É formada em Medicina pela PUC de Campinas, pós-graduada em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN)...
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O que é Desnutrição?
A desnutrição é um estado patológico causado pela falta de ingestão ou de absorção de nutrientes. O problema pode ser observado com base na aparência, na altura e no peso da pessoa. Em alguns casos, os ossos ficam salientes, a pele fica seca e sem elasticidade e os cabelos caem com facilidade. Entretanto, em alguns casos, a desnutrição também pode ser leve e sem qualquer registro de sintomas, como resultado de uma dieta inadequada.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a desnutrição contribui com mais de um terço das mortes de crianças no mundo, apesar de raramente ser listada como a principal causa. A falta de acesso a alimentos com alto valor nutritivo é apontada como a grande causadora de desnutrição, especialmente em países subdesenvolvidos.
Outros fatores que contribuem para a desnutrição são os hábitos alimentares pobres, como realizar dietas não balanceadas, ingerir alimentos de baixo teor nutritivo e até mesmo a amamentação inadequada de recém-nascidos. Infecções frequentes ou persistentes, como diarreia, pneumonia e malária, também são determinantes para o surgimento da desnutrição.
Causas
As causas da desnutrição dependem do tipo. Entre as causas primárias, está principalmente a dieta inadequada — isto é, ter uma alimentação em quantidade e/ou em qualidade insuficientes de calorias e nutrientes.
Já dentre as causas secundárias, há a ingestão insuficiente de alimentos por fatores externos, que podem demandar um gasto energético maior do corpo ou impedir a pessoa de se alimentar e absorver os nutrientes corretamente. Alguns motivos que podem levar a esse quadro são:
- Presença de verminoses
- Câncer
- Anorexia
- Alergia ou intolerância alimentar
- Síndrome de má absorção
Saiba mais: Como entender a tabela nutricional dos alimentos
O desmame precoce também está entre as causas de desnutrição, uma vez que o leite materno contém nutrientes essenciais que dificilmente são encontrados em quantidades adequadas na alimentação sólida e que são parcialmente supridos com as fórmulas infantis.
Tipos
A desnutrição pode ser classificada como primária, causada pela ingestão inadequada de nutrientes, ou secundária, causada por patologias ou fármacos que interferem no metabolismo dos nutrientes. As desnutrições primárias podem ser divididas em três grupos, conforme o nutriente em falta:
- Marasmo: falta de fontes energéticas (carboidratos e lipídeos), levando à perda de peso significativa, com enfraquecimento do tecido muscular e diminuição da gordura subcutânea
- Kwashiorkor: dieta mais deficiente em proteínas, ocasionando perda de massa magra importante, edema periférico e aumento do volume abdominal
- Inanição: forma mais grave de desnutrição, em que existe a carência total de nutrientes, e pode ser fatal se não for tratada rapidamente
Em geral, os nutrientes com maiores índices de deficiência nos casos de desnutrição são:
- Ferro
- Zinco
- Cálcio
- Vitamina A
- Vitamina E
- Vitamina C
- Ácidos graxos essenciais
- Vitamina D
Desnutrição de Kwashiorkor
A desnutrição de Kwashiorkor é caracterizada pela falta de proteínas na dieta. Esse quadro tem grande incidência em países da África, onde pessoas em condição de vulnerabilidade social se alimentam basicamente de carboidratos. Assim, o organismo obtém energia dos alimentos, mas faltam proteínas e vitaminas essenciais.
O indivíduo que sofre deste tipo de desnutrição apresenta inchaços, principalmente nos pés e tornozelos, além de músculos reduzidos, abdômen proeminente (barriga com aspecto inchado) e cabelos finos, até mesmo com alteração da coloração.
