O que são microplásticos?
Microplásticos são, como o nome diz, partículas muito pequenas de plástico; menores do que 5 milímetros - menores do que um grão de arroz. Mas mesmo tendo medidas tão diminutas, o microplástico é considerado um dos principais poluentes dos oceanos.
Segundo Luís Fernando Amato, pesquisador da USP, os microplásticos podem ser classificados de duas formas:
- Primário: já são fabricados em tamanho milimétrico (como os que são utilizados em esfoliantes)
- Secundário: plásticos que são dispostos incorretamente no meio ambiente e que passam a sofrer ação do sol, chuva, atrito, atividades biológicas etc. Em decorrência disso, o plástico normal que está no meio ambiente começa a ser fragmentado em tamanho cada vez menor, pois essas condições começam a deixar a estrutura do material cada vez mais fraca
O tipo de microplástico que atualmente mais afeta negativamente a natureza é o secundário. Amato explica que "uma vez que ele está no meio ambiente, pode absorver outros poluentes, funcionando como uma espécie de vetor de outros contaminantes, sendo mais maléfico que o plástico normal".
Além de poluir e contaminar o meio ambiente, o microplástico é o "lugar perfeito" para bactérias que criam um filme bacteriano na superfície da partícula de plástico. Essas bactérias podem ser patogênicas e, uma vez ingeridas ou inaladas, podem afetar a saúde de diversos animais, especialmente dos marinhos.
Segundo o pesquisador, já se verificou a presença de processos inflamatórios sistêmicos causados por microplásticos nestes seres vivos. Eles também afetam a reprodução e o aumento da mortalidade de algumas espécies.
Assim como o ambiente marinho, o terrestre sofre os impactos das pequenas partículas de plástico: "um dos subprodutos do tratamento da água é um lodo muito usado como adubo em agricultura. O material leva o microplástico que estava nos oceanos para a terra e, consequentemente, para a produção de alimentos e para minhocas, essenciais na agricultura, mas que acabam morrendo por ingerirem as partículas de microplásticos".
Como os microplásticos afetam a saúde humana?
O microplástico secundário pode ser ingerido ou inalado pelos seres humanos. As partículas estão no ar das cidades, tanto em ambientes internos como externos.
Amato explica que, no ar, o microplástico tem formato de fibra, o que está muito relacionado à fibra têxtil de qualquer roupa que utilize material polimérico, considerado microplástico. Através do atrito da roupa no corpo causado pela locomoção, fibras do tecido se soltam no ar. Assim, há possibilidade de respirarmos essas partículas.
O tamanho do microplástico irá determinar se ele vai para as regiões mais profundas do pulmão ou se ficará na região do nariz, nas vias aéreas superiores. "Vem sendo observado que grande parte dessas partículas são relativamente grandes, então se você inala ela acaba ficando retida no nariz, mas existe a possibilidade delas pararem no pulmão", explica Amato.
Porém, ainda não existem respostas claras sobre os efeitos dessas partículas a longo prazo ou sobre o impacto causado no corpo humano. Há um estudo que confirmou a presença de microplástico na placenta humana de fetos que ainda não haviam nascido. O impacto que isso causará ainda é desconhecido, mas cientistas pensam que os efeitos podem ser de longo prazo.
Outro estudo foi apresentado em 2018 em um congresso de gastroenterologia realizado em Viena (Áustria); nele, pesquisadores da Universidade Médica de Viena e da agência estadual do meio ambiente do país coletaram amostras das fezes de oito voluntários que durante uma semana tiveram que anotar tudo aquilo que ingeriam e em que condições compravam sua comida, fresca ou embalada.
Foram identificados 20 microplásticos para cada 10 gramas de matéria fecal. A pesquisa não conseguiu determinar a origem das pequenas partículas, nem seu efeito na saúde dos voluntários, mas a descoberta em si já é chocante.
Como o microplástico vai para o meio ambiente?
O microplástico está na terra, mares e ar. Confira alguns meios pelos quais as partículas são depositadas no meio ambiente.
- Descarte errado de materiais plásticos
- Atrito da roupa no corpo
- Lavagem de roupa
- Cosméticos
- Tintas látex e acrílicas
Como atenuar seus efeitos?
"A produção de plástico aumenta a cada ano e continuamos dispondo desse material de forma incorreta e não eficiente. As evidências dos malefícios do microplástico nos animais e meio ambiente existem, então a tendência é a de esses efeitos aumentarem caso ações não sejam tomadas".
Algumas ações podem ajudar a diminuir a quantidade de microplásticos na natureza:
- Diminuir o consumo de plástico, fazendo a troca por materiais mais sustentáveis
- Pesquisar alternativas sustentáveis
- Reciclar o lixo
- Aumentar investimentos em pesquisas sobre plásticos biodegradáveis