
Bacharel em Psicologia pela UFF (Universidade Federal Fluminense) e pós-graduanda em Prática Baseada em Evidências Cient...
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Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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Se você conhece pessoas com mais de 30 anos que ainda não têm um relacionamento ou filhos, provavelmente já ouviu delas a frase: “não quero envelhecer sozinho”. Embora muitas vezes dita em tom de brincadeira, ela carrega uma preocupação real — e bastante humana: o medo da solidão na terceira idade.
Esse receio, tão comum e silencioso, vai além da preocupação de se sentir só — ele também envolve questões mais profundas, como vínculos, pertencimento, autonomia e até propósito de vida. Mas de onde vem esse medo que se intensifica conforme os anos passam?
A psicologia tem algumas respostas — e entender melhor essas raízes pode ser o primeiro passo para encarar o assunto com mais leveza.
O que é o medo de envelhecer sozinho, de acordo com a psicologia
O medo de envelhecer sozinho não se resume à preocupação com a falta de companhia — ele também está ligado a questões emocionais, sociais e culturais que vamos acumulando ao longo da vida. Segundo a psicóloga Rebeca Carletto, esse receio tem origens complexas e múltiplas, e costuma se intensificar à medida que a idade avança ou diante de mudanças importantes na rotina, como:
- Alterações na vida social — seja pela aposentadoria, pela saída dos filhos de casa ou pela perda de cônjuge e amigos;
- Experiências anteriores de abandono ou negligência ao longo da vida;
- Crenças negativas sobre o envelhecimento, como a ideia de que a pessoa idosa se torna “invisível” ou de que “velho não serve mais”;
- Medo da dependência e da perda de autonomia, com a sensação de perder valor social e afetivo.
Como a solidão pode afetar a saúde mental e física dos idosos?
Solidão não é apenas uma tristeza passageira — especialmente na velhice, ela pode se tornar um fator de risco real para a saúde. De acordo com Rebeca, estar socialmente isolado ou se sentir desconectado dos outros traz efeitos que vão além do emocional.
“A solidão está associada ao aumento de casos de depressão, ansiedade, distúrbios do sono, queda da imunidade, doenças cardíacas e até demência”, alerta a especialista. Isso acontece porque o bem-estar emocional está intimamente ligado à saúde do corpo. Quando uma pessoa idosa se sente sozinha por longos períodos, o organismo passa a reagir como se estivesse constantemente sob estresse, o que enfraquece suas defesas naturais e compromete o funcionamento geral do corpo e da mente.
Além disso, o impacto da solidão pode ser agravado por mudanças típicas dessa fase da vida: “A perda de vínculos, as limitações físicas e as mudanças na rotina podem contribuir para um sentimento profundo de vazio e perda de propósito”, explica Rebeca.
Essas sensações, quando não acolhidas, podem se acumular e abrir espaço para o surgimento de transtornos mentais ou agravar condições já existentes. Por isso, promover conexões sociais, manter uma rotina ativa (dentro das possibilidades de cada um) e buscar ajuda profissional, quando necessário, são passos essenciais para garantir mais saúde e qualidade de vida na velhice.
“Ter com quem conversar, sentir-se útil, fazer parte de um grupo ou ter um projeto pessoal pode fazer toda a diferença para um idoso. O afeto e o sentimento de pertencimento também são formas de cuidado com a saúde”, conclui a psicóloga.
O que fazer para lidar com esse medo e ter uma velhice mais tranquila?
Viver a terceira idade de forma mais tranquila não significa ignorar os medos que ela traz, mas aprender a lidar com eles de maneira consciente. Rebeca explica que esse processo começa com um passo fundamental: encarar essa nova fase de frente.
“O enfrentamento dessa etapa é uma ferramenta importante. Aceitar as mudanças no corpo, na rotina e na mente permite agir no presente, em vez de apenas lamentar o passado”, explica a psicóloga. Em outras palavras, acolher a realidade da maturidade é o primeiro passo para transformar o medo em ação e, aos poucos, em tranquilidade.
Buscar novos interesses — ou até resgatar antigos hobbies que ficaram esquecidos com a correria da vida adulta — também pode fazer diferença. “Envolver-se em atividades em grupo, fortalecer vínculos e participar de projetos com propósito ajuda a manter a sensação de utilidade e pertencimento”, orienta a psicóloga. Atitudes como essas fortalecem a autoestima e ampliam a rede de apoio, criando conexões verdadeiras que afastam a solidão.
A psicoterapia, segundo Rebeca, é um dos espaços mais potentes para ressignificar essa fase da vida. “Na terapia, é possível reconstruir a autoimagem e reconhecer que ainda é possível oferecer, receber e desfrutar afeto. Isso é essencial para quem sente que perdeu o lugar no mundo”, afirma.
Outro ponto importante é cuidar da autonomia enquanto ela existe. Isso inclui desde um bom planejamento financeiro até práticas de autocuidado físico e emocional. “Fortalecer a autoestima e se preparar para o futuro contribui para uma sensação maior de segurança”, diz a especialista.
E, por fim, é preciso fazer as pazes com a própria companhia. “Treinar a autorregulação emocional e aprender a lidar com a solitude é um exercício valioso. A solidão pode machucar, mas a solitude, quando acolhida com consciência e afeto, pode ser curativa”, destaca Rebeca.
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