Doutor em cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, tem título de especialista e...
iO estudo PURE é um dos maiores desse tipo, um registro mundial sobre os hábitos dietéticos da população mundial. Há cerca de um mês foi publicado artigo em revista de nutrologia sobre os benefícios cardiovasculares do consumo de queijo, uma meta analise.
O que ambos têm em comum? São estudos formadores de hipótese. E isso precisa ser explicado muito claramente, pois eles não podem mudar a vida de ninguém. Não nesse momento.
O estudo PURE mostrou algumas coisas que nós já imaginávamos, como pessoas com maior consumo de frutas e verduras (400g por dia) vivem mais. Verduras cruas tiveram melhor performance que cozidos (exceto na Asia, por razoes desconhecidas). Quem faz mais exercício vive mais. E uma bomba: dietas ricas em gordura foram melhores que dietas ricas em carboidrato. E quem trocou entre os extremos (gordura ou carboidrato) teve melhor performance indo para gordura que saindo dela.
A dieta no Brasil já é bem rica em gorduras. E esse resultado não quer dizer que devemos trocar carboidratos por gordura, mas levanta essa hipótese. O melhor jeito de provar que isso esta certo seria pegar gêmeos e pedir que um só coma gordura e outro só carboidratos. Na falta de gêmeos, poderíamos buscar pessoa parecidas (mesma altura, mesmo peso, funções parecidas) e escolher qual item da dieta queremos testar.
Sobre o estudo dos queijos, também observacional: Qual queijo é bom? Qual quantidade? Queijo cottage é queijo? Os pesquisadores juntaram vários estudos de vários países com vários queijos diferentes e quem comia queijo viveu mais. Assim como o vinho em alguns trabalhos.
O problema destes estudos (e são ótimos estudos, feitos por pessoas muito competentes) é que não conseguimos ajustar todas as variáveis. Imaginem o cenário do queijo. Vamos dizer que quem comeu queijo morava na orla, padrão de vida alto, com acesso aos melhores hospitais e médicos e quem não comeu queijo morava em uma zona de extrema pobreza, onde a violência mata mais que em muitas guerras? Ainda assim podemos dizer que o queijo salvou vidas?
Na ausência de evidencia de estudos randomizados (estes que conseguimos desde o começo colocar pessoas parecidas, uma de um lado e seu par de outro), podemos aceitar estes como alternativas, mas com bom senso e crítica. Um exemplo é o para quedas. Na revista BMJ (British Medical Journal) foi feito um editorial explicando que nem toda a evidencia deve vir dos estudos. Por exemplo, não existem estudos que provem que usar paraquedas funcione. Isso porque ninguém testou pular sem e com um numero suficiente de vezes para que os estatísticos fiquem satisfeitos. Apesar de absurdo, tecnicamente seria verdade. Mas o bom senso preza que ninguém pule de um avião sem ele.
Estas noticias são ótimas, mas antes de trocarmos todo o nosso estilo de vida, vale uma analise individualizada da pessoa, e tentar na medida do possível usar estudos que forneçam o máximo de segurança e confiabilidade para melhorar a sobrevida (e a qualidade de vida, por que não?).