e tratar diabetes gestacional são:
- Endocrionologista
- Ginecologista
- Nutrólogo
- Clínico geral.
Tratamento
O tratamento para diabetes gestacional é feito a partir de mudanças no estilo de vida para garantir o restante da gravidez mais tranquilo e segurança para o bebê e a gestante. Confira, a seguir, como tratar glicemia alta na gravidez:
Dieta para diabetes gestacional
Seguir uma dieta para diabetes gestacional, com o consumo de certos tipos de alimentos em porções saudáveis, é uma das melhores maneiras de controlar o açúcar no sangue e evitar o ganho de peso. Uma dieta saudável inclui frutas, legumes e grãos integrais e limita carboidratos altamente refinados, incluindo doces, pães e massas brancas.
É recomendável consultar um nutricionista ou um endocrinologista durante a gestação para criar um plano de refeições individualizado, levando em consideração o peso da gestante, o nível de açúcar no sangue, hábitos de exercício, preferências alimentares e orçamento.
Os médicos não aconselham perder peso durante a gravidez, já que o corpo está trabalhando duro para fazer o bebê crescer. Porém, o profissional pode ajudar a definir metas de ganho de peso com base no peso anterior à gravidez.
Diabetes gestacional: o que comer?
- Cereais integrais (arroz integral, pão integral, quinoa, aveia)
- Vegetais (alface, tomate, rúcula, brócolis, abobrinha)
- Carnes magras (peixes, frango, ovo)
- Leguminosas (feijão, grão-de-bico, lentilha, ervilha)
- Oleaginosas (castanha de caju, amendoim, avelãs, nozes e amêndoas)
- Laticínios (leite semi ou desnatado, iogurte natural, queijo branco)
- Frutas frescas (banana, laranja, pera, maçã, kiwi, morango).
Exercícios para diabetes gestacional
A atividade física regular tem um papel fundamental no plano de bem-estar antes, durante e após a gravidez. Exercício reduz o nível de açúcar no sangue, estimulando o corpo a mover a glicose para as células, onde é utilizada para produzir energia.
O exercício também aumenta a sensibilidade das células à insulina, o que significa que seu corpo vai precisar para produzir menos insulina para transportar açúcar.
Medicamentos para diabetes gestacional
Se a dieta e o exercício não são suficientes, há injeções de insulina que ajudam a baixar o açúcar no sangue. Alguns médicos podem prescrever, ainda, medicamentos via oral para controle de açúcar no sangue, como hipoglicemiantes.
Monitorização da gestante e do bebê
Durante a gestação, o nível de açúcar no sangue deverá ser verificado de quatro a cinco vezes por dia - de manhã em jejum e após as refeições - para se certificar de que ele permanece em uma faixa saudável.
A equipe de saúde da gestante vai monitorar e gerenciar o açúcar no sangue durante o parto. Se a glicemia sobe, o pâncreas do bebê pode liberar altos níveis de insulina, o que pode causar hipoglicemia no recém-nascido.
A observação do bebê também é parte importante do tratamento do diabetes gestacional. O médico pode monitorar o crescimento e desenvolvimento do bebê com ultrassons e outros testes.
Prevenção
Para prevenir o diabetes gestacional, adotar hábitos saudáveis durante a gestação é fundamental, principalmente entre as gestantes que fazem parte do grupo de risco. Algumas medidas preventivas são:
- Escolher alimentos ricos em fibras e pobres em gordura e calorias
- Praticar exercícios físicos antes e durante a gravidez
- Manter o peso adequado antes da gravidez e ir aumentando-o de forma lenta e gradual
- Fazer os exames pré-natais.
Complicações possíveis
Riscos da diabetes gestacional
Se não identificada e tratada corretamente, o diabetes gestacional pode gerar uma série de complicações para a gestante e para o bebê. Entenda mais a seguir:
Riscos para o bebê
- Peso excessivo ao nascer;
- Nascimento de bebê prematuro;
- Síndrome do desconforto respiratório;
- Hipoglicemia logo após o nascimento;
- Diabetes tipo 2 mais tarde na vida;
- Diabetes gestacional não tratada pode levar à morte de um bebê antes ou logo após o nascimento.
É importante ressaltar que o diabetes gestacional pode matar o bebê se não tratada corretamente.
Riscos para a gestante
O diabetes gestacional também pode aumentar o risco da mãe de ter:
- Pressão arterial elevada e pré-eclâmpsia;
- Diabetes no futuro.
Entre as mulheres com história de diabetes gestacional que atingem o seu peso corporal ideal após o parto, menos de 1 em cada 4 eventualmente desenvolve diabetes tipo 2.
Referências
Revisado por: Viviane Lopes, ginecologista e obstetra do Femme Laboratório da Mulher e mestre em Obstetrícia pela UNIFESP - CRM SP 105166
Manual MSD: Diabetes durante a gestação
Rastreamento e diagnóstico de diabetes mellitus gestacional no Brasil. Femina, [s. l.], v. 47, ed. 11, p. 786-96, 2019.