Clínico geral especialista em Medicina Preventiva. Formado pela Escola Paulista de Medicina, na Universidade Federal de...
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O que é Insuficiência renal crônica?
A insuficiência renal crônica (CID 10 - N18), também chamada de doença renal crônica, é uma doença caracterizada pela falência lenta, progressiva e silenciosa da função renal, responsável por filtrar o sangue e eliminar os resíduos nocivos ao organismo, como ureia e amônia.
Como consequência, o problema provoca o acúmulo de líquidos e resíduos no organismo e afeta a maioria dos sistemas e funções do corpo, como a produção de glóbulos vermelhos, o controle da pressão arterial e a quantidade de vitamina D.
O resultado final são múltiplos sintomas decorrentes da incapacidade dos rins de manter a homeostasia interna — o que exige tratamento intensivo com base na evolução da doença.
Causas
A insuficiência renal crônica ocorre quando uma doença ou outra condição de saúde prejudica a função renal, causando danos aos rins — que tendem a agravar-se ao longo de vários meses e até mesmo anos.
De acordo com Carlos Machado, clínico geral especialista em Medicina Preventiva e nefrologista, a hipertensão arterial é uma das principais causas da doença. Além dela, outras doenças e condições associadas ao quadro incluem:
- Diabetes dos tipos 1 e 2
- Glomerulonefrite, que é a inflamação dos glomérulos, unidades funcionais dos rins, onde ocorre a filtragem do sangue
- Nefrite intersticial: uma inflamação que afeta os tubos renais e os tecidos que circundam os rins
- Doença do rim policístico e outras doenças congênitas que afetam os rins
- Obstrução prolongada do trato urinário, que acontece graças a condições específicas, como a hiperplasia prostática, pedras nos rins e alguns tipos de câncer
- Refluxo vesicoureteral
- Infecção renal recorrente, também chamada de pielonefrite
- Doenças autoimunes
- Lesão ou trauma aos rins
- Uso excessivo de analgésicos, anti-inflamatórios e outros medicamentos
- Uso de algumas substâncias químicas tóxicas
- Problemas nas artérias dos rins
- Nefropatia de refluxo
"Metade dos pacientes que entram numa UTI por qualquer quadro grave de cirurgia, de traumatismo, de acidente ou de infecção, complicam com o rim e acabam precisando de hemodiálise. Muitos deles vão depender de acompanhamento especializado com nefrologista para o resto da vida", explica Carlos Machado.
Ademais, evidências apontam uma elevada prevalência de lesões renais em pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI) com a infecção pela COVID-19. Depois dos pulmões, os rins são os órgãos mais frequentemente afetados pela infecção.
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Sinais
A insuficiência renal crônica é uma doença que, à princípio, não apresenta sintomas e pode passar despercebida até estágios mais avançados. Na verdade, ela pode ser tão lenta que os sintomas não aparecem até que o funcionamento dos rins seja menor que um décimo do normal. Ou seja, quando a pessoa perceber, ela já está com o funcionamento dos rins completamente comprometido.
Todavia, o paciente pode apresentar alguns sinais que são frequentes em outras doenças associada, como a hipertensão e o diabetes. Esses sintomas incluem:
- Mal-estar geral e fadiga
- Coceira generalizada (prurido) e pele seca
- Dores de cabeça
- Perda de peso não intencional
- Perda de apetite
- Náuseas
Quando a doença atinge um estágio mais avançado, o paciente pode apresentar sintomas como:
- Pele anormalmente clara ou escura
- Dor nos ossos
- Sonolência e confusão
- Dificuldade de concentração e raciocínio
- Desnutrição
- Anemia
- Dormência nas mãos, pés e outras áreas do corpo
- Espasmos musculares ou cãibras
- Mau hálito
- Fácil aparição de hematomas, hemorragia ou sangue nas fezes
- Sede excessiva
- Soluços frequentes
- Baixo nível de interesse sexual e impotência
- Interrupção do período menstrual (amenorreia)
- Distúrbios do sono, como insônia, síndrome das pernas irrequietas e apneia noturna
- Inchaço de mãos e pernas (edema)
- Vômitos, normalmente pela manhã
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Diagnóstico
O diagnóstico da insuficiência renal crônica é clínico, realizado a partir de uma avaliação clínica e uma avaliação laboratorial.
