
Doutorado em Odontologia; Mestre pela UNIFESP; Professor coordenador de pós graduação em DTM Dor Orofacial

Formada em Jornalismo pela USP e pós-graduanda pela FESPSP. Tento transformar o seu dia a dia com informações de impacto e personagens inspiradores.
iO que é Disfunções temporomandibulares?
As disfunções temporomandibulares (DTM) são resultantes de problemas no maxilar, nas articulações maxilares e nos músculos da mastigação. Outro nome comum para esse quadro é "disfunções da ATM".
A articulação temporomandibular é aquela que liga o maxilar inferior (mandíbula) ao osso temporal do crânio, localizado à frente das orelhas. Essa articulação é flexível, o que permite que você mastigue, fale e morda alimentos. Os músculos dessa articulação e aqueles em torno dela são responsáveis por controlar a posição e os movimentos da mandíbula.
Nos quadros de disfunções temporomandibulares, a pessoa pode sentir dor, ter dificuldade de abrir ou fechar a boca e apresentar zumbidos no ouvido. A DTM pode ser decorrente de problemas musculares, articulares ou consequência de doenças sistêmicas.
Causas
A causa de distúrbios da articulação temporomandibular é multifatorial, na maioria dos casos. Traumas na mandíbula ou conjunta podem desempenhar um papel no desenvolvimento de distúrbios da ATM. Além disso, existem outras condições de saúde que podem contribuir para o desenvolvimento destas patologias. Estes incluem:
- Artrite na articulação temporomandibular
- Danos na articulação causados por impacto ou idade
- Ranger os dentes
- Problemas estruturais presentes no nascimento
- Estresse e tensão muscular
- Hormonais (principalmente em mulheres)
- Ações como roer unhas, mascar chicletes etc
- Má postura
Sintomas
Pessoas com disfunções temporomandibulares podem sentir desconforto devido a uma forte dor, e esse quadro pode ser temporário ou durar muitos anos. A dor e a sensibilidade ocorrem mais comumente nesses lugares:
- Rosto
- Área correspondente à articulação temporomandibular
- Pescoço
- Ombros
- Ao redor da orelha durante a mastigação, ao falar ou ao abrir a boca.
Os sintomas comuns de disfunções temporomandibulares são:
- Capacidade limitada para abrir a boca
- Maxilar “preso” na posição de boca fechada ou aberta
- Sons saindo da articulação ao abrir ou fechar a boca ou ao mastigar. Isso pode ou não ser acompanhado de dor
- Sensação de cansaço no rosto (próximo às orelhas)
- Dificuldade para mastigar ou ter uma mordida que fica desconfortável de maneira repentina - como se os dentes superiores e inferiores não estivessem encaixando corretamente
- Inchaço do lado da face
- Zumbidos nos ouvidos
- Dor de cabeça.
Esses sintomas podem ocorrer em um ou ambos os lados da face.
Outros sintomas comuns da DTM incluem dores de dente, dores de cabeça, tontura, dores de ouvido, problemas de audição e dor no ombro superior.
Diagnóstico
Disfunções temporomandibulares podem ser difíceis de diagnosticar por se tratar de um problema em um lugar bem minucioso de se investigar somente com o exame clínico. Além disso, não existem testes padronizados para diagnosticar estas desordens.
Saiba mais: ATM e diagnóstico
Se você tiver sintomas de uma disfunção temporomandibular será realizado exame físico com verificação de dor à palpação dos músculos responsáveis pela mastigação, desvios na mandíbula ao abrir e fechar a boca, estalos ao movimentar a mandíbula, alterações nos dentes ou na mordida.
Para complementar, podem ser pedidos exames de imagem. Estes incluem:
- Raio-X da mandíbula
- Tomografia computadorizada da mandíbula
- Ressonância magnética da mandíbula.
Fatores de risco
A DTM pode aparecer em pessoas de qualquer idade, mas há uma ocorrência maior em mulheres entre 20 e 40 anos.
São diversos os fatores que podem estar relacionados ao desenvolvimento de distúrbios da ATM, mas ainda não há provas ou estudos conclusivos sobre o tema. De qualquer forma, é bom ficar atento a qualquer alteração, incômodo ou dor em casos de:
- Uso prolongado de aparelhos ortodônticos
- Má postura, que afeta os músculos do pescoço e rosto
- Estresse
- Má alimentação
- Falta de sono,Bruxismo.
Na consulta médica
Especialistas que podem acompanhar as disfunções temporomandibulares são:
- Dentista
- Cirurgião buco-maxilar
- Cirurgião Crânio-Maxilo-Facial.
