
- Formado em ciências biológicas modalidade médica pela UFRJ.- Formado em medicina pela UFRJ. - Residência em clínica mé...
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O que é Doença do refluxo gastroesofágico?
A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) (CID 10 - K21) é uma doença digestiva em que os ácidos presentes dentro do estômago voltam pelo esôfago ao invés de seguir o fluxo normal da digestão. Esse movimento é conhecido como refluxo e irrita os tecidos que revestem o esôfago, causando os sintomas típicos como azia, tosse e dor no peito.
Causas
Quando uma pessoa come, a comida passa da garganta para o estômago através do esôfago. Uma vez que a comida está no estômago, um anel de fibras musculares impede que o alimento se mova para trás, em direção ao esôfago. Essas fibras musculares são chamadas de esfíncter esofágico inferior (EEI).
Se o esfíncter não fechar bem, tudo o que a pessoa comeu, bebeu e até mesmo o suco gástrico usado na digestão pode vazar de volta para o esôfago. Isso é chamado de refluxo gastroesofágico. A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é definida pela presença do refluxo gastroesofágico associada a sintomas ou complicações.
Entre as causas pode-se citar:
- Hérnia de hiato
- Hipotonia do esfíncter esofagiano inferior
- Perda da peristalse do esôfago (contrações musculares coordenadas para conduzir o alimento para o estômago)
- Aumento da secreção gástrica
- Aumento da pressão intra-abdominal
- Estômago muito cheio por tempo prolongado.
Sintomas
Alguns sintomas são característicos da doença de refluxo gastroesofágico. Veja:
- Azia
- Dor no peito
- Regurgitação
- Tosse seca
- Rouquidão
- Dor de garganta
- Náusea após refeições
- Afta
- Pigarro
- Sinusite
- Otite
- Sensação de "bolo na garganta"
- Erosão dentária.
Uma pessoa diagnosticada com DRGE pode ter a sensação de que o alimento pode ter ficado preso na garganta e pode sentir os sinais da doença aumentar ao se curvar, inclinar para a frente, ficar deitado ou comer. Os sintomas também costumam ser piores à noite e podem ser aliviados com antiácidos.
Diagnóstico
Nem sempre é necessária a realização de endoscopia digestiva alta em todos pacientes com DRGE. Em pessoa jovens, com sintomas sugestivos de refluxo e na ausência de sinais de alarme (dor ou dificuldade para engolir, anemia, emagrecimento, vômitos importantes e história de câncer na família), pode-se optar por realizar tratamento empírico, com medicamentos e dieta, por até oito semanas e observar se há remissão da doença.
Caso não seja obtida a cura, exames complementares como a endoscopia digestiva alta devem ser feitos a fim de avaliar a gravidade da doença e excluir alterações mais graves como úlceras, estenose, esôfago de Barrett e câncer.
O refluxo de ácido para o esôfago também é um critério bastante utilizado para fazer o diagnóstico. Para medi-lo, o especialista usará um medidor que será inserido no interior do esôfago do paciente. Este medidor verificará a quantidade de ácido presente no tubo, enviando as respostas para um computador. Este exame é conhecido como phmetria esofagiana.
Podem ainda ser necessários outros exames como a esofagomanometria (para estudar a motilidade esofagiana e o tônus do esfíncter esofagiano inferior) e a impedanciometria esofágica (detecta inclusive o refluxo não ácido pela medida das variações na resistência elétrica dentro do esôfago).
Fatores de risco
Alguns fatores são considerados de risco, pois aumentam as chances de uma pessoa apresentar a doença do refluxo gastroesofágico:
- Obesidade
- Gravidez
- Hérnia de Hiato, em que parte do estômago se move acima do diafragma
- Tabagismo
- Asma
- Diabetes
- Atraso no esvaziamento do estômago
- Esclerodermia e outros distúrbios do tecido conjuntivo
- Uso de certas medicações como betabloqueadores, broncodilatadores, bloqueadores dos canais de cálcio para pressão arterial alta, agonistas dopaminérgicos, sedativos e antidepressivos tricíclicos
- Alimentação: chocolate, pimenta, frituras, café e bebidas alcoólicas estão entre os itens que, se consumidos em excesso, podem contribuir para o refluxo.
