Docente da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA), especialista em inf...
iRedatora especialista em temas relacionados com bem-estar, família e comportamento.
O que é Febre amarela?
A febre amarela é uma doença infecciosa causada por um vírus e transmitida por mosquitos. Os principais sintomas da febre amarela são febre, dor muscular, náuseas e vômitos, perda de apetite e fraqueza.
Na fase aguda da doença os sintomas costumam durar entre três e quatro dias e passam sozinhos. Apesar de ser considerado um vírus perigoso, a maioria das pessoas não apresentam sintoma e evoluem para a cura.
A doença é considerada aguda e hemorrágica. Recebe este nome por causar amarelidão do corpo (icterícia) e hemorragia em diversos graus. O vírus é tropical e mais comum na América do Sul e na África. No Brasil, sua ocorrência é maior na região Amazônica, mas também pode haver focos da doença em outras localidades do país.
A febre amarela pertence à classificação das arboviroses, tendo várias diferenças entre a dengue e ao Zika vírus, apesar de pertencerem à família dos Flavivírus.
Saiba mais: Saiba tudo sobre a transmissão da dengue
Vacina de febre amarela
Por ser uma doença ainda não controlada no país, o Ministério da Saúde realiza campanhas de vacinação contra febre amarela. De acordo com a pasta, 19 estados do país oferecem doses de rotina (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina).
A vacina para febre amarela é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a forma mais importante de prevenir a febre amarela. É preciso que ao menos 80% da população seja imunizada contra um vírus para prevenir a doença nestas regiões.
Saiba mais: Vacina fracionada protege contra febre amarela em 98% dos casos
Causas
Como a febre amarela é transmitida?
A febre amarela é causada pelo vírus Flavivirus febricis e costuma ser transmitida por mosquitos, principalmente o Aedes aegypti (em áreas urbanas) e o Haemagogus (em áreas rurais).
O mosquito é infectado ao picar uma pessoa ou animais com a doença e então desenvolve a doença e passa a transmiti-la para quem ele picar.
Existem dois ciclos da febre amarela:
- Febre amarela silvestre: mosquitos Haemagogus de áreas com matas se infectam picando primatas com a doença e podem transmitir a um humano que visite este habitat
- Febre amarela urbana: um humano infectado anteriormente pela febre amarela silvestre dá início ao ciclo ao ser picado por um mosquito, o Aedes aegypti, e contamina o inseto. O mosquito, então, pica outro ser humano e o com o vírus e transmite a febre amarela para ele para ele.
É importante compreender que, em ambos os casos, a doença é a mesma. O que diferencia cada uma são os ciclos de transmissão: na silvestre, tudo começa com um primata sendo o hospedeiro e tendo o mosquito Haemagogus como vetor; na urbana, o homem é hospedeiro inicial e o mosquito Aedes aegypti é o vetor. Isso é importante para ajudar nas estratégias para evitar a disseminação da febre amarela.
Com os ciclos em mente, uma pessoa contaminada com o vírus da febre amarela permanece em estado de viremia, ou seja, capaz de transmitir o vírus para mosquitos, por até 7 dias após ter sido picada.
Normalmente o vírus causa sintomas em pessoas que nunca tiveram a doença ou que nunca tomaram a vacina contra febre amarela.
A febre amarela não pode ser transmitida diretamente entre pessoas, apenas através dos mosquitos.
O último caso de febre amarela urbana foi registrado no Brasil em 1942, e todos os casos confirmados desde então decorrem do ciclo silvestre de transmissão.
Macacos podem transmitir febre amarela?
Além do homem, a infecção pelo vírus também pode acometer outros vertebrados. Os macacos podem desenvolver a febre amarela silvestre de forma inaparente, mas ter a quantidade de vírus suficiente para infectar mosquitos. O macaco não transmite a doença para os humanos, assim como uma pessoa não transmite a doença para outra.
Os macacos ajudam a identificar as regiões onde estão acontecendo a circulação do vírus. Com estes dados, o governo distribui estrategicamente as vacinas no território nacional.
Sintomas
Muitos casos da doença são assintomáticos. Porém, naqueles sintomáticos, os principais sintomas de febre amarela são:
- Febre;
- Dores musculares em todo o corpo, principalmente nas costas;
- Dor de cabeça;
- Perda de apetite;
- Náuseas e vômito;
- Olhos, face ou língua avermelhada;
- Fotofobia;
- Fadiga e fraqueza.
Os sintomas nesta fase aguda da doença costumam durar entre três e quatro dias e passam sozinhos.