Sinais
Sintomas da desnutrição em adultos
Os principais sintomas da desnutrição em adultos são:
- Perder de 5% a 10% do peso corporal
- Cansaço e falta de energia
- Demora para se recuperar de infecções
- Demora na cicatrização de feridas
- Irritabilidade
- Falta de concentração
- Dificuldades para se manter aquecido
- Diarreia persistente
- Depressão
Sintomas de desnutrição infantil
Os sintomas de desnutrição infantil podem incluir:
- Incapacidade de crescer dentro das taxas esperadas
- Mudanças de comportamento, como sentir irritação, ansiedade ou letargia
- Mudanças na cor dos cabelos e da pele
Obesidade x Desnutrição
A obesidade é uma doença em que há o acúmulo excessivo de gordura corporal e múltiplos fatores causais. Uma alimentação com excesso de calorias e desequilíbrio de nutrientes, somada ao baixo nível de atividade física, é a principal causa do excesso de peso.
No Brasil, assim como em outros países, o alto consumo de alimentos processados pela população resulta em maiores taxas de sobrepeso e obesidade, o que se tornou um grande problema de saúde pública. Porém, mesmo com excesso de peso, é possível estar, ao mesmo tempo, desnutrido, porque a desnutrição é causada pela falta de nutrientes importantes e não, necessariamente, de comida.
Saiba mais: Entenda como a deficiência nutricional interfere em cada fase da vida
Com frequência, crianças obesas ingerem alimentos concentrados em calorias, mas a qualidade e a quantidade de micronutrientes são inapropriadas. Em geral, a deficiência nutricional das crianças com sobrepeso ou obesidade é consequência do hábito alimentar baseado em fast food, salgadinhos e guloseimas, alimentos pobres em nutrientes importantes para o desenvolvimento adequado.
Diagnóstico
O diagnóstico de desnutrição é feito a partir de uma avaliação clínica, em que são observadas as características do paciente, como peso, altura e idade, além de uma completa avaliação do estado nutricional de vitaminas através de exames laboratoriais.
O critério adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2007, classifica os valores de Índice de Massa Corporal (IMC) menores que 3% como desnutrição. O diagnóstico de desnutrição em crianças envolve tomar uma medida do seu peso e altura e, em seguida, comparar com o que seria a altura média esperada e o peso médio esperado para uma criança daquela idade.
Em adultos, é diagnosticada desnutrição quando o IMC está abaixo de 18,5 ou houve perda acidental de 5-10% do peso corporal durante os últimos três a seis meses. Além disso, podem ser feitos exames de sangue para avaliar as concentrações nutricionais, independente dos resultados de IMC.
Exames para diagnosticar desnutrição
Os exames de sangue podem ser utilizados para medir os níveis de proteína no organismo. Níveis protéicos baixos podem sugerir um estado de desnutrição. Esses testes laboratoriais também avaliam as taxas de vitaminas e de outras substâncias que podem estar desreguladas no organismos em decorrência da deficiência nutricional.
Fatores de risco
Os fatores de risco da desnutrição são:
- Famílias de baixa renda, que apresentam um risco maior relacionado a deficiências alimentares.
- Condições sanitárias precárias, pois contribuem para o aparecimento de infecções e parasitoses que resultam em desnutrição, como esquistossomose
- Fatores socioculturais, já que algumas culturas ou religiões realizam dietas restritivas, que podem resultar em poucas calorias ou deficiências nutricionais importantes
- Uso de drogas ilícitas estimulantes, como o crack e a cocaína. Tratam-se de drogas anorexígenas, que provocam a falta de apetite e a aversão aos alimentos, induzindo os usuários a uma dieta pobre em nutrientes ou até mesmo longos períodos sem comer
Buscando ajuda médica
O peso e o crescimento das crianças devem ser acompanhados constantemente por profissionais de saúde. Se você tiver quaisquer preocupações com o desenvolvimento do seu filho ou filha ou você tem alguma condição que pode aumentar o risco de desnutrição, procure ajuda médica. Os especialistas que podem identificar um quadro de desnutrição em crianças e adultos são:
- Clínico geral
- Pediatra
- Nutricionista
- Nutrólogo
- Endocrinologista
Tratamento
O tratamento da desnutrição, na maioria dos casos, consiste em um aumento gradual do número de calorias consumidas. Para isso, é feita a elaboração de uma dieta equilibrada, que deve possibilitar a reposição, a manutenção e a reserva adequada de nutrientes no organismo. Pessoas com digestão difícil de alimentos sólidos podem precisar utilizar suplementos líquidos ou de uma dieta líquida. Ela deve ser montada e acompanhada por um nutricionista ou nutrólogo.
