Médica do sono e neurologista. Possui experiência no tratamento de transtornos do sono (insônia, apneia, ronco, perna in...
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Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF//MG) em 2002. Residência Médica em Neurologia pela...
iO que é AVC isquêmico?
O AVC isquêmico, também chamado de acidente vascular cerebral isquêmico, ocorre quando há uma obstrução da artéria, impedindo a passagem de oxigênio para as células cerebrais — ocasionando em sua morte. A diferença entre AVC isquêmico e AVC hemorrágico é que o segundo decorre do rompimento de um vaso e não de seu entupimento.
A obstrução da artéria pode acontecer por um trombo, que é um coágulo de sangue que se forma na parede do vaso sanguíneo; ou por um êmbolo, que nada mais é do que um trombo que se desloca pela corrente sanguínea até ficar preso em um vaso sanguíneo menor que sua extensão.
Causas
A principal causa do AVC isquêmico é a obstrução de uma artéria que supre sangue para o cérebro. Consequentemente, as células cerebrais ficam privadas de sangue e podem morrer. A obstrução pode acontecer devido a um coágulo, situação mais comum de AVC isquêmico em idosos, ou por estreitamento do vaso, normalmente relacionado à pressão alta ou aterosclerose.
Tipos
Os tipos de AVC isquêmico são:
- AVC isquêmico lacunar: ocorre quando um trombo é formado em um pequeno vaso devido a uma inflamação chamada lipo-hialinólise. É comum em pessoas que têm fatores de risco vasculares, como hipertensão
- AVC isquêmico aterotrombótico: a principal causa é a aterosclerose, doença que causa a formação de placas nos vasos sanguíneos maiores, levando à oclusão do vaso ou à formação de êmbolos. É ocasionado, assim como no lacunar, pela presença de fatores de risco vasculares
- AVC isquêmico cardioembólico: ocorre quando o êmbolo causador do derrame parte do coração, no geral decorrente de doenças cardiovasculares, citadas abaixo
- AVC isquêmico de outra etiologia: é mais comum em indivíduos jovens, podendo estar relacionado a distúrbio de coagulação do sangue, doença que deixa o sangue mais espesso, à inflamação dentro do vaso sanguíneo (vasculite) e à fragilidade da parede dos vasos que levam sangue ao cérebro (dissecção)
- AVC isquêmico criptogênico: acontece quando a causa do AVC isquêmico não foi determinada mesmo após uma investigação extensa
- AVC isquêmico transitório: é aquele causado por um coágulo muito pequeno, mas que foi empurrado pela circulação sanguínea e deixou de obstruir o vaso. Nesses casos, os sintomas podem melhorar em alguns minutos e os exames podem não apresentar qualquer tipo de alteração no cérebro
Saiba mais: Mudanças no estilo de vida diminuem o risco de AVC
Sintomas
Sintomas de AVC isquêmico
Os sintomas do AVC isquêmico se caracterizam por uma perda neurológica súbita, tais como:
- Perda de força súbita de um dos lados do corpo, geralmente braço e perna
- Paralisia facial, quando a pessoa há assimetria do sorriso
- Sintomas sensitivos, como dormência de uma lado do corpo
- Alteração da fala. A pessoa pode ter dificuldade de conseguir entender o que as pessoas falam ou conseguir dizer o que está pensando
- Alterações visuais, como perder uma parte ou totalmente o campo visual
- Tontura, levando a desequilíbrio e queda
Diagnóstico
O diagnóstico de AVC isquêmico é feito durante a internação do paciente através de alguns exames, sendo eles:
- Tomografia computadorizada
- Ressonância magnética
- Angiografia
- Ultrassonografia
- Ecocardiograma
Fatores de risco
Os principais fatores de risco do AVC isquêmico são:
- Hipertensão
- Colesterol alto
- Obesidade
- Diabetes tipo 2
- Uso de drogas ilícitas, como cocaína
- Tabagismo
- Uso excessivo de álcool
- Idade avançada
- Arritmias cardíacas, como fibrilação atrial
- Doenças das válvulas cardíacas, como prolapso da válvula mitral ou estenose de válvula cardíaca
- Endocardite, que é a infecção das valvas do coração
- Forame oval patente, que é um defeito cardíaco congênito
- Insuficiência cardíaca
- Infarto agudo do miocárdio
Buscando ajuda médica
Na presença de qualquer um dos sintomas de AVC isquêmico, é importante ir a um pronto-socorro imediatamente Isso porque, quanto mais rápido se dá o tratamento, menores são as sequelas decorrentes do AVC isquêmico.
O ideal é chamar o resgate para refazer a remoção do paciente, uma vez que podem ser iniciados alguns procedimentos ainda na ambulância — como oxigenação. Também é importante ter preferência por hospitais que são conhecidamente preparados para receber um paciente em situações agudas do AVC.
Tratamento
Tratamento de AVC isquêmico
O tratamento de AVC isquêmico é feito nos Centros de Atendimento de Urgência. Na maioria dos casos, é aplicado um medicamento chamado alteplase (rt-PA), até quatro horas e meia após o início dos sintomas. Ele age deixando o sangue mais fino, a fim de dissolver o trombo formado — o que diminui o risco de sequelas do AVC isquêmico e reduz a mortalidade.