A hipertensão está quase sempre presente durante todos os estágios da doença renal, de forma que um exame neurológico pode mostrar sinais de dano nervoso. O médico pode escutar, com a ajuda de um estetoscópio, ruídos anormais no coração ou nos pulmões.
O exame de urina pode, ainda, mostrar proteínas ou outras alterações. Essas alterações podem aparecer de seis meses a dez anos ou mais, antes do aparecimento dos sintomas.
Os exames que verificam o funcionamento dos rins abrangem:
- Níveis de creatinina
- BUN (nitrogênio ureico no sangue)
- Depuração de creatinina
A insuficiência renal crônica altera os resultados de vários exames. Cada paciente necessita verificar os níveis de alguns sais e minerais presentes no sangue regularmente, com a frequência de dois a três meses aproximadamente, com a realização de um hemograma completo e de um exame para checagem de colesterol. Veja as substâncias cujos níveis essa doença costuma prejudicar:
- Potássio
- Sódio
- Albumina
- Fósforo
- Cálcio
- Magnésio
- Eletrólitos
As possíveis causas da insuficiência renal crônica podem ser identificadas em:
- Tomografia computadorizada abdominal
- Ressonância magnética abdominal
- Ultrassom abdominal
- Ultrassom renal
O médico pode, ainda, retirar uma pequena amostra do tecido que reveste os rins para análise laboratorial. Esse teste também pode ajudar a identificar as possíveis causas da insuficiência renal crônica.
Fatores de risco
Os fatores que podem aumentar o risco de uma pessoa desenvolver insuficiência renal crônica incluem:
- Diabetes
- Hipertensão
- Doenças cardíacas
- Fumo
- Obesidade
- Colesterol alto
- Ser afro-americano, nativo-americano ou asiático-americano
- Ter histórico familiar de doença renal
- Ter 65 anos de idade ou mais
Na consulta médica
Marque uma consulta com um nefrologista, que é o médico especialista em rins. No consultório, descreva todos os seus sintomas e procure esclarecer todas as suas dúvidas também. Responda adequadamente às perguntas que o médico poderá lhe fazer. Vejas exemplos:
- Quando os sintomas começaram?
- Seus sintomas são frequentes ou ocasionais?
- Qual a intensidade de seus sintomas?
- Você tomou alguma medida para aliviar os sintomas? Qual? Funcionou?
Buscando ajuda médica
Procure ajuda médica se você apresentar quaisquer sinais ou sintomas de insuficiência renal crônica.
Se você tiver uma condição médica que aumenta o risco de doença renal crônica, o médico deverá fazer monitoramento constante da pressão arterial e da função renal por meio de exames de sangue e de urina, que deverão ser feitos com regularidade, bem como as consultas, que devem obedecer a uma periodicidade.
Tratamento
O tratamento da insuficiência renal crônica irá depender do avanço da doença e, no geral, consiste no controle das doenças subjacentes e fatores contribuintes — como a hipertensão e o diabetes.
Controlar a pressão arterial é um dos principais passos do tratamento para atrasar a maior parte dos danos causados pela insuficiência renal. O objetivo desta fase do tratamento é manter a pressão arterial abaixo de 130/80 mmHg.
Outros tratamentos podem incluir:
- Medicamentos especiais usados para ajudar a impedir que os níveis de fósforo no sangue fiquem muito altos
- Tratamento para anemia, com adição de ferro à dieta, uso de suplementos orais de ferro, injeções intravenosas para suprir a necessidade dessa substância na corrente sanguínea e transfusões de sangue
- Suplementos de cálcio e de vitamina D
Alterações na rotina e nos hábitos diários e alimentares também devem ocorrer. Aliados ao tratamento médico, essas adaptações à atual condição são essenciais para garantir a qualidade de vida do paciente.
Hemodiálise
O momento para começar a hemodiálise depende de diferentes fatores, como os resultados dos exames de laboratório, a gravidade dos sintomas e a disposição do paciente para as sessões.