No entanto, uma pequena porcentagem de pessoas pode desenvolver sintomas mais graves cerca de 24 horas após a recuperação dos sintomas mais simples. Nesta fase, chamada de tóxica, o vírus pode atingir diversos órgãos e sistemas, mas principalmente o fígado e rins. Os sintomas são:
- Retorno da febre alta;
- Icterícia, devido ao dano que o vírus causa no fígado;
- Urina escura;
- Dores abdominais;
- Sangramentos na boca, nariz, olhos ou estômago.
Em casos mais graves o paciente pode apresentar delírios, convulsões e até entrar em coma.
Dependendo do dano causado no organismo, esta fase da febre amarela pode levar a morte no intervalo entre sete e dez dias. Por isso, pessoas que são diagnosticadas com febre amarela devem estar atentas ao aparecimento dos sintomas iniciais e observar se os sintomas mais graves se manifestarem, para busca de ajuda médica.
Vale atentar-se aos sintomas da febre amarela, uma vez que eles podem ser confundidos com malária, leptospirose, hepatite viral e dengue hemorrágica. Já os sintomas de dengue comum também se assemelham, apesar de serem um pouco mais leves.
Diagnóstico
O diagnóstico da febre amarela é feito com base nos sintomas, histórico médico e de exposição a mosquitos possivelmente infectados.
Caso o médico suspeite de febre amarela, existe um exame de sangue que pode detectar a presença do vírus ou de anticorpos que indiquem sua infecção anterior.
Saiba mais: Teste rápido de febre amarela será distribuído pelo SUS
Fatores de risco
Pessoas que nunca entraram em contato com a febre amarela ou nunca se vacinaram contra ela correm o risco de contrair a doença ao viajarem para locais em que a doença é ativa, mesmo que não haja casos recentes reportados nestas regiões.
O risco é maior para as pessoas com mais de 60 anos de idade e qualquer pessoa com imunodeficiência grave devido a HIV/AIDS.
Saiba mais: Veja como se proteger da febre amarela quando for viajar
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar uma febre amarela são:
- Clínico geral;
- Infectologista.
Estar preparado para a consulta pode facilitar o diagnóstico e otimizar o tempo. Dessa forma, você já pode chegar à consulta com algumas informações:
- Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram;
- Histórico médico, incluindo outras condições que o paciente tenha e medicamentos ou suplementos que ele tome com regularidade;
- Se possível, peça para uma pessoa te acompanhar.
Buscando ajuda médica
Pessoas que manifestam sintomas de febre amarela, sejam simples ou mais graves, devem buscar ajuda médica imediata. Esta ajuda serve não apenas para tratamento e observação dos sintomas mais graves, mas também para a vigilância desta doença.
Além disso, se você não vive em uma região endêmica para febre amarela, mas pretende viajar para uma, é importante buscar um médico para tomar a vacina.
Tratamento
Não existe tratamento para febre amarela específico. Normalmente o tratamento visa a melhorar ou aliviar os sintomas da febre amarela e, em casos mais graves, o paciente é direcionado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para reposição do sangue perdido nas hemorragias, diálise para os rins afetados e controle geral das complicações.
Devido ao risco da doença se desenvolver de forma hemorrágica, é importante evitar o uso de aspirina.
Prevenção
Vacinação em áreas endêmicas:
A orientação sobre a dose da vacina contra febre amarela foi atualmente reformulada. Anteriormente, após tomar a vacina pela primeira vez era necessário receber a segunda dose depois de 10 anos.
No entanto, com a nova regra indica que uma pessoa que já tomou a vacina contra febre amarela não precisa se revacinar, mesmo que esta dose tenha sido ministrada há mais de 10 anos. As únicas exceções são para pessoas que tomaram a dose fracionada da vacina e para crianças de 9 meses a 5 anos de idade.
- Crianças, ao completarem 9 meses de vida, devem tomar uma dose;
- Crianças, ao completarem 4 anos de idade, devem tomar a dose de reforço;
-
A partir dos 5 anos de idade: se a pessoa já recebeu uma vacina antes de completar os cinco anos de idade, pode-se dar uma dose de reforço. Se ela nunca foi vacinada, deve tomar uma dose.
No caso de pessoas com mais de 60 anos que nunca foram vacinadas, o médico deve levar em conta os riscos da vacinação, que incluem o risco de eventos adversos nessa faixa etária ou decorrentes de comorbidades.
Controle do Aedes aegypti
A febre amarela urbana também pode ser prevenida pela eliminação do mosquito transmissor, no caso, o Aedes aegypti.