Na consulta médica
Procure um especialista assim que surgirem os primeiros sintomas. Muitos deles podem ser confundidos com sintomas de outras doenças, então é importante que um médico avalie o seu quadro para dar o diagnóstico preciso, visando não só a resolução das queixas, mas a prevenção ou acompanhamento de possíveis complicações como úlceras, estreitamentos do esôfago e adenocarcinoma.
Chegando à consulta, descreva todos os seus sintomas e aproveite para tirar todas as dúvidas. Veja exemplos do que você pode perguntar ao médico:
- Que tipos de exames serão necessários para realizar o diagnóstico?
- A doença do refluxo gastroesofágico é temporária ou crônica?
- Haverá restrições à minha dieta?
- Será necessário realizar uma cirurgia?
- Quanto tempo em média dura o tratamento?
O especialista também deverá lhe fazer algumas perguntas, como:
- Quão intensos são os seus sintomas?
- Os sintomas são ocasionais ou contínuos?
- Os sintomas costumam piorar durante a noite?
- Você sente-se mal após as refeições?
- Quando que os sintomas começaram?
Tratamento
De acordo Anna Carolina Hoff, cirurgiã geral e especialista em endoscopia digestiva, o tratamento clínico é realizado através de várias medidas que podem ser tomadas para aliviar os sintomas causados pela doença do refluxo gastroesofágico, como:
Saiba mais: Endoscopia: tire nove dúvidas sobre o exame que detecta refluxo e gastrite
- Erguer a cabeceira da cama
- Evitar medicamentos e alimentos que aumentam o acúmulo de ácido
- Perda de peso
- Não comer pelo menos 3 horas antes de dormir
- Não fumar
- Evitar consumir alimentos à base de vinagre
- Evitar bebidas ácidas, como suco de laranja e refrigerantes a base de cola
- Diminuir ou parar o consumo de café
A especialista explica que, em uma pessoa saudável, existe uma válvula natural entre o esôfago e o estômago que forma uma barreira física entre eles, impedindo que os fluidos do estômago refluam para o esôfago. Quando existe a presença da doença do refluxo gastroesofágico crônica, essa válvula se torna disfuncional.
Cirurgias anti refluxo, como a fundoplicatura de Nissen, são usadas em casos selecionados, considerando idade do paciente, sintomas, complicações possíveis e características anatômicas e funcionais do esôfago. Esse procedimento, normalmente feito por via laparoscópica, consiste em envolver o esôfago com a parte do estômago que está mais próxima e costurar esse fundo gástrico ao redor do esôfago distal, formando uma válvula antirrefluxo.
Apesar de a mortalidade associada à cirurgia ser inferior a 1%, até um quarto dos pacientes apresenta sintomas no pós-operatório, como dificuldade de engolir e sensação de distensão no estômago, com dificuldade de arrotar. Além disso, após um período de 10 anos, a maioria dos pacientes volta a usar medicamentos para o tratamento da DRGE.
Atualmente, uma nova tecnologia está entre as possibilidades de tratamento da doença. Recentemente aprovado pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), o dispositivo Esophyx é uma alternativa minimamente invasiva e sem cortes, implantado pela boca, realizado em regime ambulatorial. Segundo Anna, a cirurgia apresenta resultados semelhantes ao procedimento tradicional, só que com menos efeitos colaterais e maior eficácia, reparando a válvula danificada pela doença ao envolver o Esophyx no esôfago, restaurando a anatomia natural do órgão.
Medicamentos
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique.
Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes. Como possuem indicações precisas e efeitos colaterais que incluem diarreia, vômitos, pólipos gástricos, hipomagnesemia, aumento no risco de infecções gastrointestinais e pneumonias, o uso de medicamentos deve ser feito apenas com prescrição médica.
Os antiácidos agem tamponando diretamente o ácido presente no estômago e têm como efeito colateral mais comum a alteração do hábito intestinal. Tem rápido início de ação, mas o efeito apresenta curta duração. Usualmente são administrados após as refeições.
Os antagonistas H2 (como a ranitidina) e os inibidores de bomba de prótons (omeprazol, por exemplo) inibem a produção de ácido, tendo um tempo de ação mais prolongado que o dos antiácidos. Seus efeitos adversos incluem cefaleia, diarreia, constipação, alteração de eletrólitos e risco aumentado de gastroenterite e pneumonia.
