
Pediatra e especialista em nutrição materno-infantil.

Estudante de Jornalismo na Universidade São Judas Tadeu (USJT).
O que é Raquitismo?
O raquitismo é uma doença rara caracterizada pela alteração na mineração óssea, prejudicando a placa de crescimento e as superfícies formadoras de osso devido à deficiência nutricional de vitamina D, cálcio e fósforo.
A condição afeta especialmente o desenvolvimento dos ossos em crianças e pode levar a graves deformidades ósseas. Em adultos, o raquitismo é conhecido como osteomalácia ou ossos moles.
Causas
A causa mais comum de raquitismo é a falta de vitamina D e de cálcio. A vitamina D é obtida em grande parte a partir da exposição da pele à luz solar, mas também é encontrada em alguns alimentos, tais como óleo de peixe e ovos. Já o cálcio é encontrado em alimentos como leite e seus derivados.
“A infância é um dos períodos de maior desenvolvimento e mineralização óssea, deixando as crianças muitos suscetíveis a déficits nutricionais”, esclarece Patrícia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil.
Atualmente, a recomendação de especialistas é a 400 UI de vitamina D até um ano de idade e 600Ui até os dois anos de idade. A suplementação também é indicada para crianças sob aleitamento materno.
Em casos raros, a criança pode nascer com uma forma genética de raquitismo, como é o caso do raquitismo hipofosfatêmico, doença em que os rins e ossos anormalmente não metabolizam o fosfato de forma adequada. Por consequência, resta muito pouco fósforo no sangue, deixando os ossos fracos e moles.
Pode também desenvolver-se a partir de outra condição que afeta o modo como as vitaminas e os minerais são absorvidos pelo organismo, mais frequente em crianças com doenças raras no rim, fígado ou intestino.
Sinais
Deformidades ósseas são características comuns do raquitismo. Os locais principais de deformidade dependem da idade da criança. Alguns sintomas incluem:
- Atraso no crescimento
- Pernas arqueadas
- Pulsos e tornozelos engrossados
- Projeção do esterno
- Convulsão
- Arritmia
- Contratura muscular
- Dor na coluna vertebral, pélvis e pernas
- Fraqueza muscular.
“Em casos graves, conseguimos palpar uma espécie de nódulos nas extremidades dos ossos longos e junções, característicos de uma formação desorganizada das placas ósseas, chamado de rosário raquítico”, aponta Consorte.
Além disso, conforme explica a pediatra, o raquitismo grave também pode levar ao atraso no fechamento da fontanela, conhecida como moleira, e alterações nos ossos cranianos, chamados de craniotabes. “O déficit na absorção de cálcio também leva à diminuição no tônus muscular, levando a maiores atrasos no desenvolvimento”, acrescenta.
Diagnóstico
Durante o exame, os ossos da criança serão examinados e apertados para encontrar anormalidades. Serão analisados os seguintes aspectos:
- Formação dos ossos. Bebês com raquitismo tem ossos mais moles e podem demorar para fechar as fontanelas (pontos fracos do crânio)
- Pernas com curvatura exagerada
- Anormalidades nas costelas e ossos do peito
- Pulsos e tornozelos mais grossos que o normal.
Um raio-X dos ossos afetados pode revelar deformidades ósseas. Também são realizadas radiografias na placa de crescimento de ossos de crescimento rápido, como a ulna distal, metáfises acima e abaixo dos joelhos e tornozelos. Se necessário, o especialista também pode solicitar exames de sangue e urina para confirmar o diagnóstico e também monitorar o progresso do tratamento.
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“A fosfata alcalina, enzima presente no nosso fígado (FA), costuma estar elevada no raquitismo, ajudando no diagnóstico diferencial com outras doenças ósseas e também a guiar o tipo de deficiência nutricional envolvida na doença”, diz Consorte.
Fatores de risco
Os fatores que podem aumentar o risco de uma criança sofrer raquitismo incluem:
- Idade, sendo que bebês de 3 a 36 meses de idade correm maior risco de raquitismo
- Pele escura, pele escura não reage tão fortemente a luz do sol, por isso produz menos vitamina D
- Crianças que vivem em áreas geográficas onde há menos luz do sol estão em maior risco de raquitismo
- Nascimento prematuro
- Medicamentos anticonvulsivos.
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Buscando ajuda médica
É importante buscar ajuda médica se a criança desenvolver dor óssea, fraqueza muscular ou deformidades esqueléticas.
Os especialistas que podem diagnosticar raquitismo são:
- Clínico geral
- Ortopedista
- Pediatra.