O paciente deve começar a se preparar para a diálise antes que ela seja efetivamente necessária. A preparação envolve aprender sobre ela e os tipos existentes, além dos procedimentos que devem ser realizados antes das sessões.
Como é a hemodiálise é feita?
A hemodiálise é um procedimento de circulação extracorpórea, uma vez que o sangue do paciente é sugado pela bomba da máquina e circula através de um circuito, que atinge um filtro dialisador. No processo, ocorre a remoção da água e de substâncias impuras, além do controle de teores de nutrientes e ácidos — funções que os rins não são mais capazes de fazer.
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Transplante de rim
O transplante de rim surge como uma das últimas opções para um paciente de insuficiência renal crônica e consiste no implante de um rim saudável no paciente, que passa a exercer as funções de filtração e eliminação de líquidos e toxinas. Nesse processo, o rim transplantado é doado de uma pessoa viva ou falecida.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de insuficiência renal crônica são:
- Aradois
- Bicarbonato de Sódio
- Captopril
- Cloridrato de Dopamina
- Diurix
- Hidroclorotiazida
- Hemax Eritron
- Noripurum EV
Os medicamentos contraindicados para insuficiência renal crônica são:
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Tem cura?
Muitas pessoas somente são diagnosticadas com insuficiência renal crônica quando já perderam grande parte da função dos rins. Não há cura para a doença renal crônica. Quando não tratada, ela normalmente evolui para falência renal terminal, que pode levar à morte. O tratamento durante toda a vida pode ajudar controlar os sintomas da doença renal crônica.
De acordo com Carlos Machado, dependendo da causa da insuficiência renal, é possível reverter apenas parcialmente as lesões causadas nos órgãos.
Prevenção
Para reduzir o risco de insuficiência renal crônica, é importante realizar acompanhamento médico preventivo, a partir de exames de rotina capazes de diagnosticar precocemente a doença.
Além disso, a adoção de alguns hábitos de vida podem ajudar a prevenir o problema, tais como:
- Não faça a ingestão de bebidas alcoólicas
- Faça uso moderado de medicamentos vendidos sem necessidade de prescrição médica em farmácias. O ideal é sempre consultar um médico antes de tomar qualquer tipo de medicação
- Mantenha um peso saudável e pratique exercícios físicos regularmente
- Não fume
- Gerencie suas condições médicas com a ajuda do médico. Se você tem doenças ou condições que aumentam o risco de doença renal, converse com um especialista sobre a melhor forma de controlá-los.
Convivendo (Prognóstico)
Medidas caseiras devem ser tomadas em conjunto com o tratamento médico e que podem ajudar em sua efetividade, como:
- Não fume
- Alimente-se de uma dieta com pouca gordura e colesterol
- Faça exercícios leves e moderados regularmente
- Tome medicamentos para reduzir o colesterol, se for necessário
- Mantenha sua glicemia sob controle
Mudanças na dieta também deverão acontecer, como:
- Limite a ingestão de líquidos
- Seu médico poderá recomendar uma dieta com pouca quantidade de proteína
- Pode ser necessário reduzir o sal, o potássio e outros eletrólitos também
- É importante seguir uma dieta em que você possa obter calorias suficientes, principalmente se estiver perdendo peso
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Complicações possíveis
Se não tratada corretamente, a insuficiência renal crônica pode levar a complicações de saúde graves, como:
- Anemia
- Hemorragia gástrica ou intestinal
- Dor nos ossos, nas articulações e nos músculos
- Alterações da glicemia
- Danos aos nervos de pernas e braços (neuropatia periférica)
- Demência
- Acúmulo de líquido ao redor dos pulmões (derrames pleurais)
- Insuficiência cardíaca congestiva
- Doença arterial coronariana
- Hipertensão
- Pericardite
- Derrame
- Níveis altos de fósforo
- Níveis altos de potássio
- Hipertireoidismo
- Maior risco de infecções
- Lesões ou insuficiência hepática
- Desnutrição
- Abortos espontâneos e infertilidade
- Convulsões
- Debilidade dos ossos e maior risco de fraturas
Referências
Carlos Machado, clínico geral especialista em Medicina Preventiva e nefrologista - CRM/SP 41937 RQE 10659