Médico hematologista graduado pela Universidade Estadual de Campinas (2001). Atualmente é Hematologista da Rede D'Or.
Manuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO que é Mieloma múltiplo?
O mieloma múltiplo é um câncer que afeta originalmente a medula óssea, sendo que os principais sintomas são dor no osso, fraqueza e fadiga (por conta da anemia) e perda de peso não intencional.
A doença se caracteriza pelo aumento do número de plasmócitos, células cuja função é produzir e liberar proteínas designadas imunoglobulinas (IgG, IgA, IgM, IgD, IgE), que combatem e ajudam a eliminar os agentes causadores de infecção, como as bactérias ou os vírus.
O mieloma múltiplo acontece quando um grupo de plasmócitos se multiplica de forma descontrolada, passando a comprometer o funcionamento da medula óssea e a produção normal dos glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas. Os problemas de saúde causados podem afetar ossos, sistema imunológico, rins e a contagem de células vermelhas do sangue.
De acordo com a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, a doença tem maior prevalência em pessoas idosas, em geral, maiores de 65 anos. Entretanto, a incidência da doença entre indivíduos mais novos está aumentando. Mais de 2% dos doentes com este tipo de câncer têm menos de 40 anos quando diagnosticados.
Causas
Embora a exata causa do mieloma múltiplo não seja conhecida, sabe-se que a doença começa com um plasmócito paranormal na medula óssea, estrutura que produz sangue e está localizada na parte central da maioria dos ossos. Esta célula anormal, então, começa a se multiplicar.
Como as células cancerosas não amadurecem e morrem como as células normais, elas se acumulam, eventualmente sobrecarregando a produção de células saudáveis. Na medula óssea saudável, menos de 5% das células são plasmócitos. Mas, em pacientes com mieloma múltiplo, mais de 10% das células podem ser plasmócitos, e algumas vezes o número dessas células chega a mais que 30% das células da medula.
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Pesquisadores estão estudando o DNA de células plasmáticas para tentar entender o que as torna cancerígenas. Embora ainda não se tenha descoberto a causa dessas mudanças, sabe-se que quase todas as pessoas com esta enfermidade têm anormalidades genéticas em suas células plasmáticas que provavelmente contribuíram para o câncer.
As anormalidades genéticas associadas com mieloma múltiplo incluem:
- Um defeito relacionado ao cromossomo 14, em que um pedaço cromossômico se liga a um cromossomo diferente (translocação)
- Cópias extras de determinados cromossomos (hiperdiploidia)
- Uma anomalia em que parte ou a totalidade do cromossoma 13 está ausente.
Sintomas
Sintomas de mieloma múltiplo
Logo no início, o mieloma múltiplo pode não causar sintomas. Conforme ele progride, as células de plasma se acumulam nos ossos, provocando:
- Dor óssea devido à doença óssea lítica
- Fraqueza e fadiga devido à anemia
- Perda de peso não intencional
- Confusão mental, sede excessiva e constipação devido ao aumento dos níveis de cálcio no sangue
- Problemas nos rins
- Infecções causadas por imunoglobulinas não-funcionais.
As células plasmáticas também podem se acumular em tumorações de qualquer localização. Estas massas são chamadas de plasmocitomas extramedulares.
Diagnóstico
Diagnóstico do mieloma múltiplo
Na maioria das vezes, os exames para mieloma múltiplo começam a ser feitos depois de testes sanguíneos anormais em alguém com ou sem sintomas da doença. Algumas pistas podem apontar para o quadro em exames de rotina. Veja:
- Cálcio elevado no sangue (hipercalcemia)
- Anemia (baixa contagem de glóbulos vermelhos)
- Creatinina elevada (função renal)
- Níveis de proteína elevados no sangue, combinada com um nível baixo de albumina
Quando há suspeita de mieloma múltiplo, exames que avaliam sangue, urina e ossos podem fechar o diagnóstico.
No laboratório, os exames de sangue e urina para iniciar a comprovação de um mieloma múltiplo são:
- Eletroforese de proteínas séricas
- Imunoeletroforese
- Eletroforese de proteínas na urina
- Imunoeletroforese urinária.