As larvas do Aedes nascem e se criam em água parada. Por isso, evitar esses focos da reprodução desse vetor é a melhor forma de prevenir a febre amarela. Veja como eliminar o risco:
Evite o acúmulo de água: O mosquito coloca seus ovos em água limpa, mas não necessariamente potável. Por isso é importante jogar fora pneus velhos, virar garrafas com a boca para baixo e, caso o quintal seja propenso à formação de poças, realizar a drenagem do terreno. Também é necessário lavar a vasilha de água do bicho de estimação regularmente e manter fechadas tampas de caixas d'água e cisternas.
Coloque areia nos vasos de plantas: O uso de pratos nos vasos de plantas pode gerar acúmulo de água. Há três alternativas: eliminar esse prato, lavá-lo regularmente ou colocar areia. A areia conserva a umidade e ao mesmo tempo evita que e o prato se torne um criadouro de mosquitos.
Coloque desinfetante nos ralos: Ralos pequenos de cozinhas e banheiros raramente tornam-se foco de Aedes devido ao constante uso de produtos químicos, como xampu, sabão e água sanitária. Entretanto, alguns ralos são rasos e conservam água estagnada em seu interior. Nesse caso, o ideal é que ele seja fechado com uma tela ou que seja higienizado com desinfetante regularmente.
Limpe as calhas: Grandes reservatórios, como caixas d'água, são os criadouros mais produtivos de Aedes, mas as larvas do mosquito podem ser encontradas em pequenas quantidades de água também. Para evitar até essas pequenas poças, calhas e canos devem ser checados todos os meses, pois um leve entupimento pode criar reservatórios ideais para o desenvolvimento do Aedes aegypti.
Seja consciente com seu lixo: Não despeje lixo em valas, valetas, margens de córregos e riachos. Assim você garante que eles ficarão desobstruídos, evitando acúmulo e até mesmo enchentes. Em casa, deixe as latas de lixo sempre bem tampadas.
Lagos caseiros e aquários: Assim como as piscinas, a possibilidade de laguinhos caseiros e aquários se tornarem focos de doenças deixou muitas pessoas preocupadas, porém, peixes são grandes predadores de formas aquáticas de mosquitos. O cuidado maior deve ser dado, portanto, às piscinas que não são limpas com frequência.
Uso de inseticidas e larvicidas: Tanto os larvicidas quanto os inseticidas distribuídos aos estados e municípios pela Secretaria de Vigilância em Saúde têm eficácia comprovada, sendo preconizados por um grupo de especialistas da OMS. Os larvicidas, geralmente granulados, servem para matar as larvas do mosquito. Já os inseticidas são líquidos espalhados pelas máquinas de nebulização, que matam os insetos adultos enquanto estão voando
Uso de repelente: O uso de repelentes, principalmente em viagens ou em locais com muitos mosquitos, é um método importante para se proteger contra a as doenças transmitidas pelo Aedes. Recomenda-se, porém, o uso de produtos industrializados.
Os repelentes caseiros, como andiroba, cravo-da-índia, citronela e óleo de soja não possuem grau de repelência forte o suficiente para manter o mosquito longe por muito tempo. Além disso, a duração e a eficácia do produto são temporárias, sendo necessária diversas reaplicações ao longo do dia, o que muitas pessoas não costumam fazer.
Coloque tela nas janelas: Colocar telas em portas e janelas ajuda a proteger sua família contra o mosquito. O problema é quando o criadouro está localizado dentro da residência. Nesse caso, a estratégia não será bem sucedida. Por isso, não se esqueça de que a eliminação dos focos da doença é a maneira mais eficaz de proteção.
Convivendo (Prognóstico)
Pessoas diagnosticadas com a forma mais simples da febre amarela devem manter cuidados básicos como:
- Repouso;
- Reposição de líquidos, principalmente recorrendo ao soro caseiro em casos de vômitos;
- Uso correto dos medicamentos indicados.
Além disso, é importante que estas pessoas não fiquem expostas à mosquitos, ou podem infectá-los com a doença.
Complicações possíveis
A febre amarela resulta em morte de 20 a 50% daqueles que desenvolvem a forma grave da doença. As complicações durante a fase tóxica de uma infecção por febre amarela incluem insuficiência renal e hepática, icterícia, delírio e coma.
As pessoas que sobrevivem à infecção recuperam-se gradualmente ao longo de um período de várias semanas a meses, geralmente sem danos significativos nos órgãos. Durante esse período, uma pessoa pode sentir fadiga e icterícia. Outras complicações incluem infecções bacterianas secundárias, como pneumonia ou infecções sanguíneas.
Saiba mais: Febre Mayaro: sintomas, tratamentos e causas
Referências
Organização Mundial da Saúde.
Ministério da Saúde
Fundação Oswaldo Cruz
Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos
Clínica Mayo, centro de referência em medicina dos Estados Unidos
Dr. Eduardo Finger, clínico médico - CRM 72161/SP