Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iAs taxas de natalidade estão caindo rapidamente em quase todo o mundo. Ter filhos deixou de ser uma prioridade, enquanto outro tipo de “bebê” ganhou popularidade: os cães. Há cada vez mais filhos peludos pelo mundo — na verdade, elas já ultrapassaram o número de crianças na Espanha, por exemplo. Mas será que os cachorros se tornaram as novas crianças dessa geração?
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A queda nas taxas de natalidade não é culpa dos cães
Ter filhos tornou-se uma tarefa difícil — e, para muitos, até inviável. O acesso das mulheres ao mercado de trabalho melhorou seu bem-estar social e econômico, mas a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional faz com que muitas adiem a maternidade. Soma-se a isso a insegurança financeira, a dificuldade de acesso à moradia e a ausência de outros recursos essenciais para uma parentalidade segura, como a assistência médica em alguns países.
Além disso, a mudança de valores patriarcais para modelos mais inclusivos fez com que a parentalidade deixasse de ser o único caminho possível para a realização pessoal. Por todas essas razões — e muitas outras —, as taxas de natalidade despencaram ao redor do mundo. Mas isso não acontece porque os cães estão substituindo os bebês, e sim porque eles se tornaram uma alternativa mais acessível à experiência de cuidar.
A evolução transformou cães em “crianças peludas”
Eles começaram como aliados na sobrevivência. Eram guardiões, caçadores e protetores do gado. Hoje, não são apenas animais de estimação: são membros da família. Isso é resultado de uma mudança cultural na nossa forma de cuidar. Os seres humanos têm o instinto de proteger e criar vínculos afetivos com seus descendentes. Está no nosso DNA; é uma função biológica. Mas esse impulso agora se estende além da nossa espécie — e chega aos cães.
E por que os cães? A resposta é simples: porque eles se assemelham a crianças em vários aspectos — e isso desperta reações emocionais muito parecidas com as que temos diante de um filho. Desde sua aparência fofa e infantil até sua dependência dos humanos, tudo contribui para o senso de responsabilidade e o fortalecimento do vínculo afetivo.
Não somos só nós que percebemos isso — a neurociência confirma: ao olharmos para nossos amigos peludos, ativamos áreas do cérebro ligadas ao sistema de recompensa, ao apego e à empatia — as mesmas que se ativam quando interagimos com nossos filhos. Além disso, os cães produzem ocitocina ao interagir com seus tutores, o que torna essa conexão emocional recíproca.
Não é um substituto para as crianças — é uma escolha consciente
Um cachorro não é uma criança; é algo diferente — e, por isso mesmo, nunca será um substituto. A relação entre cães e humanos é flexível e em constante transformação: eles podem ser o melhor amigo da criança, um companheiro para os idosos, um apoio emocional para adultos cujos filhos já saíram de casa, uma âncora para quem está em luto, entre outros papéis. No entanto, uma criança sempre será uma criança.
Outra prova de que os animais de estimação não estão aqui para substituir ninguém é que ter um cachorro não impede que alguém tenha filhos. Muitas famílias optam pelos dois. Sim, eles despertam instintos semelhantes — mas isso não significa que sejam equivalentes. Na verdade, para a maioria das pessoas, trata-se de uma decisão consciente, baseada em seu estilo de vida, valores, prioridades e circunstâncias.
Escolhem ter um cão sabendo que ele não é um ser humano, respeitando suas diferenças, limites e necessidades. Ainda assim, essa é uma forma plena e absolutamente válida de expressar afeto e cuidado.