Resultados anormais nesses exames podem fazer a equipe médica recomendar uma biópsia de medula óssea ou um mielograma. A avaliação medular é um passo necessário para o diagnóstico. Uma agulha é inserida num osso, geralmente no quadril, e uma amostra de medula óssea é extraída. Um diagnóstico de mieloma múltiplo é feito quando a biópsia ou o mielograma revelam um número anormalmente elevado de plasmócitos na medula óssea.
Os exames de imagem também podem ajudar os médicos a fazer um diagnóstico e medir a sua propagação. Um raio X de todo o esqueleto pode identificar pontos de ossos enfraquecidos pelo mieloma múltiplo. Em algumas pessoas, tomografia computadorizada, ressonância magnética ou PET-CT podem ser necessários para encontrar o envolvimento ósseo deste quadro.
O diagnóstico do mieloma múltiplo requer pelo menos uma das opções:
- Um tumor de células plasmáticas - plasmocitomas (comprovado por biópsia).
- 10% ou mais das células da medula óssea sejam plasmócitos.
E pelo menos um dos seguintes achados:
- Proteína monoclonal no sangue
- Proteína monoclonal na urina
- Lesões nos ossos devido ao crescimento do tumor, detectados nos exames de imagem
- Insuficiência renal
- Anemia sem outra etiologia.
Mieloma Assintomático ou Latente
O termo é usado para o mieloma em estágio inicial, que não está causando nenhum sintoma ou problema. As pessoas com mieloma latente apresentam hemogramas normais, níveis normais de cálcio, função renal normal, sem danos aparente nos ossos, rins ou outros órgãos.
Fatores de risco
Alguns fatores de risco podem ligeiramente aumentar as chances de uma pessoa desenvolver mieloma múltiplo. Veja:
- Ter mais de 65 anos
- Ser do sexo masculino
-
Ter um membro da família afetado por este tipo de câncer.
Certas condições também pode favorecer o aparecimento do mieloma múltiplo:
- Gamopatia monoclonal de significado indeterminado (GMSI): uma alteração na produção de proteína pelos plasmócitos sem outras características de mieloma
- Um plasmocitoma (o tumor de células plasmáticas) solitário.
Apesar de não causarem o quadro, as duas condições acima podem ser as primeiras manifestações de mieloma múltiplo.
Buscando ajuda médica
Marque uma consulta médica se desenvolver sintomas de mieloma múltiplo mais comuns, tais como fraqueza, fadiga e dor óssea. Se os testes iniciais sugerirem que você pode ter esta doença, você provavelmente vai ser encaminhado para um especialista. Os médicos que podem diagnosticar mieloma múltiplo são:
- Oncologista
- Hematologista
Saiba mais: 11 atitudes que facilitam a consulta médica
Tratamento
Tratamentos para mieloma múltiplo
O tratamento do mieloma múltiplo não cura a doença, mas permite que a pessoa tenha qualidade de vida e saúde. O tratamento pode ajudar a aliviar os sintomas, evitar complicações e retardar o progresso da doença e ajuda principalmente pessoas que já têm sinais de danos nos órgãos e sintomas como anemia, alta taxa de cálcio no sangue, alterações da função renal ou lesões ósseas.
Medicamentos para mieloma múltiplo
Opções de remédios para mieloma múltiplo incluem:
- Medicações imunomoduladoras, que aumentam a resposta do sistema imunológico, como a talidomida e a lenalidomida
- Anticorpos monoclonais, que ajudam o sistema imunológico a reconhecer as células doentes e a agir. É o caso do daratumumabe
- Inibidores da proteassoma, que atacam as células doentes sem atingir as saudáveis, como o carfilzomibe e o bortezomibe
- Corticosteroides, como a prednisona e dexametasona, que ajudam a diminuir sintomas
- Antibióticos, que tratam infecções, mais frequentes com a supressão das defesas naturais do corpo.
Estas medicações podem ser combinadas de diferentes formas a depender da abordagem medicamentosa escolhida pelo médico. Elas podem ainda ser administradas juntamente com outras opções terapêuticas, como:
Transplante de células-tronco (transplante autólogo)
Este tratamento é feito com o uso de altas doses de quimioterapia juntamente com a transfusão de células-tronco para substituir a medula doente ou danificada. O transplante de escolha é o transplante autólogo de células hematopoiéticas, no qual o doador é o próprio paciente. O transplante alogênico (doador diferente do paciente) é reservado para casos especiais de retorno da doença.