Tratamento
O tratamento de raquitismo irá depender da deficiência nutricional. Se ele for causado por insuficiência de vitamina D ou mesmo com cálcio e com fósforo, a reposição desse nutriente é em doses maiores que as habituais, conforme explica Consorte.
Essa reposição pode ser feita das seguintes formas:
- Comer mais alimentos ricos em cálcio e vitamina D
- Tomar suplementos de cálcio e vitamina D diariamente
- Tomar uma injeção de vitamina D a cada ano, mas isso só é necessário se a criança não pode tomar os suplementos por via oral ou tem uma doença intestinal ou do fígado.
A luz solar também contém vitamina D, de modo que é aconselhado aumentar a quantidade de tempo que a criança passa ao sol.
Tratar complicações e condições relacionadas
Quando o raquitismo ocorre como uma complicação de outra condição médica, o tratamento da condição subjacente, muitas vezes, cura o raquitismo. Por exemplo, pessoas que têm doença renal e raquitismo podem precisar de diálise.
Se a criança tem uma deformidade óssea causada por raquitismo, como pernas ou espinha curvada, o especialista pode sugerir um tratamento para corrigi-lo, que pode envolver uma cinta para apoiar a área afetada do corpo para os ossos crescerem no local correto ou a realização de uma operação cirúrgica.
Raquitismo genético
Para o raquitismo hipofosfatêmico, é necessária uma combinação de suplementos de fosfato e uma suplementação especial de vitamina D.
Crianças com outros tipos de raquitismo genético precisam de grandes quantidades de um tipo especial de tratamento com vitamina D.
Prevenção
Há várias etapas que podem ser tomadas para ajudar a prevenir o raquitismo. Essas incluem a garantia de que a criança tenha uma dieta saudável, equilibrada e passe algum tempo no sol.
Dieta
A manutenção de uma rotina alimentar saudável, equilibrada e com abundância de nutrientes e vitaminas essenciais, como cálcio e vitamina D, é primordial para prevenir o raquitismo e outros déficits nutricionais.
Entre as principais fontes de vitamina D, estão:
- Peixes oleosos, tais como salmão, sardinha e cavala
- Ovos
- Cereais matinais fortificados.
Já alimentos fontes de cálcio incluem:
- Produtos lácteos, tais como leite, queijo e iogurte
- Vegetais verdes, como brócolis e couve
- Grãos de soja e tofu
- Nozes
- Sardinhas.
Se a criança tem uma dieta restrita (vegana ou vegetariana, por exemplo), pode não estar recebendo as vitaminas e minerais essenciais, necessitando de suplementação.
Luz solar
Apesar de estar presente em alimentos de origem animal, os alimentos não possuem a quantidade de vitamina D que o organismo necessita. Por isso, para evitar a carência da substância é importante tomar de 15 a 20 minutos de sol ao dia. Braços e pernas devem estar expostos, pois a quantidade de vitamina D que será absorvida é proporcional a quantidade de pele que está exposta.
Ao se expor ao sol para obter a vitamina é importante não passar o filtro solar. Para se ter uma ideia, o protetor fator 8 inibe a retenção de vitamina D em 95% e um fator maior do que isso praticamente zera a produção da substância. Para evitar o câncer de pele, após os 15 a 20 minutos recomendados para obter a vitamina, passe o protetor solar.
As janelas também atrapalham a absorção da vitamina D. Isto porque os raios ultravioletas do tipo B (UVB), capazes de ativar a síntese da vitamina D, não conseguem atravessar os vidros.
Suplementos
A maioria das pessoas pode obter toda a vitamina D de que necessita através de uma dieta saudável e da exposição ao sol. No entanto, certos grupos têm um risco aumentado de desenvolver uma deficiência de vitamina D e podem precisar de tomar suplementos para evitar o raquitismo. Os grupos de risco são:
- Mulheres grávidas e lactantes
- Crianças que tem dificuldade de absorver vitamina D e cálcio
- Idosos
- Pessoas de origem asiática, Africano-Caribe e Oriente Médio
- Pessoas que sempre encobrir toda a sua pele quando estão fora
- Pessoas que não podem ou não são expostas ao sol
- Pessoas que não comem carne ou peixes oleosos.
Complicações possíveis
Se não for tratado, o raquitismo pode trazer complicações graves à criança e prejudicar sua qualidade de vida. Entre as principais complicações, é possível citar:
- Incapacidade de crescimento
- Espinha curvada anormalmente
- Deformidades esqueléticas
- Defeitos dentários
- Convulsões.
Referências
Mayo Clinic
The National Health Service of England
Patricia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil. CRM: 1495.