Além da medicação, existe um tratamento que pode ser feito até 8 horas após o início do AVC isquêmico, chamado de trombectomia, que consiste na remoção do trombo da artéria, sendo necessário que o hospital tenha um serviço com neurorradio intervencionista.
Após o tratamento de emergência para AVC isquêmico, quando a condição se estabilizou, o tratamento se concentra na prevenção de outro AVC e na reabilitação das sequelas, com fonoterapeura, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional.
Cirurgia para AVC isquêmico
A trombectomia mecânica é uma cirurgia para AVC isquêmico utilizada tratar casos graves da condição. A técnica, que se assemelha ao cateterismo, consiste na remoção do objeto que está causando a obstrução em uma das artérias do cérebro.
Há duas maneiras principais de realizar a retirada do obstáculo. O vaso sanguíneo pode ser aberto por um stent, que incorpora o coágulo e libera a artéria, ou através de um sistema de aspiração.
No início de 2021, o Ministério da Saúde anunciou que o tratamento passará a ser fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entre as recomendações prescritas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), está que a trombectomia mecânica seja feita em pacientes que apresentarem obstrução em vasos largos até 8 horas após o início dos sintomas.
Tem cura?
Sim, o AVC isquêmico tem cura. Existem pacientes que conseguiram se recuperar após o derrame cerebral. De maneira geral, quanto mais rápido o paciente e as pessoas ao seu redor notarem os sintomas do AVC, mais rápido será o atendimento médico e maiores são as chances de recuperação.
Porém, o AVC isquêmico pode matar em alguns casos. Tudo vai depender do quadro e da condição de saúde preexistente do paciente. Em situações mais graves, a recuperação existe, mas podem haver sequelas.
Prevenção
Como evitar um AVC isquêmico?
A prevenção do AVC isquêmico envolve o diagnóstico e o tratamento de doenças preexistentes, como diabetes e hipertensão. Após um quadro de AVC, também é fundamental a adequação dos hábitos de vida para prevenir um novo derrame. Veja o que fazer:
- Não fumar ou não permitir que outros fumem perto de você
- Manter um peso saudável
- Praticar pelo menos 30 minutos de exercícios na maioria dos dias da semana (caminhada é uma boa escolha)
- Manter uma dieta equilibrada, pobre em colesterol, gorduras saturadas, açúcar e sal, conforme orientação profissional
- Controlar a pressão em pacientes hipertensos
- Controlar glicemia em pacientes com diabetes
- Seguir tomando as medicações prescritas pelo médico
Complicações possíveis
Sequelas do AVC isquêmico
Entre as principais sequelas do AVC isquêmico, podemos destacar:
- Déficit motor: ocorre quando a área afetada pelo AVC é aquela responsável pelos movimentos do nosso corpo, sendo o lado esquerdo do cérebro responsável pelos movimentos do lado direito e vice-versa
- Déficit sensitivo: diversas áreas do cérebro estão relacionadas à sensibilidade. Quando há lesão de uma delas a pessoa deixa de sentir um lado do corpo
- Afasia: quando o AVC ocorre na área do cérebro correspondente à linguagem (broca e wernicke), é comum o paciente sofrer com a afasia. Ela pode ser dividida basicamente em dois grandes grupos: afasia de expressão e de compreensão
- Apraxias: o paciente de AVC com apraxia perde a capacidade de se expressar por gestos e mímicas e de realizar tarefas motoras em sequências. Por exemplo: a incapacidade de fazer gestos que tenham um significado pré-definido, como o sinal de silêncio, acenar para dar oi ou levantar o polegar em sinal positivo
- Negligência: decorrente de lesões no hemisfério cerebral não dominande, que na maioria da população é o lado direito. Essa sequela diz respeito a pessoa que negligencia uma parte ou um lado se seu corpo, como se aquele segmento não pertencesse à pessoa
- Agnosia visual: entende-se por agnosia visual a incapacidade da pessoa de reconhecer objetos e pessoas através da visão, apesar de essa não ter sido comprometida. Dependendo do grau da lesão, a pessoa pode inclusive não reconhecer mais rostos
- Déficit de memória: ocorre quando a região temporal do cérebro é afetada. No geral a pessoa perde a capacidade de lembrar eventos recentes, recordando apenas episódios passados;
- Lesões no tronco cerebral: no tronco cerebral estão localizados centros responsáveis por atividades vitais, como a respiração. Lesões nesta região podem deixar sequelas graves e até mesmo levar à morte. Pacientes com esse tipo de sequela podem apresentar também paralisia nos dois lados do corpo, estrabismo e dificuldades para engolir
- Alterações comportamentais: Ocasionados por uma lesão na parte frontal do cérebro, as alterações comportamentais são comuns em vítimas de AVC. O indivíduo geralmente passa por quadros de agitação e quadro de apatia, passando por sintomas como perda de iniciativa ou explosões de raiva sem causa aparente
- Depressão: A doença funciona exatamente como a depressão comum, porém se inicia após o AVC. Os sintomas são iguais aos da depressão comum - tristeza, apatia, sono inadequado, transtornos alimentares, entre outros
- Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT): sintomas que ajudam a identificar o problema são pesadelos persistentes e tendência do paciente a evitar lembranças do evento
Referências
Sociedade Brasileira de Cardiologia
Ministério da Saúde
MSD Manuals