Os procinéticos aceleram a velocidade com que o alimento é transferido do estômago para o duodeno. Entre os efeitos adversos podemos citar alterações neurológicas, hormonais e arritmias cardíacas, de forma que se deve ter cuidado com interações medicamentosas e com certos grupos de pacientes mais susceptíveis a esses efeitos colaterais, como crianças e idosos.
Os medicamentos mais usados para o tratamento de alguns sintomas da doença do refluxo gastroesofágico são:
- Dexilant
- Digedrat
- Digesan
- Digestil (comprimidos)
- Digestil (gotas)
- Domperidona
- Esomeprazol Magnesio
- Omeprazol
- Bromoprida
- Label
- Lansoprazol
- Motilium
- Nexium
- Pantoprazol
- Digeplus
- Rabeprazol
- Trimebutina
- Ondansetrona
- Luftagastropro
- Magnésia bisurada
- Droxaíne
- Simeco Plus.
Prevenção
Manter um peso saudável e fazer visitas frequentes ao médico é uma boa forma de prevenir não só a doença do refluxo gastroesofágico, como também outras doenças do trato digestivo. Evitar o fumo e o consumo excessivo de bebidas alcóolicas também pode ajudar a impedir a doença.
Convivendo (Prognóstico)
Quando se encontram fatores causais para a DRGE e estes são resolvidos, pode-se "curar" a doença. No caso da obesidade, a perda de peso pode resolver o problema. Quando o refluxo é causado pela gestação, ao término desta é provável que os sintomas parem. No caso da hérnia de hiato e hipotonia do esfíncter esofagiano inferior, a cirurgia pode eventualmente curar o paciente.
Caso esteja associado a medicamentos como betabloqueadores, broncodilatadores, bloqueadores dos canais de cálcio, agonistas dopaminérgicos, sedativos e antidepressivos tricíclicos, o plano terapêutico deve ser revisto por um médico. No caso de gastroparesias após infecções, o retorno da contratilidade normal do estômago tende a cessar a enfermidade.
Nos demais casos, a DRGE é uma enfermidade crônica, de forma que o objetivo do tratamento não visa a cura da doença, mas sim o controle dos sintomas e a prevenção de complicações como úlceras, estreitamentos do esôfago e câncer.
A maioria das pessoas responde a medidas não cirúrgicas, como mudanças no estilo de vida e medicamentos. No entanto, vários pacientes precisam continuar tomando remédios para controlar os sintomas.
Os médicos recomendam algumas práticas para ajudar na recuperação e no tratamento:
- Manter uma dieta sempre saudável e balanceada
- Evitar usar roupas muito apertadas
- Evitar o consumo de alimentos e bebidas que possam contribuir para um quadro de azia, como álcool, cafeína, bebidas gasosas, chocolate, frutas e sucos cítricos, refrigerantes, tomates, molhos de tomate, alimentos picantes ou gordurosos, menta e hortelã
- Alimentar-se a cada 3 horas com refeições menos volumosas
- Comer devagar
- Não deitar-se após as refeições
- Dormir com a cabeceira da cama elevada em 15 a 18 cm, permitindo que o material refluído para o esôfago retorne prontamente ao estômago
- Evitar o fumo e o consumo exacerbado de bebidas alcoólicas
- Beber muita água no intervalo entre as refeições
- Reduzir o estresse.
Complicações possíveis
Se não for tratada, a doença do refluxo gastroesofágico pode causar problemas mais graves para o paciente, como:
- Esôfago de Barrett (uma alteração no revestimento do esôfago que pode aumentar o risco de câncer)
- Broncoespasmo (irritação e espasmo das vias respiratórias devido ao suco gástrico) e asma
- Fibrose pulmonar
- Tosse ou rouquidão crônica
- Problemas dentais
- Úlcera esofágica
- Inflamação do esôfago
- Infecções de vias aéreas superiores como sinusite e otite
- Estrangulamento (um estreitamento do esôfago devido à cicatrização da inflamação).
Referências
Ministério da Saúde
Federação Brasileira de Gastroenterologia
Leonardo Peixoto, gastroenterologista da Federação Brasileira de Gastroenterologia