Quando o paciente é considerado um candidato para o transplante de células-tronco, o tratamento inicial provavelmente vai excluir o melfalano, uma vez que essa droga pode ter um efeito tóxico sobre as células-tronco.
As células-tronco costumam ser colhidas após três a quatro meses de tratamento com agentes iniciais. É possível submeter-se ao transplante de células-tronco logo após as células serem coletadas. Podem ser coletadas células suficientes para um eventual segundo transplante autólogo, na ocorrência de uma recaída. A idade e a preferência pessoal são fatores importantes na determinação de quando fazer o transplante.
Após o transplante de células-tronco, é possível começar um novo curso de tratamento com uma combinação de drogas que inclui bortezomib e talidomida (ou lenalidomida).
Quem não é considerado um candidato para o transplante de células-tronco pode seguir com uma terapia inicial com combinação de diferentes medicações.
Radioterapia
Este tipo de tratamento costuma ser utilizado principalmente no tratamento de lesões sólidas, os plasmocitomas, e caso haja dor óssea.
Quimioterapia
A quimioterapia inicial usada para tratar o mieloma múltiplo depende se o paciente é considerado um candidato para o transplante de células-tronco e do perfil de risco individual. Como mencionado, fatores como o risco de a doença progredir, idade e saúde geral desempenham um papel na determinação se o transplante de células-tronco está indicado.
Este tratamento é administrado por via oral ou intravenosa e geralmente é feito em ciclos ao longo de um período de meses, seguindo-se um período de repouso. Quimioterápicos comuns usados no tratamento do mieloma são: melfalano, ciclofosfamida, vincristina, doxorrubicina e doxorrubicina lipossomal.
Saiba mais: Quimioterapia: como reduzir o risco de infecções?
Mieloma múltiplo resistente ao tratamento ou recidivo
Algumas pessoas tratadas para o mieloma múltiplo podem, eventualmente, ter um retorno da doença. E, em alguns casos, a primeira linha de tratamento pode não funcionar como esperado.
Nesses casos, o médico pode recomendar repetir o tratamento que inicialmente ajudou. Outra opção é tentar outros tratamentos normalmente utilizados como terapia de resgate, quer seja isoladamente ou em combinação.
Tratamento de complicações do mieloma múltiplo
Como o mieloma múltiplo pode causar diferentes complicações, também pode ser necessário tratar condições específicas. Por exemplo:
- Usar órteses, fazer fisioterapia ou tomar medicação para dor nas costas
- Diálise para tratar complicações renais
- Antibióticos para ajudar a reduzir o risco de ou tratar infecções
- Tomar medicamentos denominados bifosfonatos para prevenir a perda óssea
- Medicamentos para tratar anemia.
Tratamento alternativo
Apesar de não haver comprovação científica da eficácia destas terapias para o tratamento do mieloma múltiplo, as seguintes abordagens podem ajudar a melhorar a qualidade de vida:
- Técnicas de relaxamento, como meditação, yoga e tai chi chuan
- Massagem terapêutica
- Acupuntura
- Biofeedback
- Aromaterapia
Converse com seu médico antes de tentar qualquer uma destas técnicas para se certificar de que eles não representam nenhum risco para você.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de mieloma múltiplo são:
- Ceftriaxona Dissódica
- Ceftriaxona Sódica
- Prednisona
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Tem cura?
A sobrevivência em pessoas com mieloma múltiplo depende da idade e do estágio da doença. Alguns casos são muito agressivos, enquanto outros demoram anos para se desenvolver. A quimioterapia e os transplantes raramente levam a uma cura permanente.
Prevenção
Infelizmente, o mieloma múltiplo não pode ser prevenido. No entanto, um diagnóstico precoce pode ajudar a prevenir complicações causadas pela doença.
Convivendo (Prognóstico)
As dicas a seguir podem ajudar você a manter o mieloma múltiplo sob controle:
- Pratique exercícios para manter os ossos fortes
- Beba líquidos, para manter-se hidratado e ajudar na prevenção de danos renais
- Mantenha uma dieta equilibrada, conforme orientado pelo médico.
Complicações possíveis
- Insuficiência renal
- Fraturas ósseas
- Altos níveis de cálcio no sangue, que podem ser muito perigosos
- Maior probabilidade de infecção (principalmente pneumonia)
- Paralisia por tumor ou compressão da medula espinhal.
Referências
Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia
International Myeloma Foundation