Estar preparado para a consulta pode facilitar o diagnóstico e otimizar o tempo. Dessa forma, você já pode chegar à consulta com algumas informações:
- Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram
- Histórico médico, incluindo outras condições que você tenha, e uma lista de medicamentos ou suplementos que você tome com regularidade
- Se possível, peça para uma pessoa te acompanhar.
O médico provavelmente fará uma série de perguntas, tais como:
- Quando os sintomas começaram?
- A dor é persistente ou vai e volta?
- Há alguma coisa que você faça que piore os sintomas?
- Há alguma coisa que você faça que melhore os sintomas?
- A sua mandíbula faz algum barulho quando você a movimenta? É doloroso?
- É difícil abrir e fechar a boca normalmente?
- Você passou por algum momento de estresse recentemente?
- Você sente dores de cabeça, nos ombros ou no pescoço?
Também não hesite em fazer perguntas, caso fique com dúvidas no momento da consulta.
Buscando ajuda médica
Marque uma consulta se você tem dor persistente no maxilar ou se você não consegue abrir e fechar a boca completamente.
Tratamento
Em algumas situações, como em casos de trauma agudo ou tensionamento por um estresse momentâneo, os sintomas de DTM podem passar sem tratamento. Todavia, se os sintomas persistirem, o tratamento costuma ser conservador, com o uso de placas ou dispositivos interoclusais - baseando-se sempre nas alterações encontradas no exame físico e nos exames de imagem.
De acordo com João Paulo Colesanti Tanganeli, integrante da Câmara Técnica de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), mais de 90% dos casos apresentam resultado positivo com o tratamento conservador.
Medicamentos
Medicamentos também podem fazer parte do tratamento das disfunções temporomandibulares. Eles ajudam a aliviar as dores causadas pela DTM. Entre os remédios mais usados, temos:
- Analgésicos
- Antidepressivos tricíclicos
- Relaxantes musculares
- Sedativos.
Entretanto, a maioria dos medicamentos necessita de receita médica para serem usados.
Terapias
Tratamentos não-cirúrgicos e não-farmacêuticos incluem:
- Talas orais. Muitas vezes, as pessoas com dor no maxilar podem se beneficiar de um dispositivo, que pode ser macio ou firme, inserido sobre os dentes
- Fisioterapia nos músculos do maxilar
- Terapia psicológica, para pessoas que têm DTM por fatores emocionais, como estresse.
Cirurgias e procedimentos
Quando outros métodos não funcionam, é possível tratar a DTM com procedimentos como:
- Artrocentese: injeção de um fluído para irrigar a articulação mandibular
- Artroscopia: cirurgia realizada com uma câmera para remoção de tecidos inflamados da articulação
- Cirurgia de reparação da articulação - ela só é utilizada quando outros tratamentos não funcionam ou a pessoa tem um problema estrutural na articulação
- Uso de toxina botulínica para promover relaxamento muscular e menor tensão na região articular, aliviando a dor e diminuindo o processo inflamatório
- Ácido hialurônico, aplicado dentro da articulação para diminuir da dor
- Acupuntura para a redução da dor.
Tem cura?
Em alguns casos, a DTM se cura sozinha. Em outros, é preciso seguir um tratamento específico de acordo com o quadro apresentado pelo paciente. E em poucas situações é necessário um procedimento cirúrgico. Tudo vai depender do que está causando as disfunções.
É sempre importante verificar a presença de doenças sistêmicas, como as artrites. Além de acometer outras articulações, essas enfermidades necessitam de abordagens específicas. Apesar de raro, também é possível que apareçam tumores na região. Vale ressaltar que as alterações articulares são crônicas e muitas vezes, irreversíveis, portanto o tratamento no início do problema garante melhores resultados.
Prevenção
Um estilo de vida saudável, com maior controle das situações de estresse, garante menor tensão muscular e, consequentemente, menor desgaste na articulação.
Evite sobrecarga ou esforço intenso na articulação, como ao tentar morder alimentos muito duros, e o hábito de apoiar a mandíbula com as mãos.
Prestar atenção na postura, mantendo a coluna ereta, ajuda a evitar sobrecarga na articulação devido à atividade muscular incorreta proporcionada pela má postura.
Referências
- National Institute of Dental and Craniofacial Research
- American Academy of Otolaryngology.
João Paulo Colesanti Tanganeli, integrante da Câmara Técnica de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) - CRO SP 27786