Em alguns casos, a desnutrição é tão grave que exige internação hospitalar. Esses pacientes podem necessitar de ingestão nutritiva por meio de tubos, como a sonda nasogástrica (que liga o nariz ao estômago) e a gastrostomia endoscópica (um tubo cirurgicamente colocado no estômago através do abdômen).
Se um tubo de alimentação não pode ser colocado, a nutrição pode ser feita diretamente na veia. A pessoa também pode necessitar de tratamento adicional para a causa subjacente de sua desnutrição — como infecções.
Cuidados
A educação alimentar tem um papel fundamental durante o tratamento e é essencial em todas as etapas da vida. Como a desnutrição é bastante comum na infância, é fundamental que as pessoas que fazem parte do núcleo de educação e formação das crianças (família, cuidadores e professores) tenham acesso a informações sobre o correto aproveitamento dos alimentos e sobre alimentação saudável.
Saiba mais: É vegetariano ou vegano? Veja como evitar carência de nutrientes importantes
Algumas ações simples no dia a dia também ajudam a aproveitar ao máximo o valor nutritivo dos alimentos, em especial das frutas e verduras, como:
- Frutas e verduras devem ser consumidas bem frescas, pois os nutrientes vão se perdendo com o amadurecimento
- Evite bater esses alimentos no liquidificador para não perder vitaminas e fibras
- Ao cozinhar as verduras, mantenha a tampa da panela fechada
- Não cozinhe demais os alimentos, principalmente os vegetais. Prefira cozinhar no vapor
- Aproveite a água que sobrou do cozimento para preparar outro prato, como sopas, cozidos ou sucos
- Não submeta nenhum alimento a temperaturas altas demais, opte por prepará-los em fogo brando
- Conserve os alimentos de maneira adequada: em geladeira ou em temperatura ambiente, entre 20 e 27°C.
É importante buscar orientação sobre a melhor forma de ter uma dieta equilibrada, considerando a realidade de cada população. Esse tipo de informação é indispensável no tratamento, mas principalmente na prevenção da doença. Em alguns casos, pode ser necessária a suplementação de nutrientes. Porém, somente com exames e com diagnóstico correto é possível determinar quando este tipo de ação é necessário.
Prevenção
Uma dieta equilibrada e saudável é a melhor forma de prevenir a desnutrição. Alimentar-se de frutas, verduras e cereais integrais, bem como de proteínas, ajuda no combate à deficiência nutricional como um todo. Alimentos e bebidas ricos em gordura ou açúcar não são essenciais e só devem ser consumidos em pequenas quantidades. Se você possui alguma condição que aumenta o risco de desnutrição, é importante procurar ajuda médica.
Complicações possíveis
A desnutrição provoca uma série de alterações na composição corporal e no funcionamento do organismo. Quanto mais grave for o caso, maiores e também mais significativas são as consequências. As principais incluem:
- Grande perda muscular e dos depósitos de gordura, provocando debilidade física
- Emagrecimento: peso inferior a 60% ou mais do peso ideal (adultos) ou do peso normal (crianças)
- Para crianças com obesidade, a desnutrição pode dificultar a perda de peso e favorecer ainda mais o ganho de gordura corporal
- Desaceleração, interrupção ou até mesmo involução do crescimento
- Alterações sanguíneas, provocando, dentre elas, a anemia
- Alterações ósseas, como a má formação
- Alterações no sistema nervoso: estímulos nervosos prejudicados, número de neurônios diminuído, depressão, apatia
- Alterações nos demais órgãos e nos sistemas respiratório, imunológico, renal, cardíaco, hepático e intestinal
- A pessoa desnutrida fica mais sujeita a infecções
- Aumento da mortalidade e agravamento de enfermidades
Referências
Manual MSD